A embaixadora dos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas (ONU), Linda Thomas-Greenfield, finalizou nesta quinta-feira (4/5) sua agenda no Brasil com uma visita à sede da Aldeias Infantis SOS em Brasília, na Asa Norte, uma entidade que atende famílias e crianças em situação de vulnerabilidade, incluindo refugiados venezuelanos. Nos últimos três dias, a embaixadora teve uma série de reuniões com a cúpula do governo brasileiro e anunciou a retomada do acordo de cooperação bilateral para combater o racismo.
Em entrevista exclusiva ao Correio, a embaixadora relatou a viagem e disse que sua visita reforça a relação entre Brasil e Estados Unidos. Thomas-Greenfield chegou ao país na terça-feira (2) e, desde então, reuniu-se com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, com a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, com o assessor para assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim, e com a primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja.
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“Nós conversamos sobre muitas das questões que temos em comum. Somos as duas maiores democracias nesta região, e temos em comum a nossa diversidade”, contou a embaixadora. “O presidente Lula e o presidente [Joe] Biden conversaram muito sobre o que podemos fazer juntos para trabalhar questões como a igualdade racial e inclusão. E sobre o que podemos fazer em relação às mudanças climáticas”, acrescentou.
Thomas-Greenfield citou o anúncio feito por Biden sobre a doação de US$ 500 milhões para o Fundo Amazônia, que ainda deve passar pela aprovação do Congresso norte-americano, como uma das medidas direcionadas ao meio ambiente.
Reuniões com ministros
A primeira agenda da embaixadora dos EUA foi com Mauro Vieira, na terça. Segundo o porta-voz da Missão dos Estados Unidos na ONU, Nate Evans, ambos conversaram também sobre a cooperação para promover a democracia e os direitos humanos. Greenfield destacou ainda os laços econômicos, que geram “empregos dignos e bem remunerados” nos dois países, de acordo com o porta-voz.
A embaixadora tratou da segurança regional, citando os casos no Haiti e na Venezuela. As autoridades também falaram sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, após declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terem causado mal-estar com os norte-americanos, embora o petista tenha se retratado e condenado a invasão territorial da Ucrânia durante sua viagem à Europa. De acordo com o porta-voz, os dois lados trataram da perspectiva de paz segundo os princípios da carta da ONU, que inclui soberania e integridade territorial.
Na quarta (3), a diplomata esteve em Salvador, onde anunciou, ao lado da ministra Anielle Franco, a retomada do Plano de Ação Conjunta para Eliminar a Discriminação Racial, o Japer, na sigla em inglês. À reportagem, Greenfield lembrou que o programa original foi assinado há 15 anos, e disse ser o momento de retomá-lo. “Estou muito feliz de ter essa experiência, e por visitar Salvador”, pontuou.
Hoje, a embaixadora esteve com Celso Amorim, com quem discutiu a importância de evoluir a missão e visão dos Bancos Multilaterais de Desenvolvimento, a próxima Cúpula dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de 2023 e o papel do Brasil como presidente do G20, grupo das 20 maiores economias do mundo, em 2024.
Brasil é "anfitrião extraordinário"
Greenfield visitou ainda o abrigo para famílias em vulnerabilidade ao lado do encarregado de negócios dos Estados Unidos no Brasil, Douglas Koneff, e foi acompanhada por uma equipe da embaixada norte-americana e da Agência da ONU para Refugiados (UNHCR, na sigla em inglês), bem como por jornalistas de veículos internacionais.
“Isso é algo que eu faço em todas as minhas visitas ao exterior onde há programas de refugiados”, comentou a embaixadora sobre a agenda. “Acima de tudo, para agradecer ao Brasil por ser um anfitrião extraordinário para 400 mil refugiados venezuelanos, dando status a 200 mil deles aqui. Reconhecendo o trauma que eles estão vivendo ao vir para o Brasil, e vendo esse programa que está apoiando mulheres e crianças vulneráveis”, completou.
Lideranças do abrigo apresentaram o projeto e a estrutura do local à embaixadora. Um grupo de refugiados atendido pela instituição fez uma breve apresentação, com músicas populares do país. Entre elas, Venezuela, chamada de “o terceiro hino” do país.