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Deputados que apoiaram governo no marco fiscal dizem que aprovação é pontual

Apesar do evidente apoio à matéria, o alinhamento não é incondicional. O presidente Lula tem enfrentado problemas para arregimentar uma base fiel na Câmara, inclusive dentro dos partidos que detêm ministérios

O racha na base governista na Câmara dos Deputados dá sinais de cicatrização. Na votação do novo arcabouço fiscal, dois partidos que não escondiam a insatisfação com a articulação do governo recuaram e votaram integralmente a favor do Planalto. O PSB e o PDT honraram o título de aliados de Lula, ao contrário do PSol, que, nessa votação, esteve mais alinhado ao Novo do que ao PT votando contra o projeto. O arcabouço foi aprovado pela Câmara, na última terça-feira, por 372 votos a favor e 108 contrários.

Apesar do evidente apoio à matéria, o alinhamento não é incondicional. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem enfrentado problemas para arregimentar uma base fiel na Casa Baixa, inclusive dentro dos partidos que detêm ministérios, como PDT e PSB — cada um no comando de três pastas. "A gente demonstrou esse alinhamento, na prática, não só no discurso. Acho que o governo tem que ter autocrítica. Ninguém é submisso, parlamentar é eleito pelo povo. Tem o direito de ter um tom crítico em alguns momentos", disse ao Correio o deputado Felipe Carreras (PSB-PE), líder do bloco vinculado ao presidente da Casa, Arthur Lira.

O deputado Duarte (PSB-MA) defende que sinais como os dados na votação do saneamento e no apoio ao arcabouço são importantes. "São momentos de alinhamento, para que, de fato, os trabalhos não fiquem paralisados. Durante alguns meses, não tinha assunto na pauta do Congresso por essa falta de alinhamento. Mas, agora, já teve tempo para ser resolvido", avaliou, apesar de evidenciar o descontentamento da legenda com a decisão de deixar o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) sob os limites de gastos do marco fiscal.

Mesmo com o apoio à matéria, Duarte concorda com Carreras em relação ao apoio ter caráter mais pontual, e menos incondicional. "Não diria que é um sinal de reconciliação, porque o PSB é governo, tem três ministérios. Não pode tudo que chega do governo ser aprovado automaticamente. Tem que ter debate, tem que ter construção. A nossa análise é política, mas, sobretudo, é técnica", frisou.

O mesmo se repete no PDT. O deputado Mário Heringer (PDT-MG) não descarta que, futuramente, outras matérias voltem a causar divergências no partido em relação ao PT. "Acredito que, em muitas votações, poderemos ter divergências pontuais. Essa nossa unidade em torno de um projeto fundamental para o governo demonstra nossa capacidade de suplantar algumas dificuldades localizadas em busca de oferecer chance ao governo de acertar", opinou o deputado.

Heringer nega que o partido tenha mandado recados em votações anteriores em que houve discordância com o PT. "Não temos hábito político de constranger parceiros, entretanto, alguns recados podem ter chegado ao governo", relatou.

No cabo de guerra com o Parlamento, a articulação de Lula precisará trabalhar para evitar novas derrotas. "A articulação está melhorando, mas precisa avançar muito para atingir os objetivos pretendidos", opinou Heringer.

Carreras,por sua vez, sinaliza que ainda há muita insatisfação da legenda com a articulação do Planalto. "Ainda não deslanchou a questão dos espaços regionais. Tem parlamentares de Norte a Sul do país que ainda têm richa", cita.