A semana termina com uma sensação de alívio para os articuladores políticos do governo, após a aprovação da medida provisória que reestruturou a Esplanada dos Ministérios. Nesta quinta-feira, o Senado votou a versão final do relatório do deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), que havia sido aprovado na noite anterior pelo plenário da Câmara dos Deputados. Em ambas as Casas, o placar foi amplamente favorável ao texto — 51 a 19 e 337 a 125, respectivamente —, o que os governistas consideraram uma vitória, diante da possibilidade de rejeição da MP, antevista na véspera pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que reclamou da falta de articulação do Palácio do Planalto com as lideranças no Congresso.
As 48 horas que antecederam a votação foram de intensas negociações, que envolveram não só o presidente da Câmara, que controla boa parte do Centrão, como as lideranças de praticamente todos os partidos.
Parlamentares experientes ouvidos pelo Correio avaliaram que, no balanço final, Lira não foi capaz de ampliar a pressão sobre o governo, que, na terça-feira, autorizou a liberação de R$ 1,7 bilhão em emendas parlamentares para quebrar resistências em relação ao texto. "Conseguimos aprovar a organização do governo com muito mais votos do que esperávamos", comemorou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após receber, no Itamaraty, o presidente da Finlândia, Sauli Niinistö.
"Passaram para a sociedade a ideia de que o governo estava destruído, que iria ser massacrado, que o Congresso não iria aprovar (a MP). Quando chegou (o momento da votação), a partir das seis horas da tarde, todos aqueles que falaram do massacre e da destruição começaram a falar da vitória do governo", ressaltou o presidente. Para ele, prevaleceu a autonomia do Poder Legislativo de promover mudanças na proposta enviada pelo Executivo, como as que retiraram competências dos ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas.
"Nós, neste governo, respeitamos o Congresso Nacional e achamos que não pode ser submisso ao governo. Ele não tem obrigação de aprovar o que eu quero, tem obrigação de aprovar aquilo que eles (os parlamentares) também entendem que deva ser aprovado", frisou. "Da mesma forma que um presidente assina uma medida provisória, um deputado ou um partido pode querer fazer uma emenda, e nem sempre eles estão errados", contemporizou.
Para pavimentar a aprovação da matéria, porém, o governo passou por momentos de tensão, em boa parte estimulada pelo presidente da Câmara. Arthur Lira tentou marcar um encontro com Lula antes da votação pelos deputados, mas a conversa se deu por telefone. "O presidente Lula me ligou de manhã. Expliquei a ele as dificuldades que o governo dele tem. O problema não é da Câmara ou do Congresso, o problema está na falta ou na ausência de articulação. Não tenho mais como empenhar", afirmou, sinalizando a possibilidade de derrota da MP dos Ministérios em plenário.
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Recalibragem
Depois da votação, Lira recalibrou o discurso e dividiu com o presidente a responsabilidade pela aprovação. Em entrevista à GloboNews, disse esperar que "o dia de ontem (quarta-feira) tenha servido de ensinamento". Para ele, a aprovação "foi um grande esforço dos partidos independentes, dos partidos até de oposição, em ajudar na votação, por um apelo que foi feito do presidente Lula a mim pessoalmente, um apelo meu aos líderes".
Lira negou que tenha pedido cargos no Executivo para aliados do Centrão, mas cobrou do chefe do Executivo maior presença de aliados no governo. Lula, na entrevista desta quinta-feira, confirmou que não recebeu nenhuma solicitação nesse sentido, mas ressalvou que, "se pedisse, a gente iria avaliar, mas, até agora, eu não ouvi o Lira pedir". E lembrou que o PP, partido do deputado, ocupou dois ministérios no governo de Dilma Rousseff.
Lideranças da base avaliaram que, na disputa entre Lula e Lira, o primeiro colheu os louros. Um influente senador do MDB destacou que o presidente da Câmara tentou "emparedar" o governo com a ameaça de rejeição da MP, mas teve de recuar diante do esforço pessoal de Lula.
O presidente passou os últimos dois dias em conversas com aliados da base prometendo participar mais diretamente do diálogo com os partidos, com os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
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