diplomacia

Países sul-americanos firmam acordo para união de forças

Reunião de cúpula das nações, em Brasília, termina com o consenso de que é preciso aliança no subcontinente para enfrentar o poderio econômico dos Estados Unidos e da Europa

Vinicius Doria
Rafaela Gonçalves
Henrique Lessa
postado em 31/05/2023 03:55
 (crédito: Evaristo Sa/AFP)
(crédito: Evaristo Sa/AFP)

A presença do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, na reunião de cúpula dos países da América do Sul, nesta terça-feira, no Itamaraty, roubou a cena de um encontro que não era promovido havia mais de oito anos, mas não tirou o foco da agenda principal.

Ao fim de um dia inteiro de debates e conversas bilaterais, os líderes das 12 nações do subcontinente acordaram que é preciso unir forças para enfrentar um cenário geopolítico global em que o multilateralismo emerge como força para enfrentar o poderio econômico de Estados Unidos e da Europa.

Depois da reunião de cúpula, os líderes assinaram o Consenso de Brasília, documento que visa reforçar a cooperação entre os países para consolidar o processo de integração da América do Sul.

Os 12 chefes de Estado e de governo comprometeram-se com a defesa da democracia, dos direitos humanos, do desenvolvimento sustentável, da justiça social, do Estado de direito, da estabilidade institucional, da soberania e da não interferência em assuntos internos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a falar da importância de criação de uma moeda comum para trocas comerciais entre os países sul-americanos. Na coletiva de imprensa que concedeu ao término da cúpula, o chefe do Executivo brasileiro disse que tinha "inveja da União Europeia" por ter unido o continente e criado uma moeda única.

"A União Europeia criou o euro, por que os Brics não podem criar uma moeda? Por que a gente é obrigado a comprar dólar para fazer o nosso comércio?", perguntou, referindo-se ao grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Na avaliação de Lula, ter uma moeda para o comércio entre nações é uma questão de soberania, para não ficar dependente dos Estado Unidos. "Na América do Sul, tem um espaço extraordinário para o crescimento de todos os países, se todos se dispuserem a criar meios de um comércio mais democrático", frisou.

Emergência do clima

Outro tema que mobilizou os debates foi a crise climática. Os 12 países acordaram que "o mundo enfrenta múltiplos desafios, em um cenário de crise climática, ameaças à paz e à segurança internacional, pressões sobre as cadeias de alimentos e energia, riscos de novas pandemias, aumento de desigualdades sociais e ameaças à estabilidade institucional e democrática", de acordo com um dos itens do Consenso de Brasília.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou que a superação da emergência climática é um dos maiores desafios globais. "Esse é o primeiro grande salto adiante, uma verdadeira luta desse que é o principal problema da humanidade", frisou. E citou como prioridade para a América do Sul avançar na integração de infraestrutura, em especial, "a interconexão elétrica".

Para o presidente do Chile, Gabriel Boric, a emergência climática é uma questão prioritária. "Todos sabemos que a crise climática não distingue fronteiras. Temos de ter uma atuação conjunta", ponderou.

O problema da imigração também foi apontado como sensível para todos os países do subcontinente. O próprio Boric lembrou que "79% da migração é intrarregional, se dá entre países da América do Sul". "Temos de avançar nesse tema e, aqui, demos um bom passo", concluiu.

Argentina

A reunião também foi boa, politicamente, para a Argentina, que atravessa uma série crise econômica agravada por um cenário de hiperinflação. O presidente Alberto Fernández espera o apoio do Brasil e de outros parceiros para o financiamento de suas importações. Ele apontou que o país dele e a região como um todo contam com um potencial econômico enorme.

"Bolívia, Chile, Argentina têm 66% do lítio mundial, você não acha que temos uma tremenda oportunidade? Claro que sim, é o que eu acredito, e essa proposta do Lula de nos reunirmos de novo é um excelente começo", declarou.

O próprio presidente Lula destacou, ao fim da reunião, que tem "muita disposição para ajudar a Argentina a sair da situação em que ela se encontra".

"A gente está tentando ajudar a Argentina, tive uma longa e boa conversa com a diretora-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional) para que ela leve em conta a seca na Argentina e a pandemia, para que não exija que a Argentina faça um sacrifício insuportável para resolver os problemas com o FMI", relatou o presidente brasileiro.

Os dirigentes definiram que, em 120 dias, vão preparar uma lista de ações prioritárias para consolidar a união dos países da América do Sul. Esse documento será elaborado pelos chanceleres das 12 nações e servirá de base para a próxima reunião de cúpula, que ainda não tem data nem local para ser realizada.


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