ATOS ANTIDEMOCRÁTICOS

CPMI do 8/1 ouve ex-diretor da PRF sobre operações no Nordeste nas eleições

Além de Silvinei Vasques, ex-diretor da PRF, o colegiado ouve, também nesta semana, George Washington de Oliveira, condenado por tentativa de atentado no Aeroporto de Brasília

Aliados de Luiz Inácio Lula da Silva vêm protagonizando as decisões da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos antidemocráticos do 8/1. Na última semana, o colegiado votou 283 requerimentos, totalizando a convocação de 35 pessoas para oitivas nas próximas reuniões. As votações ocorreram em três blocos, sendo o único a ser rejeitado o que englobava a convocação do ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias — conhecido como G. Dias. Ele foi flagrado em imagens dos atos golpistas interagindo com os invasores no Palácio do Planalto, o que vem sendo usado pela oposição para pedir sua convocação.

Amanhã, será ouvido o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques. Ele foi convocado para explicar as operações realizadas no dia do segundo turno das eleições presidenciais de 2022, principalmente no Nordeste. Na quinta-feira ocorrerá a segunda oitiva, com George Washington de Oliveira, condenado pela tentativa de atentado a bomba no Aeroporto de Brasília na véspera de Natal, no ano passado.

A aprovação dos requerimentos foi alvo de críticas da oposição durante a última reunião do colegiado. Isso porque o governo estaria tentando blindar a figura de G. Dias para evitar desgastes, já que o ex-GSI apareceu em imagens ajudando os invasores no dia 8/1. "O governo não queria a CPMI e fez de tudo para boicotá-la, inclusive com liberação de dinheiro (orçamento secreto) e cargos. Na última reunião, o governo, mais uma vez, mostrou a todo Brasil que tem fatos a esconder da população: enquanto nós, da oposição, votamos todos os requerimentos mostrando que queremos uma investigação ampla e imparcial, o governo agiu para barrar vários requerimentos nossos", ressaltou o deputado Filipe Barros (PL-PR), membro-titular da comissão.

Blindagem

Barros acredita que o andamento da votação foi um "atestado de culpa da omissão dolosa do governo nos episódios do dia 8/1" e que houve parcialidade nas convocações. A relatora dos trabalhos, senadora Eliziane Gama (PSD-MA) afirmou ao Correio, em entrevista publicada na edição de ontem, que a oposição cria narrativas como essa para desviar o foco. "Há um movimento interno na própria CPMI, uma tentativa de desviar os focos dos trabalhos, que a gente não vai permitir. Há uma implantação de uma narrativa de colocar que (aliados) estão sendo protegidos, blindados, e não tem nada disso. Tem um requerimento para o G. Dias, da minha autoria, uma demonstração clara de que não estamos aqui blindando quem quer que seja", frisou.

Na linha do que vem defendendo a relatora, o deputado Duarte Jr. (PSB-MA), membro titular do colegiado, argumenta que se mantenha a ordem cronológica da investigação, pois fugir dessa organização estabelecida por atrapalhar o andamento. "Acredito que é importante, e G. Dias vai ser convocado, mas acredito que tem que ter uma lógica. Porque se fugir à ordem cronológica dos fatos pode prejudicar a investigação. A gente tem que seguir essa ordem desde o dia 12 (de dezembro). Desde quando terminaram as eleições, quando começaram os movimentos antidemocráticos, quando fecharam rodovias, quando colocaram fogo em Brasília, quando tentaram invadir a Polícia Federal e lá as autoridades que estavam constituídas nada fizeram, ninguém foi preso", relembrou.

A lógica defendida pela relatoria e pela base do governo da comissão é de que todos esses eventos anteriores foram atos preparatórios para que houvesse a decretação de um estado de sítio. Após a reunião em que foram votados os requerimentos, o presidente do colegiado, Arthur Maia (União-BA) criticou em nota a atitude de aprovar apenas requerimentos da base do governo. "Como presidente da CPMI sou responsável por pautar os requerimentos, mas quem decide pela aprovação ou rejeição é o Plenário. Registro que considero ruim para a credibilidade dos trabalhos a rejeição de requerimentos para ouvir pessoas que estão no centro dos episódios de 8/1", condenou.

Na última reunião do colegiado, uma série de requerimentos de convocações, convites e quebras de sigilo foram aprovados. Entre os pedidos estão solicitações de informações e relatórios à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e convocações como a do ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson Torres e do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid.

Caso do Val

O senador Marcos do Val (Podemos-ES) é um dos membros titulares da CPMI que também é investigado no âmbito do inquérito que apura os atos antidemocráticos do 8/1 no Supremo Tribunal Federal (STF) (leia mais na matéria abaixo). Membros do governo no colegiado e até mesmo colegas da base bolsonarista pedem a saída do senador do grupo. Eliziane defendeu que a permanência do senador Marcos do Val no colegiado é temerária. "Acho que o próprio senador deveria ter a atitude de pedir a saída da comissão", opinou. O governo articula a saída de do Val da CPMI, e deve apresentar essa semana um requerimento para formalizar a solicitação de afastamento do parlamentar.

Duarte Jr. argumenta que a presença do senador atrapalha o andamento dos trabalhos. "É uma pessoa folclórica, sem qualquer credibilidade, e de fato atrapalha o andamento dos trabalhos. Ele é uma pessoa extremamente trifásica, porque cada hora ele tem uma opinião diferente e contraditória da anterior", exemplificou. O deputado ainda salientou que a dedicação a uma CPMI acaba por atrasar o andamento de outros projetos nas Casas, e portanto os trabalhos não podem ter a credibilidade posta em xeque. "Seria bom pra todo mundo colocar lá pessoas que de fato queiram investigar, queiram dar uma resposta", concluiu.

Os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que também é membro da CPMI, e Renan Calheiros (MDB-AL), entraram com representação na última sexta-feira no Conselho de Ética do Senado Federal, contra o senador Marcos do Val por conta das investigações. "Eu e o senador Renan Calheiros decidimos entrar com representação no Conselho de Ética do Senado contra Marcos do Val. Essa Casa não pode viver o constrangimento de ter entre seus senadores alguém que defende golpe de Estado e atenta contra a democracia. Sem anistia!", escreveu o senador Randolfe em seu Twitter.

 

Saiba Mais