VISITA À EUROPA

"Não sei de quem é a Crimeia. Ucrânia e Rússia que têm de decidir", diz Lula

Ao lado do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, o brasileiro reafirmou ser contra a guerra que atormenta o mundo e que está a favor dos ucranianos, que tiveram territórios invadidos pelos russos

Vicente Nunes - Correspondente
postado em 26/04/2023 10:26 / atualizado em 26/04/2023 10:27
 (crédito: Reprodução / TV Brasil)
(crédito: Reprodução / TV Brasil)

Madri — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a falar da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, assunto que tem consumido boa parte de sua viagem a Europa, devido à polêmica declaração, antes de sair do Brasil, de que tanto russos quanto ucranianos são culpados pelo conflito.

Indagado a quem pertencia a Crimeia, região da Ucrânia anexada pela Rússia em 2014, e Dombass, invadida mais recentemente pelos russos, o brasileiro disse que não cabia a ele decidir quem era o dono de tais territórios. “Não cabe a mim decidir a quem pertence a Crimeia. Isso tem que ser decidido pela Rússia e pela Ucrânia. O que eu sei é que tem que parar essa guerra, pois o dado concreto é que pessoas estão morrendo”, afirmou, ao lado do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, que o recepcionou no Palácio Moncloa.

Para Lula, se nada for feito no sentido de interromper o conflito, para que os dois lados possam se sentar e conversar, com a ajuda de um grupo de países, entre eles, o Brasil, “uma desgraça maior vai acontecer”. Segundo ele, não há ninguém no mundo hoje disposto a falar em soluções para a paz. “Estou falando sozinho, como se estivesse no deserto. Se a Espanha quiser participar de um grupo que busque a paz, será muito bom”, acrescentou.

O presidente disse ainda que, desde que o conflito se iniciou, há um ano, o Brasil se posicionou a favor da Ucrânia. “A Rússia foi o invasor”, frisou, sem citar o nome do presidente daquele país, Vladimir Putin, com o qual o ex-chanceler Celso Amorim, assessor internacional da Presidência da República, conversou pessoalmente.

Apesar de ter reforçado o apoio à Ucrânia, Lula recorreu a uma analogia que ele mesmo considerou não ser a mais apropriada para o caso da guerra. “Quando eu era sindicalista, havia uma greve e pedíamos reajuste salarial de 80%. Mas ficamos sem nada”, ressaltou. Para vários dos presentes no salão do palácio onde ele e Sánchez falaram com a imprensa, a interpretação foi a de que o líder brasileiro indicou que as partes terão de abrir mão de alguma coisa se quiserem, realmente, pôr fim à guerra.

União Europeia e Estados Unidos, os quais Lula disse que estavam estimulando o conflito, afirmam que não há negociação sem a Rússia se retirar de territórios ucranianos. “Entendo a posição dos europeus, pois a guerra se dá em suas fronteiras, e o Brasil está a 14 mil quilômetros de distância”, disse.

ONU falhou

O presidente brasileiro não economizou as críticas à Organização das Nações Unidas (ONU), que, para ele, nada fez para evitar o primeiro conflito em território europeu desde a Segunda Guerra Mundial. “A ONU deveria ter feito várias reuniões extraordinárias para tentar resolver esse problema, mas não o fez. Estamos num mundo muito esquisito, em que países que decidem no Conselho de Segurança são os maiores fabricantes de armas e os que fazem guerras”, assinalou.

Para o presidente, essa realidade só reforça a necessidade de se reformular o Conselho de Segurança da ONU. “O mundo mudou, a geopolítica é outra, a economia mudou. Temos, portanto, de construir um novo mecanismo. A ONU, que já foi forte e, em 1948, criou o Estado de Israel, hoje, em 2023, não conseguir criar o Estado palestino”, frisou. “Há muitos países prontos para entrar no Conselho de Segurança, como Brasil, Japão, Espanha”.

Lula sugeriu também que, ante o enfraquecimento da ONU, os países deveriam repetir o que se fez em 2008, quando o sistema financeiro mundial ruiu após a quebra do banco norte-americano Lehman Brother. Para que a economia global não afundasse, os 19 países mais desenvolvidos do planeta e a União Europeia criaram o G20. “Então, por que não se cria o G20 da Paz?”, questionou o líder brasileiro. “Todos somos contra a guerra. Ela não interessa à Ucrânia, não interessa à Europa, não interessa ao Brasil e não deveria interessar a Rússia”.

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