O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, nesta sexta-feira, esperar que o ministro Raul Araújo, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), peça vista (mais tempo para análise) no julgamento que pode torná-lo inelegível por abuso de poder político. O ex-chefe do Executivo elogiou o magistrado e acusou a Corte de ser "tribunal político".
"O primeiro a votar depois do relator é o ministro Raul, conhecido por ser um jurista que tem bastante apego à lei, apesar de estar num tribunal político. Há possibilidade de pedir vista. É bom, porque ajuda a gente a clarear os fatos", comentou, em entrevista à Rádio Gaúcha.
No TSE, Raul Araújo e Kassio Nunes Marques são os integrantes mais alinhados a Bolsonaro. Caso seja pedido mais tempo para análise do processo, os autos devem ser devolvidos em até 60 dias. Se esse prazo for excedido, a ação deve ser julgada automaticamente, de acordo com as regras do tribunal.
O julgamento de Bolsonaro no TSE começou na quinta-feira. A ação, apresentada pelo PDT, gira em torno da reunião organizada pelo então presidente com embaixadores, em 18 de julho de 2022, no Palácio da Alvorada. No encontro, ele colocou em xeque a segurança do sistema eleitoral e apontou risco de fraude no pleito, sem apresentar provas. A reunião foi transmitida pela TV Brasil, uma emissora pública.
Na sessão no TSE, o Ministério Público Eleitoral (MPE) pediu a condenação de Bolsonaro à perda dos direitos políticos por oito anos.
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Fake news
Também nesta sexta-feira, Bolsonaro insinuou, mais uma vez, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem ligação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). A declaração foi dada a apoiadores, em Porto Alegre, para se defender do processo em curso na Justiça Eleitoral.
"Não estou aqui atacando o TSE, longe disso, mas a fundamentação é uma coisa inacreditável: reuniu-se com embaixadores. O outro cara, no ano passado, se reuniu com a nata do PCC no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. E vai se reunir, agora, com a nata do Foro de São Paulo também. Não há comparação entre nós", enfatizou, sem citar o nome de Lula. O Foro de São Paulo reúne partidos, governos e organizações da esquerda da América Latina. O encontro ocorrerá entre 29 de junho e 2 de julho, no Setor Hoteleiro Sul.
No ano passado, circulou nas redes sociais um vídeo falso associando Lula a criminosos da facção. Os filhos de Bolsonaro também publicaram desinformações para tentar relacionar o petista ao PCC.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, rebateu as acusações de Bolsonaro. Ele afirmou que o ex-presidente busca caluniar Lula como estratégia para escapar de punições jurídicas.
"Achamos que o ex-presidente deve manter a serenidade, deve manter a decência possível e prestar contas à polícia e ao Poder Judiciário", destacou, em entrevista coletiva. "Mas não tente, mais uma vez, recorrer a esse ardil baixo e vil de vincular o governo do presidente Lula ao PCC, ao Comando Vermelho e a qualquer outra quadrilha."
O próprio Dino já foi acusado por bolsonaristas de ter ligações com criminosos. Eles disseminaram fake news ao dizerem que o ministro teria feito um acordo com traficantes para visitar o Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, em março. Na verdade, o chefe da pasta havia avisado às autoridades de segurança sobre o encontro com lideranças da comunidade.