Londres — Numa das investidas mais pesadas contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, sem citar o nome do desafeto, “que aquele cidadão não tem compromisso com o país, tem compromisso com o outro governo (de Jair Bolsonaro)”. Segundo o líder brasileiro, que fez uma rápida viagem para Londres, onde participou da coroação do rei Charles III, ele não quer discutir a autonomia do BC.
“Indiquei (Henrique) Meirelles para o Banco Central. Ele era do PSDB. Eu nem o conhecia. Duvido que aquele cidadão tenha mais autonomia que o Meirelles, que discutia temas com o governo”, afirmou. “Se eu como presidente não puder reclamar dos equívocos do presidente do Banco Central, quem vai reclamar, o presidente americano?", questionou. E emendou: “Outro dia, numa entrevista, ele disse ‘para eu atingir a meta (de inflação) de 3%, a taxa de juro tem que ser acima de 20%’. Está louco? Esse cidadão não pode estar falando a verdade”.
Para Lula, o BC tem autonomia para manter a inflação sob controle, mas não é intocável e também tem compromissos com o crescimento econômico e com a geração de empregos. “Com juros de 13,75% ao ano, não se resolve esses dois casos”, assinalou. Ele garantiu que a economia vai crescer neste ano porque o governo “está injetando dinheiro na veia”, “Temos de criar empregos, dar dignidade aos trabalhadores”, complementou.
Apesar das duras críticas ao Banco Central, o presidente afirmou que não bate na instituição “porque o BC não é gente”. “Só não concordo com a atual política de juros. Sei que tem a meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), mas que, então, se mude a meta. Pode mudar a hora que quiser”, ressaltou. Segundo ele, empresários do varejo e da indústria e trabalhadores não suportam mais as altas taxas de juros. “Não tem crédito. Sem crédito, fica difícil a economia crescer “, acrescentou.
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O líder brasileiro contou que, nos seus dois primeiros mandatos, quando o Banco Central de Meirelles aumentava a taxa básica de juros (Selic), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) reduzia a TJLP, “que não existe mais, acabou”. Ele disse ainda que o governo tem o Banco do Brasil, a Caixa, o BNDES e o Banco do Nordeste com capacidade de emprestar, mas o Banco Central dificulta. Destacou ainda que, se precisar, fará um acordo com empresários para reduzir preços e, assim, derrubar a inflação.
Lula também não economizou nas críticas à privatização da Eletrobras. “O governo tem 43% das ações da empresa, mas apenas 8% dos votos. Isso não é possível”, afirmou. “Se o governo quiser comprar a Eletrobras de volta, terá de pagar três vezes o valor oferecido por outro comprador. Além disso, depois que a empresa foi privatizada, os salários dos diretores passaram de R$ 60 mil para R$ 300 mil, e os conselheiros recebem R$ 200 mil por uma reunião por mês”, frisou.