O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu, ontem, em Puerto Iguazú, na Argentina, a presidência rotativa do Mercosul. A posse do brasileiro, 13 anos depois de deixar a liderança do grupo, foi um retorno com um gosto meio amargo com as indicações de afastamento do Uruguai do grupo, apesar do entusiasmo e das promessas de Lula em relação ao fortalecimento do bloco.
O presidente do Uruguai, Lacalle Pou, repetiu o posicionamento de segunda-feira do seu chanceler, Francisco Bustillo, e disse ser favorável à "flexibilização" do grupo por causa do "imobilismo" da aliança em fechar acordos comerciais com outros países e blocos. Pou confirmou que o Uruguai seguirá negociando o acordo bilateral com a China, mas convidou os demais sócios do Mercosul — Brasil, Argentina e Paraguai — a se sentarem à mesa para buscar um denominador comum com o líder chinês Xi Jinping.
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"Se não avançarmos juntos, entendemos a visão de cada um de vocês. A nossa é que façamos juntos. Se não podemos fazer assim, vamos fazer bilateralmente", disse o uruguaio.
As declarações apontam para um ultimato uruguaio, que, ao final da 62ª Cúpula de Chefes de Estado, se negou, novamente, a assinar o comunicado conjunto do Mercosul. A posição do Uruguai não é nova, já é a quarta vez que o país deixa de assinar um documento conjunto. Desde 2021, depois da posse de Lacalle Pou, que é líder da centro-direita do país, o vizinho vem adotando a linha de afastamento dos demais sócios do bloco.
Lula reagiu às declarações do Uruguai reforçando sua confiança na integração regional e voltou a prometer que será fechado o acordo do Mercosul com a União Europeia ainda neste ano. Disse que iria ligar hoje para o líder espanhol, Pedro Sánchez, que assumiu a presidência rotativa da União Europeia no último sábado.
Sem citar o Uruguai, lembrou que os dados indicam um incremento importante no desenvolvimento econômico dos sócios em decorrência da existência do Mercosul ao longo dos últimos 20 anos.
"É normal que a gente reclame, é normal que a gente queira mais, que a gente queira crescer, mas, se pegarmos o que nós crescemos nesses últimos 20 anos em função do Mercosul, é um crescimento extraordinário e excepcional. A gente pode querer mais, a gente pode fazer mais, mas a gente não pode negar que tivemos avanços extraordinários", disse Lula, justificando a importância do grupo enquanto o uruguaio escutava.
Reforçando a unidade, sinalizou o interesse do Brasil, na presidência rotativa, de estudar as solicitações dos demais sócios e ampliar os acordos comerciais do bloco. Lula disse que vai revisar e expandir os acordos feitos com o Canadá, a Coreia do Sul e com Singapura, além de buscar novos tratados com China, Indonésia e Vietnã, além de ampliar as parcerias do Mercosul com os países da América Central e Caribe. Segundo o brasileiro, o bloco terá uma "agenda externa ambiciosa".
Usando a Argentina como exemplo, descartou a possibilidade de um país membro deixar o grupo e ter êxito no seu desenvolvimento comercial. "Eu acredito que não há a menor possibilidade de qualquer saída, nem para um país do tamanho do Brasil, se nós não estivermos juntos. Eu acho muito difícil a gente imaginar que sozinha a Argentina vai sair porque vai negociar, não vai", disse o brasileiro.
Lacalle Pou, por sua vez, disse que o país prefere uma negociação conjunta, mas reclamou que o Uruguai registra o pior saldo na balança comercial dentro do bloco, e falou que a "flexibilização" é uma demanda "do povo" contra o "imobilismo" do Mercosul.
"Muitos governantes (uruguaios) têm falado o mesmo, que é necessário que o Mercosul se flexibilize. Não posso fazer outra coisa que não dizer o que o povo sente, que é a flexibilização, que é abrir-se ao mundo. Não somos bobos. Claro que é melhor negociarmos juntos, se vamos juntos, vamos ser muito mais fortes e teremos condições de negociar, mas o imobilismo é o que nos preocupa", disse o líder uruguaio em seu ultimato ao grupo.
Negociação com UE
Lula reforçou diversas vezes seu compromisso em fechar o acordo entre o bloco econômico e a União Europeia. Mesmo o acordo sendo um dos melhores trunfos do brasileiro para acalmar as tensões internas, não aliviou o tom das críticas às exigências europeias feitas em um documento complementar que estabelece sanções em caso de descumprimento de exigências ambientais.
"O Instrumento Adicional apresentado pela União Europeia em março deste ano é inaceitável. Parceiros estratégicos não negociam com base em desconfiança e ameaça de sanções. É imperativo que o Mercosul apresente uma resposta rápida e contundente", disse Lula, que também reiterou a crítica à exigência europeia de que os países do Mercosul liberalizem as compras estatais. "Não temos interesse em acordos que nos condenem ao eterno papel de exportadores de matéria-primas, minérios e petróleo", acrescentou o presidente.
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