O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, divulgou, ontem, um relatório elaborado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) que detalha "anomalias" — como classificou — durante o segundo turno da eleição presidencial, em 30 de outubro do ano passado. O levantamento reforça a suspeita de uma ação do Ministério da Justiça e Segurança Pública, então comandado por Anderson Torres, para interferir no resultado do pleito por meio de operações da PRF.
"A primeira anomalia: muito mais operações na região Nordeste que nas demais. Os órgãos de controle e investigação vão extrair conclusões desse fato objetivo e colher a defesa dos gestores da época para que expliquem as razões gerenciais que tiveram, à época, de determinar uma concentração de operações na região Nordeste", explicou Dino.
Segundo o ministro, "a segunda anomalia foi a mudança de planejamento naquilo que havia sido programado para o primeiro e o segundo turno, e foi duplicado com a alocação de mais recursos. E a terceira (anomalia): houve determinação para que a PRF atuasse com mais rigor, em parceria, inclusive, com a PF (Polícia Federal)".
Os dados coletados pela PRF mostram que a quantidade de pontos fixos de fiscalização no Nordeste foi de 290. Tal número de blitze chama a atenção se comparado com os das demais regiões: no Norte, foram 96 pontos; no Sudeste, 191; no Sul, com 181; e no Centro-Oeste, 153.
Ao analisar a distribuição de efetivo da PRF, entre agentes plantonistas e convocados, no Nordeste foram deslocados 795 para o dia 30. No Sudeste, segunda região que mais concentrou policiais para a fiscalização de estradas, foram 528.
Entre ônibus fiscalizados entre os dias 28 e 30 de outubro de 2022, só no Nordeste 2.185 veículos passaram por barreiras da PRF. Uma distância grande em relação ao Norte (310), Sudeste (571), Sul (632) e Centro-Oeste (893). E no Nordeste, em 30 de outubro, 324 ônibus foram fiscalizados.
Dino salientou que as festas de São João costumam ser o período de maior atuação da corporação no Nordeste, mas que a ação no segundo turno foi ainda maior. "Houve alguns casos em que a operação do dia 30 ultrapassou o total de operações realizadas naquele estado durante todo o ano", comparou.
Até a alocação de recursos corrobora com a suspeita de que houve uma clara tentativa de interferir no resultado das eleições presidenciais. Em setembro de 2022, a PRF definiu que aplicaria R$ 3,6 milhões para a atuação no período eleitoral, mas foram alocados mais R$ 3,5 milhões para as fiscalizações em 30 de outubro.
"Chegou a ter mais de uma intervenção para esse planejamento específico para o segundo turno. Houve, sim, um direcionamento para o Nordeste. Depois, foi corrigido para Minas Gerais. Deixava claro que havia um interesse ali que não era, em si, rotineiro. A forma como foi dada nessa eleição, especificamente, foi bem diferente de todos os modi operandi anteriores da PRF", observou o diretor-executivo da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Antônio Jorge Azevedo Barbosa.