Relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os ataques golpistas de 8 de janeiro, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) vai sugerir, na próxima semana, que o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, seja um dos primeiros a depor. A intenção da parlamentar é que a oitiva ocorra antes de o ex-ministro da Justiça Anderson Torres prestar depoimento no colegiado. Os requerimentos de convocação começam a ser votados na terça-feira.
A informação foi divulgada pela CNN e confirmada pelo Correio. Eliziane espera que o depoimento seja em 20 de junho, já que a apreciação dos pedidos apresentados pelos parlamentares deve tomar as duas sessões previstas para a semana que vem.
Mauro Cid estava entre os alvos da investigação, mas ganhou prioridade após a Polícia Federal (PF) ter encontrado uma minuta golpista no celular do militar, bem como outros documentos destinados a dar suporte a uma possível tentativa de golpe de Estado.
O plano de trabalho apresentado na terça-feira pela relatora registrava Torres e financiadores dos ataques como as principais convocações. Para a senadora, houve uma série de movimentos, antes dos episódios de depredação, que configura preparações para um golpe. Mauro Cid, segundo as investigações da PF, participou de conversa com o ex-major do Exército Ailton Barros, em que foi discutida a possibilidade de golpe.
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Além de Cid, alvo de, pelo menos, oito requerimentos, a esposa dele, Gabriela Cid, pode depor. Requerimento nesse sentido foi apresentado pelos deputados Rogério Correia (PT-MG) e Adriana Accorsi (PT-GO). No pedido, eles destacam que Gabriela também é alvo das investigações sobre possível fraude em cartões de vacinação, que levou o ex-ajudante de ordens à prisão e encontrou os documentos golpistas.
"Também foi constatada a possibilidade de a sra. Gabriela Santiago Ribeiro Cid ter acesso a conteúdo extraído do telefone celular de Mauro Cid que revela suposto planejamento e tentativa de golpe de Estado, em mensagens contidas no aparelho e também na nuvem", declararam os parlamentares.
No celular do tenente-coronel, a PF encontrou a minuta de um decreto para uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que permite ao presidente da República, à época Bolsonaro, acionar as Forças Armadas. O documento estava em uma conversa entre Cid e o sargento Luis Marcos dos Reis, que também foi preso na operação que apura fraudes na carteira de vacinação. Os dois também teriam, segundo os investigadores, discutido sobre convencer autoridades militares a aderirem ao plano da GLO. Não há, porém, indícios de que os textos tenham sido enviados a Bolsonaro.
Silêncio
Na terça-feira, Cid foi levado à PF para prestar esclarecimento a respeito dos documentos encontrados em seu aparelho. Ele, porém, permaneceu em silêncio. Em nota divulgada nesta quinta-feira, o advogado Bernardo Fenelon, que integra a defesa do ex-ajudante de ordens, declarou que Cid não falou durante o depoimento por não ter tido acesso aos autos da investigação e que esclarecerá a situação.
"Na oportunidade, foi informado à autoridade policial, bem como formalizado por meio de uma petição juntada no processo, que, após o devido acesso à documentação que embasa a investigação — um direito constitucional de todo investigado —, o coronel Mauro Cid estará à disposição para esclarecer tais fatos", disse o advogado.