A demissão do então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, foi considerada como um ato "correto" pelo presidente em exercício Geraldo Alckmin. Dias pediu para sair do cargo na quarta-feira (19/4), após a CNN Brasil divulgar imagens que mostram o ex-ministro no Palácio do Planalto durante a invasão e depredação dos prédios na Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro.
O ex-ministro aparece em imagens de câmeras de segurança dentro do palácio no dia dos ataques. Os vídeos gravados na hora dos atentados mostram Gonçalves Dias circulando entre os vândalos, sem realizar nenhum ato para identificar ou prender os autores da depredação dos prédios públicos.
Sobre o caso envolvendo a ação de Gonçalves Dias, Alckmin ainda reconheceu que a falta de ação do ex-ministro do GSI em combater os manifestantes golpistas se deu por causa de uma "falta de comando". “Ele explicou que naquele momento estava com dificuldades de comando”, afirmou Alckmin na chegada ao Palácio do Planalto, que aproveitou o dia de folga para levar a família para conhecer a sede do poder Executivo. "Vamos aguardar [as investigações]", pontuou.
A ação de Gonçalves Dias durante a invasão de militantes golpistas no Palácio do Planalto é investigada pela Policia Federal (PF), no inquérito que apura os atentados que ocorreram em Brasília no 8 de janeiro, quando extremistas invadiram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF).
Na sexta-feira (21/4), Dias prestou depoimento aos agentes da PF por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF. No depoimento, G. Dias respondeu todas as perguntas e afirmou que não foi omisso. Segundo ele, houve um apagão no sistema de inteligência e argumentou que no momento não tinha condições de efetuar sozinho a prisão dos invasores. G. Dias também se mostrou disposto a colaborar com a PF no que for preciso durante as investigações.
O ministro interino do GSI, Ricardo Cappelli, disse que está tornando públicas todas as imagens do circuito interno do Planalto, que tem 160 horas de duração. Ele negou ainda que a situação seja uma crise no governo.
Em Lisboa, o presidente Lula disse que irá resolver a questão do GSI quando voltar da Europa. O presidente afirmou, ainda, que não cabe a ele opinar sobre a decisão da Câmara e do Senado de instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os atos golpistas.
- Ex-ministro-chefe do GSI Gonçalves Dias presta depoimento à PF, em Brasília
- Ministro do GSI que pediu demissão é militar e homem de confiança de Lula
Quem é Gonçalves Dias
A divulgação das imagens em que Marco Edson Gonçalves Dias, conhecido como G.Dias, aparece apático diante dos atos de invasão de depredação do Planalto e que seus subordinados - funcionário do GSI - interagem e até dão água aos golpistas fez com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdesse seu primeiro ministro.
Dias era homem de confiança de Lula. Ele já havia atuado ao lado do petista nos outros dois mandatos presidenciais, sendo responsável pela segurança do Chefe do Executivo.
O nome do ex-ministro havia sido anunciado para o cargo em 29 de dezembro, antes da posse de Lula. Ele atuou como Secretário de Segurança da Presidência da República nos dois mandatos anteriores de Lula e fez parte da transição para o segundo governo Lula, participando do grupo responsável pela área de inteligência estratégica. Quando a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) venceu as eleições, em 2010, ele foi nomeado chefe da Coordenadoria de Segurança Institucional.
G. Dias, 73 anos, nasceu em Americana, município da região de Campinas, em São Paulo. Iniciou a carreira militar em 1969, quando se formou na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx). Depois de entrar para as Forças Armadas, ele cursou a Academia Militar das Agulhas Negras e se tornou oficial em 1975. Após 11 anos, o ex-ministro entrou para a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), em 1986, continuando sua formação na Escola de Comando e Estado Maior do Exército (ECEME), a qual concluiu em 1994.
Como ministro-chefe do GSI, Dias era o responsável por orientar o serviço de inteligência de segurança do presidente da República. Além disso, o órgão monitora riscos institucionais e tem Agência Brasileira de Inteligência (Abin) vinculada à pasta.