Jornal Correio Braziliense

CONGRESSO

Deputada acusa parlamentar do PCdoB de assédio na Câmara: 'Chegou por trás'

Júlia Zanatta afirma que Márcio Jerry quis intimidá-la ao "chegar por trás" e falar ao ouvido. Parlamentar nega e diz que se trata de "fake news absurda"

A deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC) acusou, nesta quarta-feira (12/4), o parlamentar Márcio Jerry (PCdoB-MA) de assédio durante uma discussão ocorrida em sessão da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados, na terça-feira (11/4). De acordo com Júlia, o deputado “chegou por trás”, encostou nela e “no cangote” para intimidá-la.

“Nunca dei liberdade para esse deputado e nem sabia qual era o nome dele, mas ele se sentiu LIVRE para chegar por trás de mim. Ele chegou atrás de mim e falou ‘respeite 40 anos de mandato’. Pois eu peço respeito ao meu primeiro mandato como mulher nessa Casa e não admito que alguém encoste em mim ou fale ao meu ouvido tentando me intimidar, intimidar meus posicionamentos ou o que acredito”, declarou Júlia em um áudio enviado ao Correio.

O episódio ocorreu no fim da sessão da Comissão, quando o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, convidado para falar sobre os atos golpistas de 8 de janeiro e a visita ao Complexo da Maré em março, deixou o local devido a interrupções e brigas entre parlamentares.

Com clima tenso, uma discussão foi iniciada entre bolsonaristas e a deputada Lídice da Mata, incluindo Júlia. Foi no momento do bate boca que Márcio Jerry se aproximou da parlamentar bolsonarista, que classificou o episódio como “absurdo e nojento”.

A assessoria de Júlia afirmou que um boletim de ocorrência foi feito na Polícia Legislativa da Câmara e que o Partido Liberal (PL), ao qual a deputada é filiada, representará uma reclamação contra Márcio no Conselho de Ética da Casa.

Nas redes sociais, a deputada falou sobre o caso e questionou. “Se fosse uma deputada de esquerda e um deputado de direita: já sabem né?”. O mesmo foi feito por colegas do partido, como Eduardo Bolsonaro (PL-SP): ele compartilhou o relato de Júlia e relacionou o ocorrido com um cenário político. “Imagine se fosse o contrário, um homem de direita chegando por trás de uma deputada de esquerda…”, escreveu na publicação. A parlamentar não publicou o vídeo do momento.

Márcio publica vídeo do momento e diz que não ocorreu assédio

O deputado Marcio Jerry (PCdoB-MA) pediu um momento de fala no Plenário da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (12/4), para falar sobre o episódio e afirmou ter sido acusado “levianamente”.

“Fui acusado levianamente de um ato que teria havido ontem na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, que eu teria cometido um ato de assédio a uma deputada com quem dialoguei ponderando a ela em defesa da também deputada Lídice da Mata”, começou. No momento do episódio, as deputadas Júlia e Lídice discutiam.

“Eu disse apenas ‘deputada, respeite a deputada Lídice que tem 40 anos de atuação respeitosa na política brasileira e nessa casa’. Ela prontamente virou e continuamos a dialogar, interrompendo ali aquela conversa sem que tivesse qualquer outro ato, que se acusa a partir de uma imagem congelada, de um frame, para caracterizar aquilo que não houve”, acrescentou.

O parlamentar também publicou, nas redes sociais, o vídeo do momento, que, de acordo com ele, 'desmascara a absurda acusação da deputada bolsonarista’.

Márcio também afirma que desde a acusação de Júlia, ele e familiares têm sido alvo de ataques e ameaças. “Assim eles agem: mentiras para estimular intolerância e violência. Vítima das hordas bolsonaristas que miraram meu perfil em outra rede, tive de fechar os comentários. Implantaram o caos ontem na sessão da Comissão de Segurança da Câmara e quase 24 horas lançam uma fake news absurda”, contou.

Deputada que discutia com Júlia Zanatta no momento do suposto assédio fala em “armação”

Presente no momento em que ocorreu o suposto assédio, a parlamentar Lídice da Mata (PSB-BA) contou ao Correio o contexto do episódio. Durante o depoimento de Dino, Lídice afirmou que estava, “como todos os outros colegas”, participante da sessão e um deputado bolsonarista — que ela não conhece e não soube identificar — passou a, repetidas vezes, pedir calma a ela.

“Se tem alguém que sofreu assédio fui eu. Eu estava sentada, me manifestando como todos os outros, quando um deputado bolsonarista bateu no ombro e disse pra ter calma. Quem é você pra pedir calma? Isso é típico de machismo que caracteriza a mulher como brava. Isso ocorreu mais de uma vez e até um colega sinalizou para trocar de lugar, mas eu disse que não porque eles não iriam me intimidar”, contou ao Correio.

Em seguida, com a saída de Dino, Lídice afirma que todos os deputados se levantaram e começou uma discussão generalizada. Mais uma vez, o deputado bolsonarista insistiu em pedir calma a ela, mesmo com outros colegas alterados.

“Eu viro para ele: ‘mas não tem homem pra mim que irá me mandar cala a boca ou pedir calma’. Aí, ela que estava na minha frente disse: ‘ah homem não pode falar pra ficar calma não? pois então eu sou mulher e estou te falando pra você ficar calma’. Imagina, isso é assédio! E os dois começaram a me intimidar, todos se aproximaram e ficaram em volta de mim”, lembra Lídice.

Foi nesse momento que, segundo Lídice, Márcio se aproximou “e disse que era pra me respeitar porque eu tinha 40 anos de mandato”. Para a deputada, Júlia usa o ocorrido para “se dar bem”.

“O que acontece é que isso é tudo é uma armação, uma artimanha de deputados bolsonaristas, que querem criar na Câmara um ambiente de caos para aparecerem. Com a falta do ambiente democrático, esse tipo de comportamento assume importância e relevância”, pontuou.

Nas redes sociais, a parlamentar Lídice da Mata (PSB-BA) postou um vídeo que mostra um trecho da discussão com Júlia, momentos antes da chegada de Marcio na discussão. “Deputados bolsonaristas se comportam como uma matilha de cães raivosos com ataques furiosos, falta de civilidade e de respeito”. “Uma verdadeira baderna! No passado enfrentei genocidas e fascistas. E agora, farei o mesmo!”, pontuou.