Às vésperas do julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pode torná-lo inelegível, Jair Bolsonaro (PL) se mostrou pouco esperançoso de que possa obter uma decisão a seu favor. Nesta quinta-feira, 22, a Corte vai decidir se o ex-presidente ficará inelegível por oito anos por abuso do poder político e dos meios de comunicação.
"Hoje em dia, é quase uma unanimidade que vou perder a ação. Essa é uma verdade", disse o ex-presidente em entrevista ao programa Arena CNN, na noite desta quarta-feira, 21.
No último sábado, 17, ele admitiu que "os indicativos não são bons" para a sessão desta quinta. Está na pauta do Tribunal o julgamento de uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral proposta pelo PDT, que pede a sanção de inelegibilidade de Bolsonaro por causa de declarações que ele fez em uma reunião com cerca de 70 embaixadores no dia 18 de julho de 2022.
Na ocasião, ainda na Presidência, ele atacou o sistema eleitoral brasileiro e disse que ele possui fragilidades diante de líderes de todo o mundo. O ato foi considerado uma manobra de campanha e o PDT acusa o ex-presidente de abuso do poder político e dos meios de comunicação.
Durante a entrevista nesta quarta, além de negar que tenha feito uso da palavra "fraude", Bolsonaro repassou os argumentos usados na sua defesa no processo, reiterando que a reunião foi um ato de governo. Ele cometeu um ato falho ao se referir no tempo presente ao Palácio do Alvorada, onde foi o encontro com embaixadores. "A reunião foi na minha casa oficial, a casa que eu moro. Lá é tido como uma casa particular minha, como se fosse de minha propriedade."
Apesar de admitir a possibilidade de derrota, o ex-presidente disse que não está arrependido. "Não tenho que me arrepender. Sempre joguei dentro das quatro linhas da Constituição. Duvido que algum presidente tenha sido mais democrático do que eu", afirmou.
Repetindo as declarações desta manhã no Senado, Bolsonaro voltou a comparar seu caso com o julgamento da chapa Dilma-Temer em 2017, acusada de abuso do poder político. Na ocasião, por 4 a 3, o pedido de cassação da chapa foi rejeitado. O ex-presidente defendeu que a identidade entre os dois casos está no suposto acréscimo de outras acusações, para dar volume ao caso. "Enxertaram outras acusações para dar alguma credibilidade."
Bolsonaro se recusou a indicar o nome de um possível sucessor na direita, caso se torne inelegível. "Não vou aqui passar um atestado de derrotado. Essa entrevista está ajudando muitas pessoas a entenderem o que está acontecendo no TSE", disse, confirmando que, se for necessário, recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF), última instância do Judiciário.
O segredo de justiça imposto a partes do processo também foi comentado durante a entrevista, como justificativa para Bolsonaro não compartilhar a íntegra das suas alegações finais. "Não posso mostrar para vocês porque o senhor Benedito Gonçalves (relator do caso e corregedor eleitoral) decretou segredo de justiça", disse o ex-presidente. O sigilo foi solicitado pela defesa dele, que, como mostrou a Coluna do Estadão, voltou atrás e pediu publicidade total do processo dias antes do julgamento.
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