PODER

Centrão só retirou apoio a Collor e Dilma desde a redemocratização

Todos os presidentes mantiveram bom relacionamento com o bloco para manter a governabilidade. Os únicos que perderam apoio terminaram apeados do poder pelo impeachment

Vinicius Doria
postado em 11/06/2023 03:55
 (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
(crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

Desde que José Sarney assumiu a Presidência da República com a morte de Tancredo Neves, em 1985, a governabilidade foi construída em acordos com os conservadores. O que se conhece, hoje, como Centrão, nasceu na Assembleia Nacional Constituinte, em 1987, para se contrapor à agenda progressista dos partidos de esquerda e abraçada pelo então presidente da Câmara (e da Constituinte), Ulisses Guimarães.

De lá para cá, os dois presidentes que bateram de frente com o Centrão saíram perdendo. Com discurso contra a política tradicional, promessa de caçar os "marajás" do serviço público e postura anti-esquerda, Fernando Collor foi eleito com amplo apoio popular. Mas o permanente embate com o Congresso e as denúncias de corrupção o minaram. Em 1992, com dois anos de mandato, foi o primeiro presidente a perder o cargo por impeachment.

Embalado pelo sucesso do Plano Real, que acabou com a hiperinflação no país, Fernando Henrique Cardoso cumpriu dois mandatos, aliando o PSDB de centro-esquerda aos conservadores do PFL de Marco Maciel e Antônio Carlos Magalhães — que, anos antes, lideraram a ruptura da base política que sustentava a ditadura e deram, em 1984, maioria para a eleição indireta de Tancredo contra Paulo Maluf no Colégio Eleitoral.

Para suceder FHC e vencer a eleição presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva chamou para vice o empresário José Alencar, do Partido Republicano Brasileiro (PRB), para quebrar a resistência conservadora. O PRB virou Republicanos, partido do hoje senador Hamilton Mourão (RS), que formou, com o PP e o PL, a base do governo de Jair Bolsonaro.

Força do baixo clero

Foi no primeiro mandato de Lula que o baixo clero do Centrão mostrou sua força. Em 2005, impôs ao governo petista uma grande derrota política. Na eleição para a Presidência da Câmara, aproveitando um racha no PT, que lançou dois candidatos, o desconhecido Severino Cavalcanti, do PP de Pernambuco, venceu a disputa com 300 dos 498 votos da Casa. Fisiológico e sem apoio dos grandes partidos, Severino foi cassado meses depois por corrupção, no escândalo conhecido como "mensalinho". Depois desse fracasso, Lula tirou o PT da disputa e apoiou a eleição de Aldo Rebelo, do PCdoB.

A decisão de Lula de fazer de Dilma Rousseff sucessora na Presidência levou o PT a montar uma nova composição com a ala conservadora do Congresso. Para formar chapa com a então ministra da Casa Civil, convidou Michel Temer, do PMDB, que havia presidido a Câmara nos dois últimos anos do governo Lula. A aliança entre progressistas e conservadores funcionou no primeiro mandato na presidenta, quando o comando da Câmara foi ocupado, no primeiro biênio, por um petista — Marco Maia —, sucedido por um peemedebista, Henrique Eduardo Alves.

Mas degringolou quando Dilma foi reeleita e Eduardo Cunha assumiu a Presidência da Câmara. A briga entre os dois Poderes terminou pode impedi-la e a cassação de Cunha. Consolidado, o Centrão sustentou politicamente Temer e Bolsonaro.

Para voltar ao Palácio do Planalto, Lula fez um movimento estratégico de aproximação com o eleitor mais conservador. Chamou para a chapa o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, um dos baluartes do PSDB — mas, hoje, no PSB. Também teve a seu lado o MDB do Nordeste, capitaneado pelo senador Renan Calheiros (AL). No segundo turno, ampliou a composição com o centro, atraindo a ala do MDB que havia marchado com a então senadora Simone Tebet.

 

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