Lisboa — O presidente da Assembleia da República de Portugal, Augusto Santos Silva, pediu desculpas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi hostilizado, nesta terça-feira (25/4), pela bancada do Chega, partido de extrema-direita. A legenda levantou cartazes no plenário com os dizeres “chega de corrupção” e interrompeu o discurso do líder brasileiro por diversas vezes com socos nas mesas.
“Peço desculpas. Foi uma honra recebê-lo nesta casa”, afirmou ele. “Consigo, Brasília volta a abrir-se ao mundo, porque, em si, reconhecemos o líder cujas políticas sociais contribuíram decisivamente para a redução da pobreza e das desigualdades no Brasil; porque em si vemos o estadista que se apresentou e venceu eleições livres e que, depois, quando alguns tentaram invadir e derrubar as instituições democráticas, soube defendê-las sem hesitação”, acrescentou.
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Segundo o político, que fez uma reprimenda pública ao partido liderado pelo deputado ultradireitista Andre Ventura, “a Europa necessita do Brasil, e o Brasil conta com o apoio do Parlamento português no reforço dos laços políticos, econômicos e comerciais com a União Europeia”, destacou. Na visão dele, a conclusão do acordo entre o Mercosul e a UE não perdeu relevância, nem oportunidade, pelo contrário.
“Posso garantir o empenho da Assembleia da República, no âmbito das suas competências, para esse fim. O acordo entre a União Europeia e o Mercosul tem um alcance econômico, mas, também, geopolítico, e, como tal, deve ser considerado”, emendou. Lula disse que o acordo deve ser fechado até o fim do ano, pois está dependendo de pequenos detalhes.
Santos Silva enfatizou, ainda, a importância de uma ação conjunta em prol da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que inclui o Brasil. “Esta já não é hoje, apenas, uma organização intergovernamental de concertação político-diplomática e de cooperação, baseada na língua comum. É também um espaço de circulação de pessoas e quer desenvolver um pilar econômico, definindo uma nova escala para as trocas e os investimentos”, frisou. Para ele, com o regresso de Lula ao Palácio do Planalto, uma nova oportunidade se abre para que o Brasil participe com os demais membros da CPLP no esforço de tornar cada vez mais viva e mais forte essa comunidade.
Sectarismo preconceituoso
Filiado ao Partido Socialista (PS), hoje no comando de Portugal, o presidente da Assembleia da República assinalou a relevância de o Brasil ter superado o “sectarismo preconceituoso” que prevaleceu nos últimos quatro anos, durante a administração de Jair Bolsonaro. Um exemplo dessa vitória, segundo ele, foi a entrega do Prêmio Camões ao cantor, compositor e escritor Chico Buarque de Holanda. A honraria havia sido anunciada em 2019, mas o então presidente se recusou a endossá-la. Ao receber a condecoração nesta segunda-feira (24-05), o artista disse que Bolsonaro fez a fineza de “não sujar o diploma com a assinatura dele, deixando o espaço em branco para Lula”.
Ao mesmo tempo em que elogiou o Brasil, sobretudo por manter a democracia viva, Santos Silva cobrou que os governos brasileiro e português trabalhem mais e melhor na cena internacional. “O mundo que ambicionamos, um mundo seguro e sustentável, regulado pelo direito internacional que a todos vincula, um mundo multipolar onde cada nação tenha o seu lugar, um mundo governado por instituições e agendas multilaterais, comprometidas com a paz, o desenvolvimento e os direitos humanos, um mundo cujos conflitos sejam contidos e arbitrados por um Conselho de Segurança a que a presença de novos membros permanentes, entre os quais o Brasil, imprima uma visão mais panorâmica e integrada: esse mundo precisa de Portugal e do Brasil”, disse.
Essa missão conjunta, assinalou o político, é urgente, diante da guerra no Leste da Europa, um conflito sangrento e dramático, cujos efeitos políticos e econômicos são globais. “Desde a primeira hora, e tal como o Brasil, Portugal condena a agressão da Rússia contra a Ucrânia. Condenando o agressor, solidarizamo-nos com o agredido, o povo ucraniano, vítima de massacres e destruições impiedosas e bárbaras. Apoiamos a Ucrânia na luta pela independência e integridade territorial”, ressaltou.
No discurso em que deu boas-vindas a Lula, o presidente da Assembleia da República destacou que é urgentíssimo trocar as armas pelas conversações político-diplomáticas, que ponham fim ao conflito e salvaguardem os interesses legítimos, no caso, os da Ucrânia. “Precisamos, na verdade, falar mais de negociações e menos de batalhas. A condição é simples e depende unicamente da Federação Russa: é o agressor cessar as hostilidades e retirar-se do país soberano que invadiu.
Como membro da União Europeia e da Aliança Atlântica, Portugal participa das ações em defesa do direito internacional, da segurança europeia e da independência ucraniana. Fá-lo na plena consciência de que esta não é uma questão regional, mas global, e que, por isso, importa falar sobre ela com todos os países relevantes, do Norte ou do Sul, do Ocidente ou do Oriente”, disse. “É, portanto, muito útil que seja tema no diálogo entre Portugal e o Brasil, e que, prosseguindo as suas próprias políticas externas, possam convergir a favor da paz".
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