O ex-primeiro-ministro britânico Boris Johson anunciou sua renúncia como deputado pelo Partido Conservador na sexta-feira. Neste sábado (10/6), dois outros parlamentares da legenda também comunicaram que abandonariam seus cargos.
Johnson deixou o cargo de premiê em 2022, após diversos ministros de seu gabinete se voltarem contra ele. O descontentamento foi provocado por queixas sobre seu estilo de liderança e alguns escândalos, incluindo o apelidado de 'Partygate', que envolve uma série de acusações sobre a realização de reuniões e comemorações na sede do governo durante o período de restrições da pandemia de covid-19.
Quase um ano depois, o conservador anunciou sua renúncia também como deputado.
Em uma declaração oficial, Johnson disse que decidiu renunciar "por enquanto" por conta de uma investigação sobre o 'Partygate' por uma comissão especial do Parlamento.
O ex-premiê acusou o comitê de organizar uma "caça às bruxas" contra ele, determinado a "expulsar-me do Parlamento". Segundo ele, sua decisão foi de sair antes de ser forçado a se afastar.
"Não é do interesse de ninguém que o processo que o comitê lançou continue por mais um dia", disse Johnson.
E é por isso que ele disse que estava "deixando o cargo imediatamente", provocando uma eleição suplementar imediata para escolher um novo representante para as áreas de Uxbridge e South Ruislip.
O relatório produzido pelo chamado Comitê de Privilégios do Parlamento - escrito por um comitê multipartidário de parlamentares seniores - foi entregue a Johnson apenas 24 horas antes do anúncio de sua renúncia.
De acordo com o procedimento do comitê, Johnson teve duas semanas para responder à uma "carta de advertência" enviada a ele com as conclusões do relatório e provas.
A investigação analisa fotos e evidências de reuniões e comemorações na sede do governo que vieram à tona enquanto o resto do país estava confinado em razão das restrições impostas pelo próprio governo de Johnson durante a pandemia de covid-19.
Forçado a sair?
Os detalhes do relatório permanecem em sigilo, mas as declarações de Johnson e informações recebidas pela BBC indicam que o comitê provavelmente recomendaria uma suspensão de 10 ou mais dias das sessões do Legislativo.
Isso desencadearia uma petição de revogação de seu lugar no Parlamento, levando a uma possível eleição suplementar.
Mas o que foi entregue a Johnson é apenas um rascunho de relatório. O processo do Comitê de Privilégios está longe de terminar.
A recomendação final também teria que passar por uma votação do Parlamento antes de ser promulgada.
Mas forças externas também podem ter influenciado a decisão de Johnson.
Como ele mesmo afirmou em suas declarações, o Partido Conservador está atrás do Partido Trabalhista - seu principal rival - nas últimas pesquisas de opinião por uma média de 16 pontos.
Se ele tivesse decidido permanecer no cargo e enfrentar a eleição suplementar, não há garantias de que ele conseguiria voltar ao Parlamento.
E os outros deputados?
Pouco após o anúncio de Johnson, a deputada Nadine Dorries, também do Partido Conservador, comunicou sua saída do cargo.
A ex-secretária de Cultura e aliada próxima de Boris Johnson disse que estava renunciando "com efeito imediato" depois que "algo significativo" aconteceu e a fez mudar de ideia sobre continuar no cargo.
Dorries não deu mais detalhes e afirmou apenas que agora tem "outras prioridades", incluindo sua neta e sua carreira como apresentadora e colunista.
Neste sábado, outro aliado de Johson, o conservador Nigel Adams, também comunicou sua renúncia.
Apesar de tomarem decisões quase simultâneas, Adams e Dorries não atribuíram suas decisões à saída do ex-premiê.
A BBC fez dezenas de telefonemas e trocou centenas de mensagens de WhatsApp com integrantes da poítica britânica desde que Boris Johnson fez seu surpreendente anúncio de demissão.
Está claro que há uma profunda - e ampla - irritação, se não surpresa, com a maneira como Johnson e seus aliados atacaram o Comitê de Privilégios e a integridade de seus membros.
Ainda não houve nenhuma declaração do primeiro-ministro Rishi Sunak ou de qualquer integrante da comissão
A BBC tentou contato com todos os envolvidos, mas ninguém quis falar oficialmente.
Mas, em particular, os conservadores admitem que estão discutindo o assunto e tentando descobrir o que pode acontecer a seguir.
Com as renúncias, três eleições locais deverão acontecer para substituir os deputados e há temores de que o partido não consiga votos suficientes para manter esses assentos.
Antes dos três anúnicos dos úlitmos dias, os conservadores possuíam maioria de 64 deputados no Parlamento, uma vantagem já bem menor do que a de 2019, quando sob a liderança de Boris Johnson a legenda conquistou vantagem de 80 lugares nas eleições.
Muitos conservadores disseram à BBC que estão totalmente fartos e frustrados com a realização de três novas eleições locais.
* Com informações de Chris Mason, editor de política, Helen Catt, correspondente de política, Suzanne Leigh, Leila Nathoo e Sam Francis
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