O "open house" para comemorar os 93 anos do presidente José Sarney marcou a volta da política que, diante de tantos conflitos, busca, inicialmente, distensionar. Primeiro presidente a vestir a faixa presidencial depois da redemocratização, quando se considerava que o fantasma de um golpe militar não estava totalmente dissipado, Sarney mostrou esta semana, e numa segunda-feira, dia em que o movimento político não costuma ser tão intenso em Brasília, que não perdeu o traquejo para promover diálogos e distensões.
A festa permitiu rodas de conversas que, mais à frente, podem inclusive proporcionar, aos principais atores da vez, trilhas para acordos e consensos. No pano de fundo de tantas homenagens ao mais longevo ex-presidente do Brasil, a vontade de muitos de pôr fim ao clima beligerante da polarização política, que arrisca contaminar as votações na Câmara e no plenário.
Pela casa de Sarney, no Lago Sul, passaram o presidente em exercício, Geraldo Alckmin e dona Lu Alckmin, que conversaram demoradamente com o ex-governador do DF Paulo Octávio; ministros do Supremo Tribunal Federal, como Alexandre de Moraes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski, que deixou a toga recentemente.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, maior adversário dos Sarney no Maranhão, fez questão de comparecer para abraçar o ex-presidente que, sem a investidura de cargo ou mandato, já se tornou atos, fatos, palavras e memórias. Também estiveram lá o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Capelli, interinamente no Gabinete de Segurança Institucional; o senador Cid Gomes (PDT-CE); e o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT).
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Bolsonaro ausente
Bolsonaro, que chegou a recorrer a Sarney em busca de conselhos, não compareceu. Preferiu manter-se fora dessa construção política. Afinal, foi um discurso contra a política que garantiu ao então candidato chegar à Presidência da República em 2018.
Estavam lá, porém, muitos que ajudaram Bolsonaro a governar, inclusive dois ex-ministros — a líder do PP no Senado, Tereza Cristina, que ocupou a pasta da Agricultura, e o senador Marcos Pontes (PL-SP), ministro da Ciência e Tecnologia. Este último, por sinal, foi muito assediado para tirar fotos por grande parte dos convidados.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), o procurador-geral da República, Augusto Aras, e o presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas, também foram prestar homenagem a Sarney, todos imbuídos na retomada do diálogo político.
Vozes experientes, como a do ex-presidente Michel Temer, do ex-senador e ex-ministro Romero Jucá, líder de vários governos, e do ex-governador do DF José Roberto Arruda, que já passou por tantos dissabores, se juntavam a personalidades que hoje se destacam na vida nacional.
Em outras rodas, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o deputado Lindbergh Farias, conversavam com integrantes do PP. Eles chegaram quase na mesma hora que o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que, ao circular pelo salão, esbarrou no líder do PP na Câmara, André Fufuca (MA), cotado para ser relator da CPMI dos atos de 8 de janeiro.
Sarney passou a maior parte do tempo recebendo as mais de 500 pessoas que foram prestigiá-lo. Depois das 21h, o anfitrião circulou pela casa, ao lado da filha, a deputada Roseana Sarney, e do filho Zequinha, ex-secretário de Meio Ambiente do DF e ex-ministro. Demonstrava estar mais em forma do que muitos mais jovens, praticando um exercício que o tornou notável: a imensa capacidade de aglutinação das mais diversas forças políticas.
Em viagem oficial, o presidente Lula ligou cedo para cumprimentá-lo. Assim como o presidente de Portugal, Marcelo Rebello de Sousa, que citou Sarney na entrega do prêmio Camões. Também enviaram cumprimentos personalidades de fora do espectro político, como o cardeal-arcebispo de Brasília, dom Paulo Cezar Costa, e o cineasta Luiz Carlos Barreto, o Barretão, 95 anos. Barreto produziu o filme Maranhão 65, dirigido por Glauber Rocha, sobre o então governador José Sarney.
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