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Lula vai conversar com partidos que têm ministérios para cobrar apoio

Ante a crise na articulação política do governo, presidente resolve tomar a frente e começará a cobrar votos das legendas para as propostas de interesse do Planalto no Congresso. Chefe do Executivo dará início, amanhã, a uma série de reuniões com as siglas

Taísa Medeiros
TAINÁ ANDRADE e VICTOR CORREIA
postado em 09/05/2023 03:55
Lula ao lado de Padilha: nos bastidores do Planalto, presidente é apontado como o novo titular das negociações com os parlamentares -  (crédito: Ricardo Stuckert/PR)
Lula ao lado de Padilha: nos bastidores do Planalto, presidente é apontado como o novo titular das negociações com os parlamentares - (crédito: Ricardo Stuckert/PR)

Após uma série de derrotas do governo no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu chamar à responsabilidade os partidos aliados. Ele exige os votos das legendas nas propostas do Executivo, apreciadas no Parlamento.

A partir de amanhã, ocorrerá uma série de reuniões com os líderes da Câmara e do Senado, assim como com os ministros que representam legendas da base.

Quem estará à frente da organização dos encontros é o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, alvo de críticas pela crise de articulação com o Congresso.

"O presidente Lula pediu, delegou a responsabilidade. E a tarefa, como coordenador político do governo, nesta semana, é de fazer reuniões dos ministros que foram indicados pelos partidos junto com líderes da Câmara para discutirmos a ação na Câmara", ressaltou Padilha, em coletiva de imprensa, após reunião com Lula.

Conforme destacou Padilha, os encontros com os partidos serão para discutir o calendário das proposições para o primeiro semestre.

De acordo com o ministro, a primeira reunião deve ser com o PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin — ele, inclusive, poderá participar.

Na sequência, estão o PSD e, principalmente, o MDB e o União Brasil, que deram votos decisivos para a derrota do governo sobre o Marco do Saneamento.

Padilha disse que a intenção de Lula é que essa coordenação siga sob o guarda-chuva da Secretaria de Relações Institucionais, mas frisou que, se precisar, o presidente integrará a articulação. "Toda a vez que ele (Lula) precisar entrar em campo, vai entrar. É bom demais a gente ter um Pelé da política para poder entrar em campo a hora que precisar", comentou.

As preocupações do Palácio do Planalto são com o cumprimento do calendário de aprovação de projetos de seu interesse, especialmente as matérias de caráter econômico, como a reforma tributária e o arcabouço fiscal. Mas também há atenção especial com o PL das Fake News.

Em relação ao Marco do Saneamento, a mobilização se volta para o Senado, onde o governo tentará reverter a derrota sofrida na Câmara.

"Entendemos o que aconteceu na semana passada: uma derrota importante. Aconteceu em um momento em que você pode perder, que é o começo do campeonato. Estamos absolutamente convencidos de que iremos ganhar as vitórias mais importantes", comentou Padilha, sobre a votação do Marco do Saneamento e do adiamento da apreciação do PL das Fake News.

As conversas com os senadores serão administradas pelos ministros da Casa Civil, Rui Costa, e das Cidades, Jader Filho.

Em evento na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), ontem, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), sinalizou que "há uma tendência" de a Casa aprovar o decreto legislativo sobre o saneamento avalizado pela Câmara, consolidando a derrota do governo.

Pacheco frisou, ainda, que sempre há espaço para aprimoramento das relações políticas entre o Executivo e o Congresso. "O governo, embora sejam 120 dias, ainda está começando, está em fase de maturação, teve muitas dificuldades no início do ano, tivemos um 8 de janeiro, que foi uma expressão muito grave de atentado à democracia e às instituições. Então, estamos em uma fase de afirmação da democracia e do próprio governo", argumentou.

O parlamentar defendeu que seja dado "o tempo necessário" para que o Executivo possa organizar base e articulação política.

O presidente do Congresso falou também em buscar mais equilíbrio entre os Poderes. "Vivemos 10 anos de muita turbulência no país, políticas das mais diversas, e é um momento muito propício para encontrarmos estabilidade. Estabelecemos uma agenda que seja produtiva, algo que possa evoluir o Brasil, e não involuir", sustentou. "Essa é a minha busca constante. Vamos estabelecer essa boa relação com o Poder Executivo, com o Judiciário, e encontrar a pauta que seja relevante para o país", enfatizou Pacheco. (Colaborou Ândrea Malcher)

 


Encontros periódicos

A partir de amanhã, as reuniões com partidos aliados ocorrerão de forma regular e contarão com a presença de ministros indicados pelas siglas. As cobranças serão aos titulares das pastas e a secretários que compõem o alto escalão do governo.

"Você tem, por exemplo, o ministro das Cidades (Jader Filho), que é um dos autores do decreto do saneamento, e a bancada do MDB votou contra", citou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. "É um momento, inclusive, do ministro e do conjunto de representantes da bancada política explicar quais são os motivos (para votar contra)", prosseguiu.

Além da derrota em relação ao saneamento, o governo viu a instalação de duas comissões parlamentares de inquérito (CPIs), que têm potencial de minar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a que trata dos atos golpistas de 8 de janeiro e a do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Por falta de votos, o Planalto ainda viu adiada a votação do PL das Fake News, que busca regular a atividade das redes sociais.

Segundo Padilha, esses encontros serão feitos no "ambiente mais tranquilo possível" por mais que a situação entre o governo e a base aliada seja de fragilidade e de críticas mútuas nos bastidores. Apesar de o ministro ressaltar que Lula delegou a responsabilidade sobre os encontros, nos bastidores do Planalto o presidente é apontado como o novo titular das negociações com os parlamentares.

Lula chegou a cobrar Padilha em público, na semana passada — durante a instalação do Conselho de Desenvolvimento Econômico, Social e Sustentável, o Conselhão — por causa das queixas que tem recebido de congressistas a respeito da articulação do governo.

 

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