Depois de tentar, por duas vezes, evitar o depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga a tentativa de golpe em 8 de janeiro, o ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), coronel Jorge Eduardo Naime, afirmou que a Agência Brasileira de Inteligência alertou claramente, um dia antes, que vândalos bolsonaristas se preparavam para invadir as sedes dos Três Poderes. Segundo ele, a Abin acionou, na manhã de 7 de janeiro, os integrantes do grupo de WhatsApp que reunia representantes dos órgãos de inteligência.
"O que me causa estranheza é que no dia 7, às 10h, a Abin informa claramente que estava confirmada a invasão de prédios públicos. O Gabinete de Gestão de Crise tinha que ter sido acionado nesse momento", acusou, dando a entender que houve omissão das autoridades encarregadas de fazer funcionar o dispositivo de defesa.
O ex-comandante também voltou a atribuir a setores do Exército a conivência com os golpistas reunidos em frente às unidades da Força por todo o país. Naime afirmou que, em 29 de dezembro do ano passado, emitiu um documento orientando a desmobilização do acampamento em frente ao QG, em Brasília. Para o coronel, caso tivessem seguido a instrução, os atos de 8 de janeiro teriam sido prevenidos.
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Naime mais uma vez foi enfático ao atribuir ao general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, ex-chefe do Comando Militar do Planalto, o impedimento para a desmobilização dos acampamentos bolsonaristas. "Foi do próprio general Dutra desmobilizando as tropas e dizendo que não seria necessário. Inclusive, ele fez até algumas alegações, dizendo: 'Não, vocês trouxeram efetivo demais'. Como assim 'trouxeram efetivo demais'?", frisou.
Preso na Academia Militar, Naime foi indiciado na Operação Lesa Pátria, pela Polícia Federal (PF). Aos integrantes da CPMI, disse não saber por que está preso e disse que está levando a culpa por outros que teriam envolvimento mais profundo com a tentativa de golpe.
"Sou o patinho feio. Ninguém quer ser meu amigo, ninguém quer estar próximo de mim. Está todo mundo solto e eu preso", criticou.
Indagado sobre o vandalismo, em Brasília, na noite de 12 de dezembro do ano passado — horas depois que Luiz Inácio Lula da Silva foi confirmado presidente da República com a diplomação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) —, quando radicais bolsonaristas depredaram veículos e tentaram invadir a sede da PF a pretexto de soltar o indígena José Acácio Serere Xavante, Naime afirmou que a PMDF foi "pega de surpresa". "Não é um ato normal o que aconteceu na noite daquele dia 12. E dizer que foi normal não prender? Não, nada do que aconteceu na noite do dia 12 foi normal", admitiu, sem, porém, relacionar a balbúrdia dos bolsonaristas à diplomação de Lula.