Jornal Correio Braziliense

Portugal

Em Portugal, Lula encontra um primeiro-ministro enfraquecido e envolto em escândalo

Segundo especialistas, é explícito o desgaste do Partido Socialista, há quase uma década no poder

Lisboa — A visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Portugal ocorre num momento nada favorável para o primeiro-ministro português, António Costa, do Partido Socialista (PS). Há pouco mais de um ano no comando do atual governo, ele enfrenta o derretimento de sua popularidade devido a uma série de escândalos, já perdeu quase metade de seus auxiliares do primeiro escalão e, na economia, enfrenta a maior inflação em mais de três décadas, greves constantes — professores e trabalhadores do sistema de trens têm feito paralisações constantes —, uma gravíssima crise na habitação e uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da TAP, a empresa aérea pública. Lula e Costa participam da reunião de cúpula entre Brasil e Portugal neste sábado (22/04).

Segundo especialistas, é explícito o desgaste do Partido Socialista, há quase uma década no poder. Tanto que cresce a pressão para que o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza dissolva o Parlamento e antecipe as eleições previstas para 2026. Ele, no entanto, tem relutado em seguir nessa direção, apesar de não economizar nas críticas a Costa e ao PS. A grande preocupação de Rebelo de Souza é a possibilidade de a extrema-direita chegar ao poder. Pelas pesquisas mais recentes de intenções de votos, o PS e o PSD, de centro-direita, têm 30% da preferência do eleitorado. O ultradireidista Chega aparece com 13%. Cogita-se a hipótese de o PSD se coligar à legenda extremista. Hoje, o PS tem maioria absoluta na Assembleia. "A extrema direita tem um campo fértil em Portugal e qualquer brecha aberta pode ser um perigo”, diz a pesquisadora Fernanda Sarkis.

Ex-ministro de Assuntos parlamentares e filiado ao PSD, Miguel Relvas vê com preocupação "toda a trapalhada política" em Portugal, agravada agora com a presença de Lula em Portugal, que deu munição à extrema-direita, ao se cogitar a possibilidade de o líder brasileiro falar na sessão solene de comemoração do 25 de Abril, a Revolução dos Cravos. Para ele, a polarização que se vê no Brasil está sendo transportada para o país europeu, o que é um perigo. "Houve uma sucessão de erros tanto do lado do governo português, ao querer incluir Lula numa cerimônia interna, quanto do presidente brasileiro, com suas declarações sobre a Ucrânia, que minou a imagem de neutralidade que sempre caracterizou a diplomacia brasileira", assinala. Ele acredita, porém, que ainda é possível criar uma agenda positiva dessa visita de Lula. Portugal e Brasil devem assinar pelo menos 13 acordos de cooperação.

Na avaliação da professora Luísa Godinho, doutora pela Universidade de Genebra, a confusão em torno da visita de Lula a Portugal ultrapassa todos os limites do bom-senso. "Estão se esquecendo dos fortes laços históricos que unem Brasil e Portugal. Com isso, a política rasteira ganha espaço, ao misturar as declarações de Lula com questões internas", frisa. Professor aposentado da Universidade de Lisboa, Carlos Oliveira Santos enfatiza que Portugal reflete a fragmentação política que prevalece em vários países e que merece enorme atenção.

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