Corrupção

Operação da PF alcança aliados de Arthur Lira

Investida apreende mais de R$ 8 milhões de integrantes de uma suposta quadrilha acusada da venda de kits de robótica para prefeituras alagoanas. Em um cofre em Maceió, foram descobertos aproximadamente R$ 4 milhões em dinheiro vivo. Pessoas próximas do presidente da Câmara estão envolvidas no esquema

Henrique Lessa
postado em 02/06/2023 03:55
 (crédito: Reprodução/DPF)
(crédito: Reprodução/DPF)

A Operação Hefesto, da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União, chegou, nesta quinta-feira, bem perto de um aliado do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), na política alagoana. A ofensiva da PF e da CGU investiga uma possível organização criminosa que desviou recursos do Fundo Nacional da Educação (FNDE), por meio de prefeituras de Alagoas, na compra de kits de robótica para escolas dos municípios envolvidos no esquema.

Os agentes prenderam temporariamente duas pessoas em Brasília e cumpriram mandados de busca e apreensão em 27 endereços em Alagoas, Pernambuco, São Paulo e no Distrito Federal. Também foram apreendidos bens móveis e imóveis de 27 investigados, que somam R$ 8.097.606.

Chamou a atenção, ainda, um cofre encontrado em um dos endereços que foram alvo da operação, em Maceió: continha aproximadamente R$ 4 milhões em dinheiro vivo, em notas de real e dólar. Uma curiosidade nesta descoberta: junto com os maços de cédulas, havia duas cartelas de cialis — medicamento utilizado na disfunção erétil.

A PF e a CGU apuram possíveis crimes de superfaturamento, desvios milionários de verbas públicas federais, lavagem de dinheiro e organização criminosa no FNDE por meio de emendas parlamentares. A empresa investigada como articuladora da fraude é a Megalic, pertencente a Edmundo Catunda, pai do vereador de Maceió João Catunda (PSD). Ambos têm notória proximidade com o presidente da Câmara dos Deputados.

24h depois

A investida da PF foi deflagrada um dia depois de um dos maiores embates de Arthur Lira com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a aprovação da Medida Provisória (MP) 1.154/23, que decidiria se o organograma da Esplanada dos Ministérios continuaria como está agora ou se voltaria à estrutura do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Antes da votação da MP, na noite de quarta-feira, Lira mandou um recado ao Palácio do Planalto sobre a articulação política do governo. Além de criticá-la, deixou claro que somente o líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), estava se empenhando para a aprovação do texto e que se a derrota viesse, não aceitaria que culpassem os parlamentares.

As fraudes nas compras de equipamentos de robótica educacional pelas prefeituras alagoanas ocorreram entre 2019 e 2022, por meio de destinação de verbas por emendas parlamentares direcionadas às licitações que envolveram 43 municípios do estado. As investigações apontaram que o FNDE firmou Termos de Compromisso com prefeituras, que adquiriram os equipamentos mediante processos licitatórios viciados ou por adesão a Atas de Registro de Preços de outros municípios. As transações eram feitas, quase sempre, pela Megalic, com valores superfaturados e em quantidades superiores à demanda das redes públicas de ensino dessas localidades.

A Operação Hefesto quebrou o sigilo bancário de 42 investigados, além do sigilo fiscal de 40 pessoas e empresas. Participaram da investida 110 agentes da PF e 13 servidores da CGU. (Colaborou Fabio Grecchi)


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