INVESTIGAÇÃO

Ex-integrante do MST diz que era escravizada e extorquida pelo movimento

Em nota, o MST disse que a acusação é mentirosa. "Fazem diversas acusações e em nenhuma delas apresentam um boletim de ocorrência, inquérito, processo ou condenação", informaram

Taísa Medeiros
postado em 30/05/2023 18:52
 (crédito: MyKe Sena/Câmara dos Deputados)
(crédito: MyKe Sena/Câmara dos Deputados)

A primeira audiência pública da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) recebeu dois convidados: os ex-integrantes Nelcilene Reis e Ivan Xavier, que participaram de um assentamento entre os anos de 2016 e 2019 no acampamento Marias da Terra, em Sobradinho, Distrito Federal. 

Segundo Nelcilene, para fazer parte do movimento não foi preciso arcar com nenhum custo pelo espaço de plantio. Apesar disso, a ex-membra disse que se sentia "escravizada" pelo MST. “Trabalhava de graça, tirava o dia inteiro, podia ser sábado, domingo, feriado, aniversário”, relatou. Ela relatou que a carga horária era em média de 8 horas diárias, sem fornecimento de alimentação.

Nelcilene trabalhava no mercadinho do MST e, segundo ela, os valores cobrados eram cinco vezes mais caros do que as mercearias ao redor. “Nós fomos extorquidos, não só eu como todo mundo. Nas plenárias, quando os líderes iam para lá, a gente tinha que dar ou alimento ou dinheiro, e também cobravam da gente uma taxa de R$ 10, e se não desse era mais um motivo para sair do acampamento”. Conforme o relato, o valor era utilizado para abastecer os carros das lideranças e pagar jantares.

A convidada declarou, ainda, que ao ser ameaçada a se retirar pelas lideranças, chamou a polícia. Os policiais encontraram no interior do acampamento diversas armas brancas. “Era para ser usado contra mim. Eu desobedeci e vieram me colocar para fora. Se a polícia não chegasse eu não estaria aqui. As pessoas que estavam no acampamento ficaram nos seus barracos, os alvos eram eu e meu marido”, relatou.

Os parlamentares fizeram, na segunda-feira (29), diligências em acampamentos da Frente Nacional de Luta, na região do Pontal do Paranapanema, em Presidente Prudente (SP). O deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS) disse, durante a reunião, ter ficado ‘estarrecido’ com o que viu na visita técnica. “Algumas coisas me deixaram triste e chocado: um, foi o barracão da fazenda que foi transformado num ‘centro de doutrinação’ ideológica, talvez até usando crianças, expondo crianças naquelas reuniões. De um outro lado, a situação deplorável de condição humana com que as pessoas são relatadas naquele local. É um abandono total por parte desse movimento, sem o mínimo de saneamento básico, higiene, água potável”, comentou.

Segundo o parlamentar, caso as condições fossem vistas de forma semelhantes em propriedades do agronegócio, os responsáveis seriam presos. “Hoje o agronegócio é multado quando um trabalhador é exposto a qualquer serviço análogo à escravidão, não difere em nada — e agora eu chamo a existência do MP, dos direitos humanos, para irem visitar esses acampamentos onde o povo é tratado como subhumano”, disse.

Por meio de nota, o MST refutou as declarações. “São acusações sem nenhum tipo de comprovação. Fazem diversas acusações e em nenhuma delas apresentam um boletim de ocorrência, inquérito, processo ou condenação. São mentiras”, disse o movimento.

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