O dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira (5/5), em queda de 0,99%, cotado a R$ 4,9436 -- menor valor de fechamento desde 17 de abril. O dia foi marcado por forte apetite ao risco no exterior, com disparada de ações de bancos médios americanos e recuperação dos preços das commodities, em especial do petróleo, diante de menor temor de recessão nos Estados Unidos. Operadores relataram entrada de fluxo (comercial e financeiro) para ativos locais e desmonte de posições cambiais defensivas no mercado futuro.
Afora uma alta pontual pela manhã, quando atingiu máxima a R$ 5,0084 (+0,31%), na esteira da divulgação de dados fortes do mercado de trabalho americano, o dólar trabalhou em baixa ao longo de todo o pregão, renovando mínimas à tarde, quando desceu até R$ 4,9267 (-1,32 %), em sintonia com máximas do Ibovespa e das bolsas em Nova York. Na semana, o dólar tem baixa de 0,88%, o que leva a desvalorização acumulada no ano a 6,37%.
No exterior, o índice DXY -- termômetro do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - operou em leve baixa, com mínima aos 101,124 pontos, com perdas da moeda americana frente ao euro e esterlina. Divisas emergentes e de países exportadores de commodities subiram em bloco frente ao dólar, com raras exceções, como o rand sul-africano. Entre as divisas latino-americanas, o real apresentou o segundo melhor desempenho, atrás do peso colombiano, com ganhos acima de 2%.
Principal falcão do Banco Central americano, o presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard, minimizou o estresse no sistema bancário e disse à tarde que o cenário-base da instituição não é de recessão, mas de "pouso suave" da economia americana. Bullard foi além e afirmou não acreditar que o mercado de trabalho aquecido se traduz necessariamente em alta da inflação.
"Interessante a dinâmica do mercado, apesar de números do payroll fortes, mostrando resiliência da economia americana ao aperto monetário. Como o Fed já falou que não vai querer mais subir juros, gera esse otimismo. O Brasil surfa a onda", afirma o CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig. "O mercado parece que quer acredita que os EUA vão seguir crescendo com o mercado de trabalho super apertado e mesmo assim a inflação vai cair. Eu não compro isso".
Foram geradas 253 mil vagas de emprego nos EUA no mês passado, bem acima da medida de Projeções Broadcast (185 mil). A taxa de desemprego caiu de 3,5% em março para 3,4% em abril, ante projeção de 3,6%. Houve revisão, contudo, da geração de empregos em março (de 236 mil para 165 mil) e em fevereiro (de 326 mil a 248 mil).
"Apesar de o payroll maior que o esperado pela mediana, a revisão líquida negativa dos meses anteriores 'compensou' a alta no mês e deixou a média de três meses com leve desaceleração. Isso mitigou muito o impacto no mercado hoje", afirma o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, que vê tendência de apreciação do real. "Mantemos o call de que os fundamentos da economia devem manter o dólar no 'range' entre R$ 4,85 e R$ 4,95 nas próximas semanas".