Lisboa — Debaixo de contundente protesto de deputados da extrema-direita na Assembleia da República de Portugal, onde participou de sessão de boas-vindas no dia em que se celebra o fim de uma longa ditadura do país europeu, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a democracia no Brasil viveu recentemente momentos de grave ameaça. Segundo ele, saudosos do autoritarismo tentaram atrasar o relógio em 50 anos e reverter as liberdades conquistadas desde o fim do regime militar.
“Os ataques foram constantes. Os irmãos portugueses assistiram a tudo, preocupados com a possibilidade de que o Brasil desse as costas ao mundo. Mas a notícia que lhes trago é que as forças democráticas brasileiras demonstraram sua solidez e resiliência”, afirmou, sob aplausos da maioria do plenário, que se contrapunha ao movimento do Chega, legenda de ultradireita comandada pelo deputado André Ventura, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Sem dar demonstração de descontentamento ante os ataques sofridos, o presidente disse que tem viajado pelo mundo a fim de reencontrar parceiros do país. “Tenho reafirmado que o Brasil que todos sempre conheceram voltou à cena internacional. Um país que não aceita que o seu povo passe fome e que tem consciência de sua responsabilidade na segurança alimentar mundial, pela diversidade e dimensão de seus recursos naturais. Um país que reconhece na proteção do meio ambiente um dos maiores desafios contemporâneos, e que retoma sua trajetória de forte compromisso com o desenvolvimento sustentável e o enfrentamento da crise climática”, ressaltou.
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Ditadura dos algoritmos
Lula alertou que o mundo tem enfrentado múltiplas crises nas últimas duas décadas. “Temos visto o recrudescimento de ideologias extremistas, impulsionadas pela ditadura dos algorítimos (das redes sociais), que reduzem o espaço para o diálogo e a empatia, propagam o ódio e constrangem a expressão de nossa humanidade”, destacou.
Numa indireta aos deputados que o atacavam no parlamento português — Lula já havia sido avisado sobre esses atos —, chamou de demagogos políticos que, na Europa, dizem não ser políticos e negam os benefícios conquistados no continente em décadas de paz, cooperação e desenvolvimento dentro da União Europeia. “Eu considero a integração resultante da União Europeia um patrimônio democrático da humanidade. E eu vi no Brasil, a consequência trágica que sempre acontece quando se nega a política, se nega o diálogo”, enfatizou, numa clara referência ao governo Bolsonaro.
Para o presidente, o aumento da desigualdade, da pobreza e da fome tornou o atual quadro global mais desafiador. “A crise climática tem se agravado. Mais recentemente, tivemos de enfrentar a pandemia de covid-19 e, paralelamente, fomos atacados pelos vírus da anticiência e do desprezo pela vida humana”, assinalou. A consequência da tragédia provocada por negacionistas durante a pandemia foi a morte de mais de 700 mil. “Metade dessas mortes poderia ter sido evitada não fossem as fake news, o atraso na obtenção de vacinas e a negação da ciência feita pela extrema direita no meu país”, reforçou.
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