A ministra da Saúde, Nísia Trindade, discursou nesta segunda-feira (22/5) na Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra, na Suíça. O evento é realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e define as políticas a serem adotadas pelo órgão no próximo ano.
Em sua fala, Nísia alertou que os países precisam de sistemas de saúde mais preparados para lidar "com as emergências que virão", citando a pandemia da covid-19 e os impactos das mudanças climáticas. Sobre o Brasil, a ministra frisou que a agenda do governo visa a defesa da equidade em saúde, da cultura da paz e do multilateralismo. Já sobre o cenário mundial, defendeu a cooperação em tecnologia e a descentralização da produção de insumos, como vacinas.
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"É imperioso, neste momento, aprendermos lições de uma pandemia que deixou seis milhões de mortos, mais de 700 mil no Brasil, com grave impacto nos sistemas de saúde, na saúde mental, na economia e no tecido social", enfatizou Nísia. "Precisaremos de sistemas nacionais de saúde mais preparados para as emergências que virão", acrescentou.
Saúde e desigualdade
"Quero também dizer que o Brasil está de volta, o que significa a retomada de nossa agenda em defesa da equidade em saúde, da cultura da paz e do multilateralismo, fundamentais neste tempo", disse a ministra.
Nísia ressaltou que já se passou metade do tempo para que os países cumpram a agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2023, mas que "estamos em um mundo em situação pior do que antes da pandemia da covid-19". Ela argumentou ainda que a cooperação e descentralização da produção de medicamentos e vacinas é essencial para reduzir a desigualdade no acesso à saúde. "Desigualdade faz mal à saúde", pontuou. E reforçou a criação de uma resolução, no âmbito da OMS, para a saúde dos povos indígenas.
Confira o discurso na íntegra:
Excelentíssimo Senhor Tedros Adhanon, Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde,
Excelentíssimo Senhor Presidente desta Assembleia,
Caros colegas, amigos,
Senhoras Ministras, Ministros,
É uma grande honra subir a este púlpito para, em nome do Brasil, celebrar o 75º aniversário da OMS. Trago também uma saudação do Presidente do Brasil, Presidente Lula, que cumprimenta a Organização pela sua história e pela liderança durante o tempo de pandemia.
O grande potencial da Organização está em sua capacidade de enfrentar os desafios contemporâneos e antecipar os futuros desafios. É imperioso neste momento aprendermos lições de uma pandemia que deixou 6 milhões de mortos, mais de 700 mil no Brasil, com grave impacto nos sistemas de saúde, na saúde mental, na economia e no tecido social. Precisaremos de sistemas nacionais de saúde mais preparados para as emergências que virão, e dar respostas a problemas latentes durante esta pandemia.
Quero também dizer que o Brasil está de volta, o que significa a retomada de nossa agenda em defesa da equidade em saúde, da cultura da paz e do multilateralismo, fundamentais neste tempo.
Precisaremos enfrentar os desafios da mudança do clima e seus impactos em saúde. Recordemos que mais da metade do tempo para realizar os ODS já transcorreu, e a despeito de alguns avanços como os demonstrados pelo Dr. Tedros hoje, estamos em grande parte do mundo em situação pior do que antes da Covid-19.
Precisamos nesse momento fortalecer substancialmente os sistemas de vigilância e os sistemas de saúde como um todo. Necessitaremos mais inovação, transferência de tecnologia, financiamento, voltados para sistemas de saúde mais equitativos. Em tempos de inteligência artificial e avanços na saúde digital, é crucial que essas sejam ferramentas acessíveis e eticamente orientadas. Temos que descentralizar a produção de medicamentos, vacinas e insumos estratégicos para garantir o acesso equitativo em todo o mundo. Trabalhar para reduzir as desigualdades e diante e dentre elas a desigualdade de acesso aos benefícios do conhecimento científico e tecnológico. Desigualdade faz mal a saúde.
Isso nos exigirá um multilateralismo revigorado. Não alcançaremos esses objetivos sem uma reforma da arquitetura global da saúde que a torne mais ágil, coesa, com a OMS no centro desse processo e que reduza as desigualdades entre países e regiões. Temos de democratizar o sistema internacional de saúde, para que as vozes dos Estados e de suas populações, sobretudo as negligenciadas, possam ser ouvidas. A conclusão exitosa do instrumento sobre pandemias e a reforma do Regulamento Sanitário Internacional são elementos decisivos nesse momento.
Isso implica também ampliar nossa agenda: reduzir desigualdades e promover a equidade. Nesse sentido reforço a proposição que o Brasil traz a essa Assembleia de uma resolução com defesa do respeito às especificidades da saúde dos povos indígenas. Agradeço a todos que apoiam esse nosso pleito.
Confiamos no papel que a OMS possa exercer para realizar essas aspirações e na liderança do Dr. Tedros Adhanon. O Brasil voltou para somar sua voz e sua atuação em defesa da equidade em saúde, da paz e da solidariedade internacional.
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