A relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos do 8 de janeiro no Congresso Nacional, Eliziane Gama (PSD-MA), tem denunciado por reiteradas vezes as tentativas de silenciamento que vem sofrendo durante as reuniões do colegiado por parte de seus colegas parlamentares.
Os casos são recorrentes: parlamentares questionam sua atuação, interrompem as falas, desacreditam informações trazidas. Diante do comportamento dos colegas, o incômodo da senadora é claro. Na última oitiva realizada pelo colegiado, em que o coronel Jean Lawand Júnior prestava depoimento, deputados do Partido Liberal interromperam a relatora sucessivas vezes.
Em uma delas, Eliziane questionava o depoente quando o deputado André Fernandes (PL-CE) acusou a senadora de ter informações privilegiadas. Ela rebateu: "Presidente... Presidente, eu não admito ser interrompida". O deputado pediu questão de ordem, e ela seguiu: "Não, não; deixe-me falar".
"Cale sua boca"
Outras interrupções também já ocorreram até por parte de deputados não membros da comissão, como é o caso de Abílio Brunini (PL-MT) e delegado Éder Mauro (PL-PA) — o último, interrompendo aos gritos a senadora durante seus questionamentos a um depoente, sendo necessário a relatora rebater com um sonoro "Cale a sua boca, deputado".
Mas a relatora já sinalizou incômodo até mesmo em relação às atitudes do presidente do colegiado, deputado Arthur Maia (União-BA). Em um dos episódios, durante o depoimento do empresário George Washington de Oliveira, 55 anos, condenado por uma tentativa de atentado ao Aeroporto Internacional de Brasília, discutia-se o direito ao silêncio concedido ao depoente.
A senadora apresentou os argumentos para que o empresário tivesse a obrigação de responder a seus questionamentos desde que não o incriminassem. Minutos depois, o presidente do colegiado leu o mesmo trecho da norma.
Diante da cena, Eliziane pediu respeito. "Eu não admito expor as informações neste Colegiado, ser questionada e, de repente, ser aceita por um homem que vem e fala do seu lado, Presidente. A colocação que V. Exa. acabou de ler foi a que eu coloquei anteriormente. Nós temos decisões que já foram tomadas nesta Casa, referentes à CPI da Pandemia. Eu gostaria, minimamente, de ter o respeito", disse a parlamentar maranhense.
Arthur Maia chegou a discursar, ao fim de uma das sessões, para reiterar seu respeito à relatora e às demais parlamentares membras da CPMI. "Se tem uma coisa que eu prezo muito é o respeito às mulheres. No meu gabinete, a maioria são mulheres. Eu jamais permitiria que a nobre senadora Eliziane Gama, uma mulher do mais alto gabarito e da mais alta estirpe e qualidade política, fosse desrespeitada", frisou.
Apesar do incômodo com o comportamento dos colegas, a senadora reitera, todas as vezes, que esse tipo de atitude não intimidará nem a ela, nem à sua atuação durante os trabalhos.
Para a coordenadora-geral de pesquisa do Observatório Nacional da Mulher na Política (ONMP), vinculado à Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados, Ana Claudia Oliveira, um ambiente hostil pode desestimular que mais mulheres ocupem cargos de liderança na política.
"As mulheres já são sub-representadas. Quando elas conseguem chegar na política, sofrem esse tipo de cerceamento, abafa ainda mais uma voz que já foi tão difícil de se chegar ali. Esse ambiente, que normalmente é conhecido por ser movido por ataques o tempo todo, faz mulheres desistirem de entrarem na política. Se seguimos construindo a política como esse espaço de violência constante, e separando homens como agressivos e mulheres como pacificadoras, quem está de fora acaba por achar que não pertence àquele lugar", avalia.
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