O presidente interino do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), Glauco Wamburg, pode estar com as horas contadas no cargo. Isso porque ele é suspeito de utilizar, irregularmente, passagens áreas pagas pela União, a pretexto de cumprir agendas de trabalho relacionadas ao posto que ocupa.
Wamburg nega qualquer irregularidade na utilização nos bilhetes aéreos, que conforme os dados obtidos pelo Correio no Portal da Transparência do governo federal, somaram mais de R$ 63 mil. Desse valor, mais de R$ 15 mil foram pagos ao próprio presidente interino do INSS em diárias pelas viagens, e mais de R$ 46 mil em gastos em passagens e taxas — inclusive de cancelamento daquelas que já haviam sido emitidas.
"Oitenta por cento das minhas viagens foram feitas no acompanhamento de agendas do ministro. As demais foram para mutirões e visitas institucionais. Se as pessoas fizerem uma comparação com os presidentes anteriores, verão que sou muito econômico em termos de viagens" disse Wamburg ao Correio.
Além de advogado, ele é professor universitário e funcionário de carreira do INSS. As suspeitas da utilização indevida das passagens são reforçadas pelo fato de que ele leciona, às segundas-feiras, no curso de direito da Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro — a assessoria de imprensa da USU foi procurada e não quis tecer comentários a respeito.
Wamburg assegura que leciona em diversas instituições de ensino superior, mas a maioria das aulas seria a distância. Questionado se seguia dando aulas às segundas-feira na Santa Úrsula, disse que não comentaria o assunto por não ver conexão entre as duas coisas.
Segundo o Portal da Transparência, os pedidos de passagens aéreas habitualmente apresentam ida e volta entre a capital fluminense e Brasília. Os registros mostram que Wamburg sai de Brasília às segundas e volta às terças-feiras, trajeto que se repete com saídas às quintas e retorno às sexta. Mas, ainda conforme os dados registrado pelo governo federal, o presidente do INSS utilizava apenas um dos trechos em cada passagem emitida — usualmente chegando ao Rio às quintas e retornando a Brasília às terças da semana seguinte.
Wamburg justificou as viagens frequentes à capital fluminense por causa de um grande número de imóveis do INSS. "Rio de Janeiro é um estado estratégico pela quantidade de imóveis que temos. Tivemos algumas emergências, inclusive com divulgação midiática. No início da nossa gestão, a gente teve uma demanda bastante intensa acompanhando temas do Rio", disse.
Fontes do Ministério da Previdência afirmaram ao Correio que Wamburg está "desgastado" junto ao ministro da pasta, Carlos Lupi. Além da utilização excessiva de passagens aéreas, outra razão que pode custar ao advogado o comando da autarquia é o aumento da fila de espera de requerimentos do INSS — que, após uma pequena redução, voltou a crescer e está com cerca 1,4 milhão de solicitações (como pedidos de aposentadorias e pensões) aguardando análise. O mais cotado para substituir o atual presidente é Alessandro Stefanutto, diretor de Governança e Tecnologia do INSS e ex-procurador-geral do instituto.
Wamburg chegou ao comando do instituto por indicação do diretório fluminense do PSD. Apesar de ter assumido a presidência do INSS em 2 de fevereiro, ele ainda consta como interino no cargo, conforme atesta o portal gov.br.
Polêmica
Nome próximo do governador Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro, esta não é a primeira polêmica envolvendo o nome de Wamburg. No ano passado, ele foi nomeado presidente da Fundação Leão XVIII, entidade de assistência social do governo fluminense. Sua gestão, porém, tornou-se alvo de denúncias de corrupção, sob investigação Ministério Público estadual. O MP-RJ apura, além de um suposto esquema de funcionários fantasmas na fundação, denúncias de mau uso do dinheiro público.
O ainda presidente interino do INSS é próximo de políticos do PTB que tiveram envolvimento em casos de corrupção, como o ex-deputado estadual Marcus Vinícius Neskau (PTB-RJ), ex-marido de uma das filhas do ex-deputado Roberto Jefferson, Fabiana Brasil. Preso em 2018 em um dos desdobramentos da Operação Lava-Jato, no Rio, Wamburg defendeu o ex-parlamentar fluminense no processo.
A defesa do presidente interino do INSS sempre negou qualquer envolvimento dele nas irregularidades na Leão XVIII — afirma que as investigações do MP-RJ apuram fatos anteriores à chegada de Wamburg à instituição. Mas, depois de uma reportagem da Rede Globo, ele renunciou depois de cinco meses no cargo, alegando que a fundação não teria estrutura administrativa, nem número de servidores para o adequado atendimento à população.
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