Em seu primeiro discurso na cúpula do G7, neste sábado (20/5), o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cobrou que os países ricos cumpram a promessa de disponibilizar US$ 100 bilhões por ano em ações para conter as mudanças climáticas, como ficou acordado na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP), de Copenhague, em 2009.
“De nada adianta os países e regiões ricos avançarem na implementação de planos sofisticados de transição se o resto do mundo ficar para trás ou, pior ainda, for prejudicado pelo processo,” disse Lula, durante a sessão de trabalho "Esforços compartilhados em prol de um planeta sustentável".
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O presidente emendou: “Os países em desenvolvimento continuarão precisando de financiamento, tecnologia e apoio técnico para transformarem suas economias, combater a mudança do clima, preservar a biodiversidade e lutar contra a desertificação. Para quebrarmos esse ciclo vicioso, precisamos atacar o terceiro desafio político: liderança. Precisamos mobilizar todos os setores no esforço comum, porém diferenciado, de prevenir a intensificação ainda mais grave da mudança do clima.”
Lula destacou o potencial do Brasil em energia solar, eólica, biomassa, etanol, biodiesel e hidrogênio verde. “Temos consciência de que a Amazônia protegida é parte da solução. É por isso que estamos organizando em agosto deste ano, em Belém, uma Cúpula de países amazônicos. E é por isso que o Brasil teve sua candidatura a sede da COP30 do clima aprovada após decisão unânime do Grupo Latino-Americano e Caribenho,” afirmou.
O mandatário agradeceu os aportes anunciados recentemente ao Fundo Amazônia e firmou compromisso de atuar em parceria com os demais países que possuem florestas tropicais. “O Brasil será implacável em seu combate aos crimes ambientais. Queremos liderar o processo que permitirá salvar o planeta. Vamos cumprir nossos compromissos de zerar o desmatamento até 2030 e alcançar as metas voluntariamente assumidas no Acordo de Paris.”
Confira o discurso de Lula no G7, na íntegra:
"Quando o G7 foi criado, em 1975, a principal crise global girava em torno do petróleo. 48 anos depois, o mundo ainda não conseguiu se livrar da sua dependência dos combustíveis fósseis.
As evidências científicas confirmam que o ritmo atual de emissões nos levará a uma crise climática sem precedentes.
Estamos próximos de um ponto irreversível.
Quioto não é só uma vibrante metrópole japonesa. Ela empresta seu nome a um Protocolo que se tornou referência da falta de ação coletiva.
Não estamos atuando com a rapidez necessária para conter o aumento da temperatura global, como pactuamos no Acordo de Paris.
Mas essa é uma crise que não afeta a todos da mesma forma, nem no mesmo grau, nem no mesmo ritmo.
Mais de 3 bilhões de pessoas já são diretamente atingidas pela mudança do clima, em especial em países de renda média e baixa. E, da forma que caminhamos, esse número seguirá aumentando.
Não podemos apostar em soluções mágicas.
A tecnologia será uma aliada essencial, desde que haja acesso amplo. As chamadas abordagens de mercado podem contribuir, mas não é realista acreditar que resolverão a crise.
O principal problema é político. No meu entender, temos três grandes desafios pela frente.
O primeiro diz respeito à valorização dos espaços mais legítimos e democráticos da governança global. Em 1992, no Rio de Janeiro, sediamos a Cúpula que deu origem às três principais convenções que orientam nossa ação: sobre clima, biodiversidade e desertificação.
Esses acordos foram assinados com amplo diálogo com a sociedade civil. Não podemos permitir que essas Convenções sejam esvaziadas.
O segundo desafio tem a ver com o desequilíbrio da agenda climática. Não há dúvidas que precisamos ampliar nossos esforços de mitigação, em especial os países que historicamente mais emitiram gases de efeito estufa, mas não podemos perder de vista a demanda crescente por adaptação e perdas e danos.
E é por isso que insistimos tanto que os países ricos cumpram a promessa de alocarem 100 bilhões de dólares ao ano à ação climática. Outros esforços serão bem-vindos, mas não substituem o que foi acordado na COP de Copenhague.
Também precisamos pensar juntos a transição ecológica e justa, que inclui industrialização e infraestruturas verdes, de forma a gerar empregos dignos e combater a pobreza, a fome e a desigualdade.
De nada adianta os países e regiões ricos avançarem na implementação de planos sofisticados de transição se o resto do mundo ficar para trás ou, pior ainda, for prejudicado pelo processo.
Os países em desenvolvimento continuarão precisando de financiamento, tecnologia e apoio técnico para transformarem suas economias, combater a mudança do clima, preservar a biodiversidade e lutar contra a desertificação.
Para quebrarmos esse ciclo vicioso, precisamos atacar o terceiro desafio político: liderança. Precisamos mobilizar todos os setores no esforço comum, porém diferenciado, de prevenir a intensificação ainda mais grave da mudança do clima.
As credenciais do Brasil são sólidas. Nossa matriz energética está entre as mais limpas do planeta. Metade da energia consumida no país é renovável. No mundo esse valor é de apenas 15%.
Oitenta e sete por cento de nossa eletricidade provém igualmente de fontes renováveis, enquanto a média mundial é de vinte e oito por cento.
Com o potencial que temos em energia solar, eólica, biomassa, etanol, biodiesel e hidrogênio verde, o Brasil será até o final do meu mandato um exportador de sustentabilidade.
Temos consciência de que a Amazônia protegida é parte da solução. É por isso que estamos organizando em agosto deste ano, em Belém, uma Cúpula de países amazônicos. E é por isso que o Brasil teve sua candidatura a sede da COP30 do clima aprovada após decisão unânime do Grupo Latino-Americano e Caribenho.
Seguiremos abertos à cooperação internacional para a preservação dos nossos biomas, seja em forma de investimento ou colaboração em pesquisa científica.
É com esse espírito que manifesto meu apreço pelos aportes anunciados recentemente ao Fundo Amazônia.
Os povos originários e aqueles que residem na região Amazônica serão os protagonistas da sua preservação. Os 50 milhões de sul-americanos que vivem na Amazônia têm de ser os primeiros parceiros, agentes e beneficiários de um modelo de desenvolvimento inclusivo e sustentável.
Com a Indonésia, a República Democrática do Congo e outros países da África e da Ásia, vamos atuar em defesa das principais florestas tropicais do planeta.
O Brasil será implacável em seu combate aos crimes ambientais. Queremos liderar o processo que permitirá salvar o planeta.
Vamos cumprir nossos compromissos de zerar o desmatamento até 2030 e alcançar as metas voluntariamente assumidas no Acordo de Paris.
Muito obrigado."