O presidente Luiz Inácio Lula da Silva baixou o tom, ontem, em relação às declarações que deu nos últimos dias sobre a guerra na Ucrânia. Em discurso no Itamaraty, na recepção ao presidente da Romênia, Klaus Werner Iohannis, reforçou a posição brasileira adotada nas Nações Unidas, de compromisso com a defesa da inviolabilidade de fronteiras de países soberanos.
"Ao mesmo tempo em que meu governo condena a violação da integridade territorial da Ucrânia, defendemos uma solução política e negociada para o conflito", justificou.
Depois do impacto negativo das entrevistas que concedeu em Pequim e em Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), Lula evitou conversar com a imprensa, ontem, no evento com o presidente romeno — que está em viagem oficial ao Brasil. O país do Leste Europeu faz parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e tem mais de 600km de fronteira com a Ucrânia.
Lula optou por ler um discurso diplomático, em que voltou a demonstrar preocupação com os resultados do confronto entre Rússia e Ucrânia. "Falei da nossa preocupação com os efeitos da guerra que extrapolam o continente europeu. Reiterei minha preocupação com as consequências globais desse conflito em matéria de segurança alimentar e energética, especialmente sobre as regiões mais pobres do planeta", destacou.
Receptividade
O recuo na retórica foi bem recebido por diplomatas brasileiros que acompanham as repercussões das últimas falas de Lula — em especial, a polêmica declaração dada em Abu Dhabi de que "a decisão da guerra foi tomada por dois países", equiparando Rússia e Ucrânia como responsáveis pela deflagração do conflito armado. Essa afirmação, em particular, provocou forte reação de autoridades dos Estados Unidos e da Europa.
Ontem, foi a vez do G7 — grupo formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Reino Unido e União Europeia — divulgar uma dura nota, no mesmo dia em que o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, estava em Brasília, em visita oficial. Após uma reunião de chanceleres, no japão, o colegiado reafirmou a posição de intensificar as sanções econômicas contra a Rússia. E avisou: os países que insistirem no apoio ao governo de Moscou sofrerão "severos custos".
Uma fonte da diplomacia brasileira disse ao Correio que a reação dos EUA e de seus aliados é um recado de que não aceitam novos interlocutores na moderação do conflito com a Rússia. "Estão dando bola preta para Lula, não admitem intermediação que não seja a deles. É uma disputa pela narrativa da guerra", avaliou.
Mas ponderou que, no campo da diplomacia profissional, o tom é bem mais moderado. "Na diplomacia de Estado, a situação é sempre mais amena, e a tendência é essa mesma, a de baixar o tom", explicou, recomendando, porém, que Lula module suas declarações para "evitar mais ruídos".
Um embaixador de primeira classe, que esteve com Lula na viagem à China e aos Emirados Árabes Unidos, foi na mesma linha. Disse que, apesar das declarações dos últimos dias, a posição oficial brasileira permanece exatamente a mesma que adotou ao votar a favor da resolução da ONU que condenou a invasão russa, em fevereiro. "O que vale, para nós, é a posição que adotamos nas Nações Unidas. Não são declarações esporádicas", afirmou.
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