Esplanada

Lula decide, nesta quinta-feira, futuro da ministra do Turismo

Presidente enfrenta impasse entre manter a titular da pasta, que o apoiou na eleição, e a pressão do União Brasil pelo cargo dela

Sob risco de perder o cargo, a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, ganhou sobrevida até pelo menos amanhã. A decisão foi comunicada, nesta terça-feira, pelo Planalto, após encontro entre a titular da pasta e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A presença dela está confirmada na reunião ministerial convocada pelo chefe do Executivo para esta quinta-feira.

A saída de Daniela é uma exigência do União Brasil. O partido insiste que ela seja trocada pelo deputado Celso Sabino (União-PA). Em troca, a legenda daria mais votos ao governo em projetos que tramitam na Câmara. Apesar de compor a base, a sigla entregou menos votos a propostas do Executivo em pautas estratégicas — como a do marco do saneamento — do que o Republicanos e o PP, por exemplo. Caso Lula não ceda à demanda, parlamentares do União ameaçam ir para a oposição, complicando a já delicada situação do governo no Congresso.

Foi o primeiro encontro entre Lula e Daniela em meio à crise. Também participaram os ministros da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha; e da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta; e o prefeito de Belford Roxo (RJ) e marido da ministra, Wagner Carneiro, o Waguinho, que está em Brasília desde domingo para tentar reverter a fritura da esposa.

Após participar de uma audiência pública na Câmara dos Deputados — onde expôs as realizações de sua gestão —, Daniela frisou estar "muito tranquila, com a consciência tranquila" e comentou a reunião com o chefe do Executivo. "Foi uma conversa positiva. Estou a serviço do Brasil, para fortalecer o Turismo junto com o presidente Lula. E à disposição do presidente Lula", enfatizou. Questionada sobre o que disse o petista, a ministra respondeu: "Fica tranquila, continue fazendo o seu trabalho".

Daniela criticou a "especulação" a respeito de sua saída do cargo e a atribuiu ao machismo estrutural e ao preconceito por sua história de, segundo ela, vir de uma família humilde da Baixada Fluminense. Apesar da pressão, destacou que continuará do lado do governo. "Apoiei o presidente Lula também de coração. Fizemos uma campanha muito linda, e admiro muito e torço muito para que o governo dê certo", pontuou.

 

O Planalto estuda uma forma de ceder o ministério ao União, mas manter o apoio de Daniela e de Waguinho, que foram importantes cabos eleitorais para o petista no Rio de Janeiro - reduto bolsonarista. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), comentou, logo após saber do resultado da reunião com Lula, que Daniela "não se trata como qualquer pessoa". "É uma pessoa que tem o carinho e o apreço do presidente, então ele vai tentar encontrar uma saída que dê conforto a todo mundo", afirmou.

Wagner comentou, porém, que Daniela está inclusa na parte que coube ao União Brasil na Esplanada, e não na cota pessoal de Lula. Assim como o MDB e o PSD, o União recebeu três pastas, com o objetivo de fortalecer a aprovação de pautas no Congresso. A ministra, porém, está em litígio com a legenda. Ela pediu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autorização para se desfiliar sem perder o mandato de deputada federal - foi a mais votada no estado do Rio de Janeiro.

Apoio

Lula só deve bater o martelo após ouvir lideranças de outros partidos, do União Brasil e o próprio Celso Sabino. A orientação do presidente seria para permitir que Daniela apresente seus feitos à frente da pasta antes de sair, deixando claro que a decisão foi política, e não pela capacidade técnica da ministra. Segundo ela, na reunião ministerial de amanhã será apresentado um levantamento dos últimos cinco meses.

Daniela fez isso, nesta terça-feira, na audiência na Comissão de Turismo da Câmara. Entre os dados apresentados pela ministra estão o faturamento esperado de R$ 752,3 bilhões para 2023, com R$ 54 bilhões já consolidados desde o início do ano. Ela destacou também o investimento da pasta em infraestrutura e na qualificação de trabalhadores. Disse que luta pela recomposição do orçamento da pasta, que hoje é de R$ 19 milhões para atividades finalísticas, como obras e eventos.

Na comissão, a ministra recebeu apoio até de parlamentares da oposição. O presidente do colegiado, Romero Rodrigues (PSC-PB), relatou que Daniela sempre esteve aberta ao diálogo e que nunca se recusou a receber as demandas de parlamentares. Bibo Nunes (PL-RS), autor do requerimento para a audiência, enfatizou que não é da "oposição raivosa" e criticou que a pasta do Turismo fique com o destino incerto. "A senhora pode ter certeza de que tem aqui um aliado", afirmou o parlamentar.

 

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