Relações Exteriores

Pressão para destravar acordo entre União Europeia e Mercosul

O presidente Lula participa da Cúpula do Novo Pacto Financeiro Global, organizada pelo presidente da França, Emmanuel Macron. Na quinta, os dois líderes trataram do acordo comercial entre os dois blocos

Ingrid Soares
postado em 23/06/2023 03:55
 (crédito:  Ludovic MARIN/AFP)
(crédito: Ludovic MARIN/AFP)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participa, na manhã desta sexta-feira (23/6), da Cúpula do Novo Pacto Financeiro Global, organizada pelo presidente da França, Emmanuel Macron. O objetivo é debater a reforma do Banco Mundial e do FMI (Fundo Monetário Internacional) para que os países, especialmente os mais vulneráveis, possam financiar políticas de enfrentamento ao aquecimento global.

Na quinta-feira (22/6), ao desembarcar em Paris, o chefe do Executivo cumpriu uma extensa agenda de encontros. Almoçou com a ex-presidente Dilma Rousseff, atual presidente do Banco do Brics, e teve uma reunião bilateral com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, em Paris. Ambos falaram sobre a cúpula do Brics — acrônimo que representa o bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, que ocorrerá entre 22 e 24 de agosto, em Johanesburgo. Lula e Ramaphosa também discutiram opções para trabalhar pela paz no conflito entre Rússia e Ucrânia.

 

O petista se encontrou com o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, marcando a retomada do diálogo com o país caribenho, interditado nos últimos anos pelo governo de Jair Bolsonaro (PL). Os presidentes conversaram sobre temas ligados à América Latina e aproveitaram o encontro para debater assuntos relativos à conjuntura mundial. Por meio das redes sociais, Lula comentou o encontro e citou "retomada do diálogo com o país e questões bilaterais que foram abandonadas nos últimos anos". A agenda previa ainda reuniões com o primeiro-ministro da República do Haiti, Ariel Henry, e com o presidente da COP 28, Sultan al-Jaber, do governo dos Emirados Árabes Unidos.

À noite, Lula e a primeira-dama, Janja da Silva, foram recebidos no Palácio do Eliseu, residência oficial da presidência francesa, para o jantar oferecido por Macron aos chefes de Estado que participarão, hoje, da cúpula. Na conversa bilateral, os dois chefes de governo trataram de temas relacionados ao meio ambiente e à tentativa de destravar o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. O brasileiro tenta quebrar o que chamou de "protecionismo" do lado francês em relação à agricultura, que vê a entrada de produtos do Mercosul como ameaça a seus mercados. Lula também reclamou do "endurecimento" das demandas ambientais para a entrada de produtos na UE.

Ontem, em entrevista na Itália, o presidente declarou que apesar de haver possibilidade de acordo entre a União Europeia e o Mercosul, as propostas ainda não atendem ao que seria melhor para a industrialização da América Latina.

"A carta adicional que a União Europeia mandou para o Mercosul é inaceitável porque eles põem punição para qualquer país que não cumpriu o Acordo de Paris. Nem eles cumpriram o Acordo de Paris. Os países ricos não cumpriram o Acordo de Paris, o Protocolo de Quioto, a decisão de Copenhague (de destinar US$ 100 bilhões anuais ao financiamento climático para os países pobres entre 2020 e 2025). Então, é preciso ter um pouco mais de sensibilidade, de humildade. Estamos preparando a nossa resposta para a União Europeia". Ele defendeu um meio-termo "que favoreça os dois continentes".

Protecionismo

"Eu pretendo conversar com o presidente Emmanuel Macron porque a França é muito dura nos seus interesses agrícolas. É importante a gente convencer a França que é maravilhoso que eles defendam sua agricultura, mas a gente tem que entender que os outros também têm o direito de fazê-lo. É preciso que cada um abra mão de seu protecionismo para que possamos construir a possibilidade de um acordo que melhore a situação da UE e da América do Sul". Ambos devem tratar ainda sobre a guerra na Ucrânia.

Segundo a agenda oficial, após participar da Cúpula, Lula ainda se encontrará com o presidente de honra da France Insoumise na Assembleia Nacional da República Francesa, Jean-Luc Mélenchon e participará do almoço de trabalho oferecido pelo presidente Macron.

Há ainda a previsão de audiência com o presidente do Naval Group, Pierre-Eric Pommellet; um encontro com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo; com o presidente da República do Congo, Denis Sassou-Nguesso; e, à noite, um jantar oferecido pelo príncipe herdeiro do Reino da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman al Saud.

 

 

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