Londres — Se, no Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta dificuldades para emplacar projetos de interesse do governo no Congresso e vê a economia caminhando a passos lentos, no exterior, está avançando na reinserção do país na política internacional. Ontem, teve uma de suas maiores vitórias desde que começou a viajar mundo afora: o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, anunciou o aporte de 80 milhões de libras, cerca de R$ 500 milhões, no Fundo Amazônia. Da residência oficial do líder britânico, na 10 Downing Street, Lula foi a um encontro restrito com o rei Charles III, que será coroado hoje. Somente pouco mais de uma dezena de chefes de Estado estiveram nessa reunião.
Brasil e Reino Unido andavam afastados. Havia muita resistência por parte do governo e da realeza britânicos em relação à administração anterior, de Jair Bolsonaro, visto como um inimigo do meio ambiente. Agora, destacou Sunak, os dois países estão na mesma sintonia, seja para ampliar as relações comerciais, hoje de apenas US$ 6,5 bilhões por ano, seja para agir, em conjunto, contra os graves problemas decorrentes das mudanças climáticas.
O encontro com Sunak durou 45 minutos, no qual o primeiro-ministro britânico anunciou o investimento no Fundo Amazônia. Já fazem parte do grupo de financiadores a Alemanha, a Noruega e os Estados Unidos. O fundo havia sido suspenso no governo anterior, devido ao descompromisso com a questão ambiental.
Lula disse a Sunak que o Brasil tem grandes reservas, vem participando de encontros sobre o clima e assumido compromissos com o desmatamento zero na Amazônia até 2030. "Tenho falado para todos os países ricos e pedido para que cumpram os acordos firmados nas edições da COP. Os países mais pobres precisam de ajuda para manter suas florestas de pé e o clima que a sociedade precisa (para viver)", assinalou.
"Tenho o prazer de anunciar, nesta ocasião, que vamos investir no Fundo Amazônia, e tudo isso está sendo feito por causa do seu trabalho, de sua liderança e da sua luta (pela preservação do meio ambiente)", afirmou o líder britânico. Ele ressaltou o prazer de receber Lula em sua residência oficial e frisou que a competição entre as duas nações só se restringe ao futebol, quando Inglaterra e Brasil entram em campo. "Nossa conversa vai ser melhor do que a competição nos jogos da Inglaterra na Copa. Além de futebol, temos muito em comum. Relações econômicas, fluxo comercial e mudança climática", assinalou.
Mudança de planos
O anúncio do primeiro-ministro foi recebido com festa pelo governo brasileiro. Lula havia desistido de viajar a Londres para a coroação do rei Charles III. Mas a possibilidade de um encontro bilateral com Sunak fez com que mudasse os planos.
No comércio, o presidente e o primeiro-ministro disseram que precisam incrementar as relações entre os países. Somadas importações e exportações, a corrente chega a US$ 6,5 bilhões por ano. Segundo o governo brasileiro, os fluxos de investimentos britânicos no Brasil mantêm-se elevados e destinam-se, sobretudo, ao setor de óleo e gás. Já o estoque total de investimentos concentra-se nos setores extrativo, financeiro e de transportes. Segundo o Banco Central, o Reino Unido contava, em 2021, com US$ 22,6 bilhões investidos no Brasil pelo critério de investidor imediato (6º maior) e US$ 36 bilhões pelo critério de controlador final (4º maior).
Já o Reino Unido aparece em segundo lugar entre os 17 países com aplicações no Programa de Parcerias de Investimento, com R$ 59 bilhões (US$ 11 bilhões), atrás apenas da China, em 10º lugar, com R$ 2,2 bilhões (cerca de US$ 440 milhões). O Reino Unido, por sua vez, está em 10º na lista de maiores receptores de investimentos diretos brasileiros, com estoque, em 2020, de US$ 5,1 bilhões.