Os ânimos exaltados entre os parlamentares extrapolaram os bastidores. Na noite desta terça-feira (2/5), após o presidente da Câmara, Arthur Lira, retirar da pauta a votação do PL das Fake News, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que já foi líder da Bancada Evangélica, pediu o tempo de liderança do PL para criticar a postura de Lira em relação ao debate da proposta.
“Venho à tribuna hoje para abrir meu coração para dizer que vi. Eu sei que V.Exa. (Arthur Lira) não fez por mal, porque eu conheço o coração de V.Exa., mas V.Exa. fez uma crítica ao Líder do PL, o Deputado Altineu (Cortes, PL-RJ), na semana passada, de descumpridor de acordo. Isso não foi correto. Isso deixou a minha pessoa triste, deixou a nossa bancada triste, e nós somos solidários com o nosso Líder. Nós vimos V.Exa. cassar a palavra do Líder da Frente Parlamentar Evangélica. V.Exa. não o deixou continuar falando”, apontou o deputado Sóstenes.
Altineu havia discordado de Lira, na última terça (25/4), durante a votação do requerimento de urgência do PL das Fake News, a respeito de entendimentos tomados na reunião de líderes.
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No entanto, Lira argumentou que jamais fugiu da discussão de temas. Segundo ele, a reunião sobre o PL das Fake News, na semana passada, foi no mesmo teor da ocorrida nesta terça. “E é isto que o Relator está pedindo hoje: mais tempo para discutir o texto. O tempo que nós queríamos, porque o acordo caiu na semana passada, poderíamos ter votado este projeto no outro dia; a urgência foi aprovada na terça-feira. Nós demos os 8 dias para que as big techs fizessem o horror que fizeram com a Câmara Federal. E eu não vi aqui ninguém defender a Câmara Federal!”, apontou Lira.
A fala de Lira ocorre em referência à mensagem exibida pela plataforma Google que dizia que o projeto de lei poderia “aumentar a confusão sobre o que é verdade ou mentira”. Uma medida cautelar foi determinada pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacom) para que a mensagem fosse retirada sob multa de R$ 1 milhão por hora em caso de descumprimento. Após isso, o Google retirou a mensagem ainda na tarde de terça.
Lira defendeu que todos os meios deveriam ser responsabilizados. “Vamos ver como um site de pesquisa pode ter um tratamento desonroso com esta Casa e ficar vendendo e votando coisas contra a população brasileira”, completou. “Enquanto não se respeitar a fala do outro neste plenário, não vamos ter paz”, concluiu.
O presidente da Câmara ainda desabafou: “não é fácil conduzir o Plenário nesse clima de acirramento”. Segundo divulgou a colunista Raquel Landim, da CNN, os estranhamentos ocorriam desde cedo. Uma discussão ocorreu num grupo de WhatsApp da Câmara dos Deputados após o deputado Mário Frias (PL-SP) mandar uma mensagem contra o projeto, que foi respondida por Lira. Sóstenes Cavalcante partiu em defesa do colega de partido, e com o acirramento da discussão, Lira saiu do grupo.
Um dos questionamentos apontados pelo grupo era se Lira estava de fato agindo com distanciamento necessário em relação à pauta para o posto que ocupa na presidência.