Congresso

Votação da reforma tributária mostra que cargo não traz fidelidade

Partidos instalados na primeiro escalão do governo, como o União Brasil, não votaram fechados em favor da aprovação da PEC. Mas enquanto algumas legendas resistem ao chamado do Planalto, outras esfregam as mãos e já preparam a adesão

Henrique Lessa
postado em 09/07/2023 03:55
 (crédito: Marina Ramos/Agência Câmara)
(crédito: Marina Ramos/Agência Câmara)

O placar de cada partido na votação da proposta de emenda constitucional da reforma tributária, encerrada na madrugada de sexta-feira, mostra que alguns daqueles que compõem o governo ainda estão longe de pagar, no Congresso, a fatura dos cargos que mantêm no primeiro escalão. Os casos mais críticos têm se verificado na Câmara dos Deputados.

O União Brasil, por exemplo, conta com três nomes alocados na Esplanada dos Ministérios, mas entregou apenas 75% dos votos da bancada na aprovação da PEC. A legenda, que surgiu da fusão do Democratas (antigo PFL) com o PSL — que elegeu Jair Bolsonaro presidente da República, em 2018 —, segue desunida nas votações. O próximo teste do partido é no Senado e uma voto contra o governo é certo — o de Sergio Moro (PR). Os outros dependerão da força de Davi Alcolumbre (AP), responsável pelos afilhados políticos que emplacou no governo.

Já o Republicanos, partido do governador Tarcísio de Freitas (SP) e dos senadores Hamilton Mourão (RS) e Damares Alves (DF) — todos ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) —, entregou 88% dos votos da bancada de 41 deputados pela aprovação da proposta. Controlado pela Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, já foi aliado em outros governos petistas, mas tem sido resistente aos convites do governo para compor a base.

Esta situação, porém, pode mudar, como deu a entender o ministro responsável pela articulação política do governo, Alexandre Padilha, ao anunciar, na sexta-feira, que o Planalto segue aberto a adesões base. Além disso, Macedo tem circulado por Brasília a fim de se reaproximar do governo.

Se o partido do governo, o PT, segunda maior bancada na Câmara, com 68 deputados, garantiu 96% dos votos a favor da reforma — três deputados estavam parlamentares ausentes —, o PL de Bolsonaro colheu a maior derrota da votação. Maior bancada da Casa, com 99 parlamentares, orientou pela rejeição do projeto, mas não obteve a unanimidade.

Mais de 25% da legenda descumpriram a orientação da liderança. No primeiro turno da votação da reforma, foram 20 votos favoráveis — e ainda somou sete abstenções na sessão. Registrou, proporcionalmente, a maior infidelidade e terminou a semana mais fraco.

Para piorar, na reunião da legenda que recebeu Tarcísio, o governador paulista foi hostilizado, inclusive por Bolsonaro — que cobrou dele fidelidade intransigente à causa da oposição e ainda o classificou como "inexperiente" em política. A agressividade dos radicais seguidores do ex-presidente prenuncia o afastamento do Republicanos, que já faz acenos ao governo.

Um dos sinais disso foi o comentário do presidente do partido, deputado Marcos Pereira (SP), sobre a recepção do PL a Tarcísio. "Os episódios de hoje (quinta-feira) não isolam Bolsonaro, porque ele já se isolou e vem se isolando pelo seu próprio comportamento. Entregou a eleição para Lula por causa do comportamento dele", criticou.

 

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