No Dia dos Povos Indígenas, celebrado nesta quarta-feira (19/4), as deputadas federais Célia Xakriabá (Psol-MG) e Erika Hilton (Psol-SP) protocolaram um projeto de lei que propõe a inclusão do nome de Tibira do Maranhão no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Indígena e homossexual, ele foi executado com tiro de canhão e é lembrado como a primeira vítima de homofobia no Brasil.
"Tibira do Maranhão foi executado em 1614, com uma bala de canhão, pelos que faziam do Brasil uma colônia subserviente, e que tinham como objetivo dizimar os povos originários, acabar com suas culturas e despi-los de qualquer orgulho que tinham de si", escreveram Célia e Erika nas redes sociais.
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"Hoje, então, se faz necessário de reconhecer o heroísmo de Tibira do Maranhão, ao ousar ser quem se era e por defender seu território, incluindo seu nome no livro dos heróis nacionais brasileiros", acrescentaram as parlamentares. Segundo o coletivo Tybyra, que reúne indígenas LGBTQIA+, a proposta é um marco, pois reconhece a "luta de todas as pessoas LGBTI+ e dos povos indígenas que enfrentam diariamente o preconceito e a discriminação".
Quem foi Tibira do Maranhão?
A história de Tibira do Maranhão foi resgatada pelo antropólogo Luiz Mott. Até então, a história do indígena tupinambá era desconhecida. Entre 1613 e 1614, o frade Yves d'Évreux relatou a execução de Tibira. Ele foi morto por causa da orientação sexual. No primeiro capítulo de Viagem ao norte do Brasil, o representante da Igreja Católica o descreve como "selvagem, iníquo, impuro e imundo".
"Um pobre índio (sodomita), bruto mais cavalo do que homem, fugiu para o mato por ouvir dizer que os franceses o procuravam e aos seu semelhantes para matá-los e purificar a terra de suas maldades por meio da santidade do Evangelho, da candura, da pureza, e da clareza da religião Católica Apostólica Romana", continuou o frade.
"Em presença de todos os principais, dos selvagens e dos franceses (…), imediatamente a bala dividiu o corpo em duas porções, caindo uma ao pé da muralha, e outra no mar, onde nunca mais foi encontrada", descreveu Yves.
Em entrevista à BBC News Brasil, o antropólogo Luiz Mott afirmou que a narrativa do frade demonstra o preconceito por parte da Igreja Católica à época — e que é refletido até hoje pelos crimes de homofobia no país. O especialista e ativista luta para que Tibira seja canonizado.
Dia dos Povos Indígenas
Dia 19 de abril passou a ser celebrado o Dia dos Povos Indígenas, em substituição ao Dia do Índio. O projeto para a mudança de nome é de autoria da então deputada federal Joenia Wapichana — hoje presidente da Funai. “O propósito é reconhecer o direito desses povos de, mantendo e fortalecendo suas identidades, línguas e religiões, assumir tanto o controle de suas próprias instituições e formas de vida quanto de seu desenvolvimento econômico”, afirmou a indígena.
"Dia de luta, de resistência, de lembrar a nossa história. Dia dos povos indígenas, das mulheres biomas, do povo da terra. Dia de contar a história que tentam apagar e ecoar nosso canto ancestral. Dia de compromisso com a Terra. Antes do Brasil da coroa, existe o Brasil do cocar", definiu a deputada Célia Xakriabá sobre a data.