Jornal Correio Braziliense

Prisão

Quem é Mauro Cid, ex-ajudante de Bolsonaro preso em operação da PF

Tenente-coronel preso pela Polícia Federal vem sendo investigado há tempos por envolvimento em várias irregularidades. Ele é apontado como "caixa paralelo" da família do ex-presidente

O tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, preso pela Polícia Federal na manhã desta quarta-feira (03/05) sob a acusação de ter falsificado dados de vacinação contra a covid-19, tem uma longa relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro, também alvo de investigação. O militar é filho do general Mauro Cesar Lourena Cid, que foi colega do ex-chefe do Executivo no curso de formação de oficiais do Exército. Os dois mantêm longa amizade.

Foi essa proximidade com o general que levou Cid a ser escolhido por Bolsonaro como seu ajudante de ordem ao longo do governo. Diante da lealdade que demonstrou ao ex-presidente, o tenente-coronel, que se formou na turma de 2000 da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), ascendeu na carreira nos últimos quatro anos. Quando passou a fazer parte da equipe do ex-presidente era um simples major.

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No final da administração Bolsonaro ficou acertado, inclusive, que ele assumiria 1º Batalhão de Ações e Comandos, unidade de Operações Especiais do Exército que fica em Goiás. A indicação causou enorme constrangimento depois da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pediu ao então comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda, para reverter o processo de nomeação. Arruda não fez o que Lula requisitou e acabou demitido poucos dias após assumir o cargo.

Mais recentemente, Cid teve o nome envolvido no escândalo das joias dadas pelo governo da Arábia Saudita à então primeira-dama Michelle Bolsonaro. O presente, avaliado em mais de R$ 18 milhões, foi apreendido pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos. O tenente-coronel se empenhou pessoalmente em tentar liberar as joias, repletas de diamantes, usando um avião da Força Aérea Nacional (FAB).

Sombra do chefe

Primeiro colocado na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e fluente em vários idiomas, Cid não economiza nas polêmicas. Em outra frente de investigação, a Polícia Federal, em processo conduzido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), apura se o militar operava uma espécie de “caixa paralelo” para pagar despesas do ex-presidente e da família dele. Ambos negam as acusações.

Cid, ex-instrutor da Aman, se preparava para assumir um posto nos Estados Unidos quando foi designado para ser ajudante de ordens de Bolsonaro. Foi a partir daí que virou a sombra do chefe. Praticamente ninguém tinha acesso ao ex-presidente se não passasse pelo crivo do militar, visto de fora, por quem não conhece a estrutura da Presidência, como um mero carregador de malas e de celulares. Foi muito, mas muito mais do que isso, pois se tornou confidente de Bolsonaro e presenciou quase todas as conversas que ele manteve no governo.

Não por acaso, causou tanto ciúmes no Palácio do Planalto, pois passou a palpitar sobre temas de diversas aéreas da administração passada. Ministros reclamavam do poder que ele havia assumido, inclusive para definir assuntos que seriam tratados com o então presidente. Cabia a ele ler todas as publicações, pela manhã, e fazer um relato ao chefe. Cuidava dos discursos e, ainda hoje, tem esse papel no auxílio a Bolsonaro.

Não é de agora que a Polícia Federal investiga o tenente-coronel. Em dezembro do ano passado, os agentes concluíram que Cid e Bolsonaro cometeram crime por divulgar informações falsas sobre a covid-19. O inquérito foi aberto a pedido da CPI da Covid depois de uma live na qual o ex-chefe do Executivo associou, de forma leviana, a vacina contra o novo coronavírus ao vírus da Aids. O relatório final das investigações foi encaminhado ao Supremo, mas o caso deverá ser julgado pela primeira instância da Justiça, pois Bolsonaro perdeu o foro privilegiado quando ficou sem mandato.

Dois dias antes da posse de Lula, Mauro Cid seguiu para os Estados Unidos com o ex-presidente, que se recusou a passar a faixa presidencial a seu sucessor. E ficou por lá com ele até o retorno de Bolsonaro ao Brasil em março último. Quem o conhece diz que ele está disposto a aguentar todas as pressões, ou seja, dificilmente falará algo que possa comprometer o ex-presidente. A expectativa é grande em relação ao depoimento dele.