Congresso

CPI do MST tem bate-boca, tapa na mesa e suco de uva

Base e oposição mais uma vez trocaram agressões, o que já era esperado tal o grau de animosidade dentro do Congresso. Mas, mesmo em meio a balbúrdia, houve espaço para um gesto de gentileza

Raphael Felice
Victor Correia
postado em 24/05/2023 03:55
 (crédito: Lula Marques/Agência Brasil)
(crédito: Lula Marques/Agência Brasil)

Aconteceu o que era esperado na primeira sessão, desta terça-feira, da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o Movimento dos Sem-Terra (MST): tornou-se um festival de bate-bocas entre deputados governistas e da oposição. Com a sala de audiências lotada, teve tapa na mesa, gritaria, distribuição de produtos agrícolas de origem nos assentamentos do MST e trocas de acusações.

O roteiro apresentado pelo relator da CPI, Ricardo Salles (PL-SP), causou polêmica logo no início da sessão. Deputados governistas afirmaram que o ex-ministro de Jair Bolsonaro estava criminalizando o movimento antes mesmo do início dos trabalhos — a programação inclui os primeiros 120 dias da CPI. Foi a senha para o clima esquentar.

O pontapé na troca de ofensas foi dado pelo deputado bolsonarista Delegado Éder Mauro (PL-PA), que definiu os integrantes do MST como "bandidos" e "marginais". Os governistas retrucaram. Sâmia Bomfim (PSol-SP) disse que "marginal é defensor de torturador", em referência à posição de bolsonaristas e do próprio ex-presidente. Valmir Assunção (PT-BA) deu um tapa na mesa para responder a Éder Mauro. "Não sou marginal, não vou admitir. Sou deputado também e não vou assumir que me chamem de marginal", bradou.

A deputada federal Caroline de Toni (PL-SC) chegou a criticar um grupo de estudantes que assistia à sessão, e que dava apoio ao MST. "Não estou criticando vocês, vocês também são vítimas de uma doutrinação que está sendo praticada dentro das escolas", disse. A afirmação foi recebida com vaias por parte da audiência. Ainda ao discursar, a parlamentar também criticou os deputados governistas, que usariam "bolsas da Louis Vuitton", mas não doariam seus recursos aos mais pobres.

O presidente da CPI, Tenente-coronel Zucco, também foi alvo da provocação dos governistas. Sâmia Bomfim lembrou que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou que a Polícia Federal (PF) retome as investigações contra Zucco por incentivar atos antidemocráticos — durante o mandato como deputado estadual, ele foi apontado pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul como suspeito de ter incentivado um ato golpista em frente ao Comando Militar do Sul. Segundo a investigação, Zucco teria estimulado a população a participar do ato.

Ao questionar o presidente da CPI, Sâmia teve o microfone cortado. Zucco respondeu que não aceitaria questões "pessoais" ou fora do tema da CPI, como foi acatado em questão de ordem do deputado Kim Kataguiri (União Brasil-SP). "Isso não será assunto aqui", frisou.

Zucco explicou, brevemente, que a postagem que motivou a investigação de que é alvo da PF é de outubro de 2022. Argumentou, ainda, que não teria incentivado atos como os ataques terroristas de 8 de janeiro, em Brasília. Em nota sobre a decisão do ministro, o deputado se disse tranquilo em relação à investigação e afirmou que sua assessoria jurídica está disponível para esclarecimentos.

Sâmia, por sua vez, criticou a decisão de Zucco de interrompe-lhe a fala e ressaltou que não fez ataques pessoais ao presidente da CPI. Citando notícias sobre a decisão de Moraes, a parlamentar argumentou que a questão "é pública, qualquer pessoa pode ver".

Mas nem tudo foi tensão e agressões verbais na sessão da CPI. Logo no começo dos trabalhos, a deputada Camila Jara (PT-MS) serviu a Ricardo Salles, e a outros parlamentares, suco de uva produzido em um dos assentamentos do MST — para mostrar que as terras ocupadas por integrantes do movimento são capazes de oferecer gêneros alimentícios de qualidade. Salles provou o suco, admitiu que era muito bom, mas disse que não mudaria a linha de trabalho que adotará.

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