O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi vaiado, nesta quinta-feira, ao ter o nome mencionado pelo ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, durante discurso na 31ª edição da Marcha para Jesus, ontem, em São Paulo, em celebração ao Corpus Christi. Ele e a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) foram enviados pelo chefe do Executivo para representá-lo no evento.
Messias disse ter ido em "missão de paz" e, para os fiéis, anunciou que trazia uma mensagem de Lula. "Vim dizer, a pedido do presidente, que existem em Brasília homens e mulheres que vivem pelo Reino (de Deus) e que nós estamos lá, não pela nossa perna, mas levantados por Deus para cumprir um propósito. Vim para dizer que nosso povo quer paz", afirmou Messias, na primeira onda de vaias.
Ao citar novamente Lula, as hostilidades aumentaram. "Esse é o recado que o presidente pediu que trouxesse para vocês. E que a paz de Cristo esteja com cada um de vocês", emendou Messias ao público, em sua maioria apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. O organizador da Marcha, Estevam Hernandes, interveio para evitar o mal-estar: fez um gesto para que os fiéis diminuíssem as vaias e pediu oração pelas autoridades do Brasil.
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Por conta de agendas no Nordeste, e por passar o feriado no litoral da Bahia, Lula não compareceu — está com a primeira-dama Janja hospedado na base naval de Aratu, na península do Paripe. O presidente enviou uma carta aos organizadores da Marcha agradecendo o convite e lembrou ter sido o autor da lei que instituiu o Dia Nacional da Marcha para Jesus, em 2009.
"A Marcha para Jesus é o louvor à paz e ao amor de Cristo. É a força alegre da fé vencendo o ódio e a discórdia, que só afastam as pessoas. Quero reafirmar minha admiração à Marcha e meu compromisso de garantir, para sempre, o pleno direito de cada pessoa deste país seguir professando sua fé", afirma Lula na carta.
Bolsonaro, que todo ano comparecia, também não foi. Passou o feriado em Maresias (SP) com o assessor de Comunicação Fábio Wajngarten.
Efusividade
Se Lula foi hostilizado e Bolsonaro não apareceu, todas as simpatias dos fiéis foram direcionadas a Tarcísio de Freitas, afilhado político do ex-presidente. O governador de São Paulo foi ovacionado. Antes de ser chamado ao palco, Estevam Hernandes classificou-o com um homem que tem a "palavra de Deus dentro de si".
Tarcísio discursou por cerca de 8 minutos, disse ser um "servo de Deus", afirmou que "São Paulo é do Senhor Jesus" e citou versículos bíblicos. "Temos que nos alegrar na esperança. O medo da morte? Cristo resolveu para nós na cruz. Isso quer dizer que vai ser fácil? Não, mas vamos superar, porque vamos preservar na oração, e a oração cria intimidade com Deus", exortou. Ao final, o governador se ajoelhou para receber a oração de um pastor.
Horas antes, pelas redes sociais, Tarcísio reforçou o vínculo que tem com Bolsonaro ao publicar um vídeo no qual o ex-presidente elogia o governador pela recuperação do litoral norte paulista, cujos municípios foram duramente afetados pelas fortes chuvas que caíram em fevereiro — quando 44 pessoas morreram e várias encostas desabaram.