O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, acredita que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), criada no Congresso nesta quarta-feira, 26, deve servir para adiantar depoimentos que, no judiciário, ainda demorariam alguns meses para ocorrer. Segundo ele, a comissão irá acelerar a apuração dos atos golpistas do dia 8 de janeiro e pode se voltar contra a oposição - que nos últimos meses vinha trabalhando pela criação do colegiado, ao contrário do Palácio do Planalto, que só mudou de posição após a divulgação de imagens do general Gonçalves Dias na sede do Executivo federal durante os ataques.
"A CPI foi reivindicada fortemente pelos fascistas. A CPI vai agilizar a responsabilização deles", afirmou. "Gente que só iria depor daqui a três meses irá depor daqui a semanas porque a tem uma lógica diferente, do ponto de vista legal, do que um inquérito na polícia conduzido pelo poder judiciário (...) Nenhum golpista ficará impune no Brasil", explicou Dino em entrevista ao canal ICL Notícias nesta terça-feira, 25.
De acordo com o ministro, a investigação dos atos que depredaram as sedes dos Três Poderes avança "pelos núcleos econômico, político e militar". Dentro do núcleo econômico, ele destacou, a apuração chega apenas a empresários de relevância regional. No militar, entretanto, já chega a generais e oficiais.
"Nós tivemos três vertentes principais que conduziram ao 8 de janeiro. O primeiro deles é o núcleo econômico. Mas esse núcleo econômico até aqui não parece envolver grandes financiadores", afirmou. "O personagem mais notável do núcleo político já identificado e, neste momento, preso por ordem judicial é o meu antecessor (...) E nós tivemos, em terceiro lugar, esse núcleo militar, alguns já identificados. E o nível hierárquico desses militares está subindo, as imagens também ajudam nesse aspecto."
Dino reiterou ainda que os generais e oficiais envolvidos nos ataques traíram o Brasil. "São traidores, juraram defender a pátria e participaram de uma conspiração", disse."Esses traidores vão responder perante o poder judiciário."
O vazamento das imagens que mostram o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Marco Edson Gonçalves Dias, dentro das dependências do Palácio do Planalto agindo de forma pacífica entre os manifestantes, partiu de "bolsonaristas infiltrados no governo", afirmou Dino.
"Tenho certeza que foi um vazamento bolsonarista, isso eu afirmo cabalmente. Inspiração bolsonarista, pessoas que são adeptas dessa exótica ideologia. Com qual propósito? Provavelmente tumultuar, criar uma narrativa de que o general e o próprio governo participaram. Eles têm essa alucinação", disse. "Lamento muito que agentes públicos tenham feito um vazamento com má intenção, e acaba que a verdade sempre vence porque não adianta borrar a mentira", comentou.