Medicamentos de alto custo usados no tratamento de doenças raras foram incinerados durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ao todo, esses remédios custaram pelo menos R$ 13,5 milhões aos cofres públicos. Levantadas por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), as informações sobre produtos do Ministério da Saúde incinerados desde 2019 foram publicadas pela Folha de S. Paulo nesta quinta-feira (16/3).
Na relação obtida pelo jornal, há duas doses do medicamento Spinraza, cada uma comprada por R$ 160 mil pelo governo federal. Usada para pacientes com atrofia muscular espinhal (AME), o uso do Spinaza é uma das terapias mais caras do mundo. Deixar de tratar a AME pode levar o paciente à morte.
Ainda entre os medicamentos para doenças raras, a relação mostra o descarte de 949 unidades do Translarna, produto usado para pacientes com distrofia muscular de Duchenne. Ao todo, o lote descartado custou R$ 2,74 milhões. O governo Bolsonaro também incinerou medicamentos para diferentes tipos de mucopolissacaridose. O lote queimado é avaliado em R$ 2,9 milhões.
O material obtido pela Folha de S. Paulo também mostra que, até o começo deste ano, o Ministério da Saúde deixou vencer 39 milhões de vacinas contra a covid-19. Além dos imunizantes contra o coronavírus, a pasta perdeu doses para prevenir casos de sarampo, hepatites, tríplice viral, além da vacina pentavalente e de medicamentos contra o câncer, hepatite C e outras doenças.
Também foram inutilizados testes e medicamentos destinados a pessoas que vivem com HIV avaliados em R$ 8,5 milhões.
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Descaso
O Ministério da Saúde, sob gestão da atual ministra Nisa Trindade, afirmou, de acordo com a Folha de S. Paulo, que a perda dos medicamentos é um "desastre" e que haverá um pacto com estados e municípios para evitar descartes de medicações.
Gestão anterior
O jornal também procurou os três ex-ministros da Saúde que assumiram a pasta durante o governo do presidente Bolsonaro. O ex-titular da Saúde Marcelo Queiroga afirmou que não tem dados sobre estoques e que essas informações ficam sob cuidado das áreas técnicas.
Primeiro ministro da Saúde de Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta disse que o período em que comandou a pasta houve esforço para adequar a gestão dos estoques para centralizar os produtos em uma central localizada em Guarulhos, em São Paulo. Ele disse ainda que muitas compras são feitas por estimativa de demanda, como em campanhas de vacinação, e que o uso depende da adesão da população.
Segundo ministro da Saúde na presidência de Bolsonaro, o atual deputado federal Eduardo Pazuello não se manifestou.
Confira a lista de medicamentos perdidos:
Translarna
Tratamento: distrofia muscular de Duchenne
Unidades incineradas: 949
Valor: R$ 2,74 milhões
Betagalsidase
Tratamento: doença de Fabry
Unidades incineradas: 259
Valor: R$ 2,46 milhões
Eculizumabe
Tratamento: hemoglobinúria paroxística noturna
Unidades incineradas: 127
Valor: R$ 1,73 milhão
Vimizim
Tratamento: mucopolissacaridose IVA
Unidades incineradas: 632
Valor: R$ 1,61 milhão
Galsulfase
Tratamento: mucopolissacaridose VI
Unidades incineradas: 283
Valor: R$ 1,24 milhão
Alfagalsidase
Tratamento: doença de Fabry
Unidades incineradas: 272
Valor: R$ 1 milhão
Metreleptina
Tratamento: síndrome de Berardinelli-Seip
Unidades incineradas: 47
Valor: R$ 1,1 milhão
Idursulfase
Tratamento: síndrome de Huner
Unidades incineradas: 186
Valor: R$ 985 mil
Nusinersen (Spinraza)
Tratamento: atrofia muscular espinhal (AME)
Unidades incineradas: 2
Valor: R$ 319 mil
Nitisinona
Tratamento: tirosinemia hereditária do tipo 1
Unidades incineradas: 1.200
Valor: R$ 229 mil
Alentuzumabe
Tratamento: esclerose múltipla
Unidades incineradas: 2
Valor: R$ 56 mil
Kanuma
Tratamento: deficiência de lipase ácida
Unidades incineradas: 1
Valor: R$ 23 mil
Total: R$ 13,5 milhões
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