Após prestar o terceiro depoimento à Polícia Federal no período de dois meses, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) diz ser vítima de perseguição. Em entrevista à Veja, divulgada nesta sexta-feira (19/5), ele afirmou que o entorno dele está sendo monitorado desde 2021. "O pessoal está vindo para cima de mim com lupa. Eu esperava perseguição, mas não dessa maneira. Na terça-feira, nem tinha deixado o prédio da PF ainda e a cópia do meu depoimento já estava na televisão. É um esculacho", disse.
Questionado sobre o receio de ser preso, Bolsonaro falou que não vê motivos para prisão. No entanto, sem citar nomes, o ex-presidente disse que há pessoas que querem prendê-lo para carimbá-lo "com a pecha de ex-presidiário". O político também citou o caso da ex-presidente Jeanine Áñez, na Bolívia. "Mas é bom não esquecer o que aconteceu na Bolívia. A ex-presidente Jeanine Áñez assumiu quando o Evo Morales fugiu para a Argentina. Depois, o outro lado voltou ao poder, ela foi presa e condenada a dez anos de cadeia. Acusação: atos antidemocráticos. Não preciso explicar mais", comentou.
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Na terça-feira (16/5), Bolsonaro prestou depoimento à PF sobre o suposto esquema de falsificação no cartão de vacina. O ex-chefe do Executivo foi questionado sobre conversas recolhidas no celular de seu ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, e dele próprio, que foram apreendidos na Operação Venire, da Polícia Federal, no Distrito Federal. Bolsonaro negou qualquer envolvimento com irregularidades.
À Veja, o ex-presidente também ressaltou não enxergar a possibilidade de ser declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Uma das ações que correm contra ele na Corte eleitoral é sobre a reunião com embaixadores, em julho do ano passado, em que Bolsonaro colocou dúvidas sobre a lisura do sistema eleitoral, sem apresentar provas.
"Qual o argumento para isso? O encontro que tive com embaixadores. Essa é uma política privativa do presidente. Eu abri para a imprensa esse encontro, não tem nada de mais. Discutimos o sistema eleitoral brasileiro, buscando transparência, nada além disso", argumentou o ex-presidente. Ainda sobre a acusação de que houve fraude nas urnas, Bolsonaro disse que o assunto é "página virada" e que não quer problemas. "Quero apenas o bem do meu país, apesar de ter uma pessoa no poder que tem um passado triste e fica potencializando coisas que não deram certo lá atrás", afirmou.
O ex-chefe do Executivo também comentou sobre os ataques do 8 de janeiro às sedes dos Três Poderes e classificou a situação como "coisa infeliz". Segundo ele, os atos golpistas prejudicaram ele, a direita e deu fôlego para a esquerda. "Nada justifica entrar e quebrar patrimônio. Marginais fizeram aquilo. Usaram da boa-fé do nosso pessoal, que nunca virou uma lata de lixo, quebrou uma vidraça ou ateou fogo em nada. Todo mundo do governo sabia o que ia acontecer. Graças a Deus houve o vazamento da imagem. Apareceu o G. Dias lá numa boa. Imagine se eu estivesse no Brasil? Talvez viessem me buscar aqui em casa como autor intelectual, como mentor daquilo", disse.