Vale do Javari

"Sonho com o dia de poder voltar para casa", diz líder indígena

Para Eliesio Marubo, procurador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), a região onde Bruno e Dom foram assassinatos há um ano continua "abandonada pelo Estado"

Victor Correia
postado em 05/06/2023 16:08 / atualizado em 05/06/2023 16:12
 (crédito:  Pedro França/Agencia Senado)
(crédito: Pedro França/Agencia Senado)

O procurador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Eliesio Marubo, declarou nesta segunda-feira (5/6) que sonha "com o dia em que possa voltar para a minha casa". Segundo a liderança indígena, ele foi forçado a deixar a região após os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, que completaram um ano hoje.

Durante evento de lançamento de estratégia nacional para combater o tráfico em terras indígenas, realizado pelo Ministério da Justiça, Eliesio afirmou que considera as ações tomadas pelo governo federal ainda insuficientes para garantir a segurança do Vale do Javari contra o crime organizado, e criticou a atuação da Polícia Federal nas investigações sobre os assassinatos.

"Eu sonho de fato com o dia em que eu possa voltar para minha casa. Desde junho passado, eu saí da minha casa com a roupa que eu estava vestido e até hoje não retornei. Tenho vivido uma vida imprestável, sem poder visitar família, sem poder ter o tempo normal com a família, e entendo que esse tempo pode ser retornado a mim", discursou o advogado durante o evento, na sede do Ministério da Justiça. Também estavam presentes secretários da Justiça, dos Povos Indígenas e da Saúde, entre outras autoridades e representantes indígenas.

Segundo Eliesio, a Univaja avalia que as ações tomadas nos 100 primeiros dias de governo foram insuficientes, considerando as sugestões enviadas pela entidade. "Nós apontamos exatamente onde estava doendo. Enquanto nós fazíamos esse diálogo com o governo, pessoas continuavam sendo ameaçadas", afirmou o procurador. "Falando de primeira mão aqui, sofri um novo atentado recentemente. Estou andando com segurança, com carro blindado, isso não é normal", acrescentou.

Ação lenta do governo

O líder indígena também classificou o Vale do Javari como uma região "abandonada pelo Estado". Ele reconheceu que há uma burocracia envolvida, que torna a ação do governo mais lenta, mas frisou que políticas de segurança não deveriam ser afetadas por essa morosidade. De acordo com o advogado, pelo menos 11 pessoas estão ameaçadas de morte no Vale, incluindo indígenas e servidores da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

Em sua fala, Eliesio também criticou a atuação da Polícia Federal na investigação sobre os assassinatos de Bruno e Dom, mas reconheceu que, agora, há diálogo da Superintendência Federal da corporação no Amazonas com os indígenas.

"Era público e notório que 'Colômbia' e seu bando de fato foram aqueles que consumaram o crime. Mas eu não consegui visualizar uma investigação mais profunda para desmantelar ou desbaratar o mundo criminoso que está ali na região, e isso está muito óbvio. Só a Polícia Federal que não consegue ver”, enfatizou, citando um dos novos indiciados na investigação, Ruben Villar, conhecido como “Colômbia”, apontado como mandante do crime contra Bruno e Dom. 

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