O ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, que pediu demissão do cargo nesta quarta-feira (19/4), era general da reserva do Exército e homem de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele já havia atuado ao lado do petista nos outros dois mandatos presidenciais, sendo responsável pela segurança do Chefe do Executivo.
Marco Edson Gonçalves Dias, conhecido como G.Dias, pediu exoneração após serem divulgadas, pela CNN Brasil, imagens de câmeras de segurança do Palácio do Planalto, do dia 8 de janeiro, em que ele e outros funcionários do GSI aparecem interagindo e orientando golpistas que invadiram o prédio, resultando em graves atos de depredação. A informação foi confirmada pelo Correio.
O nome do ex-ministro havia sido anunciado para o cargo em 29 de dezembro, antes da posse de Lula. Ele atuou como Secretário de Segurança da Presidência da República nos dois mandatos anteriores de Lula e fez parte da transição para o segundo governo Lula, participando do grupo responsável pela área de inteligência estratégica. Quando a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) venceu as eleições, em 2010, ele foi nomeado chefe da Coordenadoria de Segurança Institucional.
Gonçalves Dias, 73 anos, nasceu em Americana, município da região de Campinas, em São Paulo. Iniciou a carreira militar em 1969, quando se formou na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx). Depois de entrar para as Forças Armadas, ele cursou a Academia Militar das Agulhas Negras e se tornou oficial em 1975. Após 11 anos, o ex-ministro entrou para a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), em 1986, continuando sua formação na Escola de Comando e Estado Maior do Exército (ECEME), a qual concluiu em 1994.
Ao concluir sua formação militar, Dias comandou o 19º Batalhão de Infantaria Motorizado e desempenhou funções como as de oficial de Operações do Comando da Amazônia, chefe do Estado-Maior da 2ª Região Militar, observador militar das Nações Unidas na América Central e assessor-chefe do GSI. Além disso, foi comandante da 6ª Região Militar, em Salvador.
Em 2012, quando estava no comando da Região Militar da Bahia, G.Dias se envolveu em uma polêmica ao receber policiais grevistas do estado, que o presentearam com um bolo de aniversário. Em contrapartida, o então oficial assegurou que nada aconteceria contra eles. Alguns meses depois do episódio Dias foi afastado do comando e então, enviado à reserva — nome dado à aposentadoria permanente de militares.
Como ministro-chefe do GSI, Dias era o responsável por orientar o serviço de inteligência de segurança do presidente da República. Além disso, o órgão monitora riscos institucionais e tem Agência Brasileira de Inteligência (Abin) vinculada à pasta.
Aliados de Lula aconselharam a demissão
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com aliados na tarde desta quarta-feira (19/4), após a divulgação das imagens do dia 8 de janeiro, para decidir o futuro do GSI. Ele foi aconselhado a demitir Gonçalves Dias. Então o ex-ministro se adiantou e pediu para deixar o cargo.
Nas imagens, que motivaram a exoneração, é possível ver G.Dias interagindo e orientando os criminosos. Às 16h29 do dia 8 de janeiro, duas câmeras registraram Gonçalves Dias durante ataques de invasores no Palácio do Planalto. Em nota, o Gabinete de Segurança Institucional afirmou que vai apurar a conduta dos envolvidos. O órgão também afirmou que a ação dos agentes foi uma estratégia para a evacuação dos prédios invadidos pelos extremistas. Segundo o comunicado, o caso já é investigado internamente para verificar qualquer irregularidade.
Em entrevista à Globo, depois da demissão, Dias afirmou que estava no local para retirar os extremistas. "Eu entrei no Palácio depois que o Palácio foi invadido e estava retirando as pessoas do 3º e 4º piso, para que houvesse a prisão no 2º", disse o oficial da reserva à emissora.
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Ausência na CPI
Horas depois da divulgação das imagens, Gonçalves Dias informou que iria ao depoimento marcado na Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados. Ele prestaria esclarecimentos sobre as ações de sua pasta durante os atos antidemocráticos de 8 de janeiro — que culminaram na depredação dos prédios dos Três Poderes. Como justificativa, o ministro apresentou um atestado médico e se colocou “à disposição para agendamentos futuros".
Gonçalves Dias foi convocado a prestar depoimento por parlamentares da oposição. Os políticos alegam que os ministros do governo Lula teriam prevaricado nas ações de enfrentamento aos bolsonaristas que destruíram os prédios. (Com Renato Souza e Luana Patriolino)