A CPI do Movimento dos Sem-Terra tornou-se o principal palco da disputa ideológica entre governistas e oposição — sobretudo os bolsonaristas. Na audiência pública de ontem, para a qual a oposição levou os ex-integrantes do MST Nelcilene Reis e Ivan Xavier na condição de convidados, novamente houve cabo de guerra entre os dois lados.
O casal participou, entre 2016 e 2019, do acampamento Marias da Terra, em Sobradinho (DF). Ela disse ter vivido em condição análoga à escravidão, pois trabalhava todos os dias, sem folga e sem que lhe dessem almoço. Acusou, ainda, que só podia comprar mantimentos do mercado que o MST mantinha no assentamento.
"Trabalhava de graça, tirava o dia inteiro, podia ser sábado, domingo, feriado, aniversário. Fomos extorquidos, não só eu como todo mundo. Nas plenárias, quando os líderes iam lá, a gente tinha que dar alimento ou dinheiro. Também cobravam da gente uma taxa de R$ 10. E, se não desse, era mais um motivo para sair do acampamento", afirmou. Segundo ela, esse dinheiro era usado para abastecer os carros das lideranças e pagar jantares.
O relato turbinou as críticas da oposição. Porém, quando Nelcilene foi indagada pelo deputado Nilto Tatto (PT-SP) sobre Vagner de Souza Galvão, que teria sido do mesmo acampamento, houve um constrangimento. Ela não somente o acusou de ter tentado matar seu marido como, na sequência, se recusou a responder o motivo da suposta tentativa de homicídio.
Foi quando a presidência da CPI dispensou Nelcilene e Ivan de deporem, sob protesto dos governistas. A deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou que vai à Justiça por causa da condução dos trabalhos da CPI.
"Foi constrangedora a cena que vimos: a Mesa induzindo os depoentes a sair do plenário, justamente quando nós começamos a fazer perguntas e inquirir os convidados", criticou. Para a parlamentar, por causa das acusações do casal, deveriam depor como testemunhas, e não como convidados.
Desafio
Mas esse não foi o único embate entre governo e oposição na sessão. O presidente da CPI, deputado Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS), desafiou a deputada Talíria Petrone (PSol-RJ) a dizer quem era o "condenado" que tinha feito doações a ele.
"Posso citar, presidente. O seu financiador, Bruno Pires Xavier, condenado por manter 23 trabalhadores em situação degradantes no Mato Grosso", rebateu ela, interrompida por "OK" de Zucco.
Já a deputada Sâmia Bomfim (PSol-SP) irritou-se com o relator da CPI, Ricardo Salles (PL-SP), por interromper seu comentário no momento em que criticava a ida de uma comitiva de deputados da comissão a um assentamento do MST, que teria entrado sem permissão nas casas militantes. "É mais um que quer que a PGR (Procuradoria-Geral da República) faça uma investigação por cortar o microfone, assim como está acontecendo com o presidente (da CPI). O senhor vai ter a PGR daqui a pouco. Se controle", provocou Sâmia.