Lisboa — No último dia de visita a Portugal, numa data simbólica para o país europeu, que comemora neste 25 de abril 49 anos do fim da ditadura de António Salazar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu a declaração mais enfática de defesa da Ucrânia, país invadido pela Rússia há mais de um ano. “Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia”, afirmou em discurso na Assembleia da República.
Lula, que teve a fala contestada várias vezes por deputados do Chega, partido de extrema-direita, ressaltou que o Brasil compreende a apreensão da Europa com o retorno da guerra e reforçou que o Brasil acredita “em uma ordem internacional fundada no respeito ao Direito Internacional e na preservação das soberanias nacionais”. Mas insistiu na importância das negociações pela paz. “É preciso admitir que a guerra não poderá seguir indefinidamente. A cada dia que os combates prosseguem, aumenta o sofrimento humano, a perda de vidas, a destruição de lares”, acrescentou.
Antes mesmo de desembarcar em Portugal, Lula vinha sendo criticado por ter igualado Rússia e Ucrânia, ao dizer que os dois países eram culpados pelo conflito. Afirmou ainda que a União Europeia e os Estados Unidos alimentavam a guerra em vez de negociarem a paz. O petista foi confrontado várias vezes pelas declarações, inclusive pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza, que reforçou o compromisso de seu país com a União Europeia.
Crises e diálogo
Lula lembrou que a guerra entre Rússia e Ucrânia provocou crises alimentar e energética em todo o mundo. “Todos nós fomos afetados, de alguma forma, pelas consequências da guerra. ?É preciso falar da paz. Para chegar a esse objetivo, é indispensável trilhar o caminho pelo diálogo e pela diplomacia”, assinalou. Ele lembrou que tanto Brasil quanto Portugal assumiram um compromisso absoluto com o multilateralismo. “Esse compromisso nos força a reconhecer que as ferramentas da governança global se têm mostrado inadequadas para fazer frente aos desafios atuais”, frisou.
Para ele, o Conselho de Segurança das Nações Unidas encontra-se praticamente paralisado. “Isso ocorre porque sua composição, determinada ao fim da Segunda Guerra Mundial, 78 anos atrás, não representa a correlação de forças do mundo contemporâneo. Por isso, defendemos uma reforma que resulte na ampliação do Conselho, de maneira a que todas as regiões estejam representadas de forma permanente, de modo a torná-lo mais representativo em seu processo deliberativo e mais eficaz na implementação de suas decisões”, disse.
O presidente afirmou ainda estar retomando a tradição diplomática do Brasil e renovando os compromissos com as instituições multilaterais. “Apoiamos o ingresso da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) como membro observador da Conferência Ibero-Americana, iniciativa que aproxima duas importantes esferas de diálogo e de concertação”, detalhou. E voltou a reforçar estar empenhado em avançar nas tratativas para o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, “criando vínculos ainda mais robustos entre nossas duas regiões”.
Sob aplausos, admitiu que sua nova jornada na Presidência da República não será fácil. “Mas o Brasil, assim como Portugal, é um país obstinado. Obstinado pela paz, obstinado pela justiça, obstinado pela inclusão social, obstinado pela liberdade. Trabalhamos juntos para a construção de um mundo mais justo, mais livre e mais próspero.”