A deputada federal Erika Hilton (PSol/SP), acionou o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) contra o pastor André Valadão por falas homofóbicas proferidas durante culto na Igreja Lagoinha, no domingo (4/6). Na pregação, o líder evangélico afirmou que “Deus odeia o orgulho”, em referência do Mês do Orgulho LGBTQIAP+, comemorado em junho, e que “a figura da palavra orgulho é Lúcifer".
Na representação, Hilton ressalta que o fato de Valadão ter escolhido o mês de junho para fazer um culto em que ataca o orgulho, demonstra que a intenção do pastor “era utilizar uma data importante à comunidade LGBTQIA+ para se projetar a partir de um discurso criminoso, que ofende e vulnerabiliza ainda mais as minorias sexuais e de gênero no país, em expresso desprezo à população LGBTI+”.
Hilton também alegou que, além do teor discriminatório da pregação, Valadão também incitou o ódio contra a comunidade. No documento, a deputada destaca o trecho do sermão em que o pastor fala ao fiéis que é "preciso odiar o pecado". "Eu preciso odiar a impureza sexual, eu preciso ter ódio daquilo que Deus não criou de forma natural, eu preciso ter nojo, eu preciso romper na minha vida, não deixar que isso entre na minha casa, na mente dos meus filhos, no meu casamento, eu não posso tratar com naturalidade aquilo que Deus repugna", pregou Valadão no culto.
A deputada pede, no documento enviado ao MPMG, que o vídeo do culto sobre o orgulho seja retirado das redes sociais e que Valadão seja denunciado pelo crime de homotransfobia, previsto na Lei 7716/89, por ter “induzido e incitado a discriminação e o preconceito contra pessoas LGBTQIA+”. “O enquadramento do discurso do Representado [André Valadão] à prática do crime de homotransfobia é nítido”, defendeu Hilton.
Internautas, religiosos e políticos repudiaram falas de Valadão
Nas redes sociais, o discurso de André Valadão repercutiu e foi duramente criticado. O deputado distrital Fábio Félix (Psol/DF), chamou o pastor de “covarde” e reforçou que “LGBTfobia é crime”. “[André Valadão se esconde atrás do seu deus para cometer os crimes que estão dentro da sua pessoa mesquinha”, escreveu o político no Twitter.
A deputada Duda Salabert e o deputado André Janones se juntaram às manifestações contra o pastor. “Deus me odeia, segundo o pastor André Valadão”, disse Salabert. Já Janones se limitou a dizer que “Deus odeia o ódio”.
O pastor e deputado federal Henrique Vieira (Psol/RJ) afirmou que “Deus odeia o orgulho, mas o orgulho dos poderosos”, em referência à fala de Valadão durante o culto. O perfil Afro Crente também repudiou as alegações do pastor da Igreja Lagoinha. No Twitter, Jackson Augusto, dono da página, escreveu que “Deus odeia o orgulho hétero nacionalista cristão que impera hoje nas igrejas brasileiras”.
“Eu fico com as palavras de Paulo quando se trata de irmãs e irmãos LGBTQIAPN+ que diz: ‘tenho muito orgulho de vocês. Sinto-me grandemente confortado e transbordo de alegria em meio a toda a nossa tribulação’”, rebateu o Afro Crente.
O pastor Paulo Marcelo também se pronunciou contra o discurso de Valadão. Ele pediu aos cristãos que “nunca conheçam o ‘deus’ do André Valadão”. Outros internautas repercutiram as falas do pastor e chegaram a apontar que as insinuações de Valadão sobre os homossexuais serem “impuros” e “não entrarão no reino de Deus”, se assemelha ao que pregavam os nazistas. “Deus não é ser humano pra ter ódio, Deus não nutre sentimentos mundanos, quem odeia é você André, quem tem ódio no coração é você”, apontou uma usuária do Twitter.
Saiba Mais
Valadão condenou a comunidade LGBTQIAP+
No domingo (4/5), o pastor André Valadão fez um culto intitulado “Deus odeia o orgulho”. Nas imagens de divulgação do encontro religioso e nos telões dentro da igreja durante as pregações, foram reproduzidas palavras de ódio contra o orgulho LGBTQIAP+. No painel no palco de onde o pastor fez o discurso, a palavra “orgulho” estava colorida com as cores do arco-íris, que é símbolo da comunidade LGBT.
“A figura do orgulho é Lúcifer. A figura da palavra orgulho é o anjo caído, é alguém que, debaixo dos seus atributos, dons e possibilidades, quis se igualar a Deus [...] orgulho é dizer: ‘eu não preciso de Deus’. O símbolo do orgulho, na bíblia, é Lúcifer e a palavra mostra que Deus não tolerou Lúcifer”, defendeu Valadão.
Para embasar seus argumentos, Valadão usou passagens bíblicas que falam sobre sexualidade e orgulho. “Vocês não sabem que os perversos não herdarão o reino de Deus? Eu amo essa frase, essa pequena frase: não se deixem enganar”, continuou o pastor. “Nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o reino de Deus”, citou o que ele atribuiu ao livro bíblico de Coríntios — mesmo que a bíblia não cite as mesmas palavras citadas por ele.