Jornal Correio Braziliense

investigação

Bolsonaro tinha 'plena ciência' de fraude no cartão de vacina, diz PF

Ex-presidente foi alvo de busca e apreensão em operação sobre falsificação de certificados de vacinação contra a covid-19

Passaporte

Moraes determinou, também, a apreensão do passaporte de Bolsonaro. A autorização para que a Polícia Federal recolhesse o documento foi concedida na mesma decisão que permitiu a ação de buscas contra o político. No entanto, o Correio confirmou, com fontes ligadas à corporação, que a ordem não foi cumprida.

Procurada, a PF informou que não comenta investigações em andamento. Porém, fontes consultadas pela reportagem informaram que os investigadores não realizaram a apreensão do documento por entenderem não ser necessária para o andamento das apurações.

Por sua vez, o Supremo informou que o magistrado autorizou a apreensão de documentos e itens de informática, mas que cabe às equipes policiais avaliarem o que é preciso para investigar o caso. O ex-chefe do Executivo nega as acusações.

Cid, o suposto articulador

Preso preventivamente, ontem, na Operação Venire, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, é apontado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como o responsável pelo esquema de fraude envolvendo a inserção de dados falsos de vacinação contra a covid-19 no sistema do Ministério da Saúde. Para a PGR, o tenente-coronel "teria arquitetado e capitaneado toda a ação criminosa", sem conhecimento do ex-presidente da República.

Cid é investigado no inquérito das milícias digitais desde que a apuração foi aberta e é considerado peça-chave na investigação. O tenente-coronel foi preso no Setor Militar Urbano, em Brasília. Durante busca e apreensão na residência dele, a Polícia Federal apreendeu US$ 35 mil e R$ 16 mil em espécie. Cid ficará detido numa unidade prisional militar.

Os investigadores identificaram a atuação de Cid na emissão do certificado de vacinação considerado "ideologicamente falso" de Bolsonaro. O comprovante do ex-presidente foi emitido pelo aplicativo ConecteSUS por um computador cadastrado no Palácio do Planalto. O cartão aponta que Bolsonaro teria recebido três doses da vacina contra a covid-19: uma Janssen e duas Pfizer, o que ele nega.

Segundo a PF, o computador usado para acessar o aplicativo em duas ocasiões, nos dias 22 e 27 de dezembro de 2022, pertence à Presidência da República. A investigação indica que um terceiro acesso ao aplicativo foi feito em 30 de dezembro pelo celular de Cid. Para a PF, o ex-ajudante de ordens administrava a conta do ex-presidente no ConecteSUS. Isso porque o e-mail funcional do ex-assessor estava vinculado ao perfil.

Trocas

Após gerar o primeiro certificado de vacinação, o endereço de e-mail foi trocado. Passou a constar endereço eletrônico pessoal do coronel do Exército Marcelo Câmara, ex-assessor especial da Presidência.

"A alteração cadastral pode ser atribuída ao fato de que Mauro Cid deixaria de assessorar Jair Bolsonaro a partir de 1º de janeiro de 2023, passando tal função a ser exercida por outras pessoas, dentre elas, Marcelo Câmara", diz a PF.

Ainda de acordo com os policiais, Câmara viajou para Orlando em três oportunidades para acompanhar Bolsonaro. "Isso explicaria a mudança no cadastro do aplicativo ConecteSUS do ex-presidente, que deveria ficar a cargo de alguém que estivesse mais próximo, no caso, o assessor Marcelo Câmara", afirma a PF.

A atuação de Cid no governo Bolsonaro ganhou os holofotes depois que vieram à tona suas conversas no WhatsApp com o blogueiro Allan dos Santos, no inquérito aberto para investigar a organização e o financiamento de atos antidemocráticos.

O tenente-coronel também esteve envolvido no caso das joias sauditas avaliadas em R$ 16,5 milhões que a gestão Bolsonaro trouxe ilegalmente para o Brasil.