Permeado pelo debate sobre a reforma tributária e a reoneração dos combustíveis, o Congresso Nacional tem atuação essencial na busca pela redução do impacto das medidas do governo no bolso do consumidor. No início do mês, após impasse entre a ala política e a ala econômica, o governo anunciou a reoneração parcial dos combustíveis com a incidência do PIS/Cofins (Programa de Integração Social/Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) e a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico). Com o fim da isenção dos tributo, elevando o preço da gasolina em R$ 0,47 por litro, enquanto o do etanol subirá R$ 0,02.
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Um dos nomes que atuou diretamente nessa frente durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi o deputado Danilo Forte (União-CE), que foi relator e autor de propostas sobre o assunto. Forte defende que o assunto seja inserido nas negociações da reforma tributária, para que o consumidor não sinta tão fortemente os impactos da inflação. “É difícil você encontrar um estado do Brasil que tenha subido menos de R$ 1. Porque uma coisa é na Petrobras. Aí chega na distribuidora, e depois vai pro posto. Tudo isso você vai onerando, refletindo, e tem a incidência do imposto, dos custos de operação dos postos e da distribuidora, e tudo isso vai num somatório”, explica.
Forte pontua a falta de celeridade do governo Lula em destravar debates e os trabalhos nos ministérios. “Quando você tá fazendo discurso de pacificação, acirrando e dividindo a sociedade, você não chega a lugar nenhum. (...) Não é com esse estímulo a disputas internas e esse festival de pré-candidato a sucessor dele. Isso vai com certeza naufragar o governo. Naufragando o PT agora, não é como naufragou com a Dilma, porque o Lula estava no banco de reservas. Agora naufraga com ele, que é o capitão”, alerta.
Confira os principais pontos da entrevista.
Como o senhor avalia a reoneração dos combustíveis pelo governo?
Eu acho que o governo ligou a chave da inflação. Se tem uma coisa que tem um sentimento direto e uma popularidade nacional é a gasolina. Tanto é que é o único item de combustível que faz parte do rol dos índices do IPCA. Então você vai apurar o IPCA no combustível está lá a gasolina. Quando o governo aumenta a gasolina depois a gente já ter inclusive precificado esse custo pro orçamento deste ano. Depois que a gente já tinha colocado no orçamento deste ano uma previsão de R$ 52 bilhões para suprir o benefício da isenção para gás de cozinha, GNV, diesel, gasolina e álcool, e o governo não tem mais votado em nenhum momento durante a PEC da transição essa possibilidade de duas uma: ou eles dormiram no ponto lá ou eles dormiram no ponto depois. Quando o governo reonera, isso tem um efeito imediato, já tem vários casos inclusive aumentando a passagem de ônibus, já tem vários estados aumentando o ICMS dos combustíveis, onze estados aumentaram e isso cria um ciclo inflacionário inevitavelmente. E no momento de desajuste da economia qualquer perspectiva inflacionária é muito ruim. Em um país em que quem ganha R$ 1.900, um salário e meio por mês, tá pagando imposto de renda, qualquer mudança que possa desequilibrar ainda mais em desfavor do consumidor é muito ruim. Eu acho que o governo errou quando não alertou para o problema, passou a vontade durante a PEC da transição e errou de novo quando tomou a decisão de reonerar. Com essa reoneração vai exatamente criando todo esse transtorno e essa dificuldade que nós estamos vivendo.
Essa medida provisória dos combustíveis, que vence em junho, o senhor acha que ela vai ser empurrada pra lá e não vão mexer nela até que chegue a data?
É porque enquanto não mexe o governo está faturando.Nessa ânsia arrecadatória que o Governo está… Você teve o melhor mês de janeiro de arrecadação federal dos últimos dez anos. A economia do país é pujante, é muito grande. Então mesmo com todas as dificuldades o governo está seguro. O que não está seguro é o da população, principalmente da classe média e da baixa renda, porque essa não tem pra quem transferir. Esse é o problema, e inclusive piora a questão da relação com a taxa de juros, porque quanto mais estabilidade, mais insegurança e mais insegurança aumenta a taxa de juros. Isso em qualquer lugar do mundo. A falta de uma proposta mais clara que a gente pensava que era só no processo eleitoral… Porque o governo foi eleito na bandeira da democracia, na defesa da democracia, mas sem nenhuma proposta para economia, a gente pensava que isso ia se exaurir com o processo da transição. O que a gente está percebendo é que isso está permanecendo. Tanto é que na própria questão da reforma tributária, o governo não fez nenhuma proposta nova. O que está se discutindo é o que já estava no Congresso, tanto a 110, quanto a 45. E isso inclusive criando aí também uma preocupação muito grande no próprio setor empresarial, que é quem paga o maior volume de impostos, por quê? Porque eles não sabem o que é que vai valer mesmo. É a 45, a 110.
O governo diz que vai fazer uma mistura das duas…
O governo poderia ter sido mais consistente no combate à evasão fiscal. Porque tem uma evasão fiscal muito grande no Brasil. Esse negócio dos jogos, dos bets, tem uma evasão fiscal violenta. A própria questão das big techs, do comércio internacional. O comércio internacional tá quebrando o varejo. Antigamente a preocupação era com o comércio internacional no atacado. Agora é no varejo. Então a roupa da China está chegando sem nenhum imposto. Muito mais barata do que a roupa do comércio vendido na loja. Os shopping centers estão virando praça de alimentação. A reforma tributária deveria ser a pauta primeira que o Governo deveria estar se empenhando para fazer.
Mas há um discurso de que estão, de que a reforma é a prioridade…
Mas com as medidas provisórias ninguém viu isso, né? E com a formatação do debate no Congresso Nacional, ninguém viu ainda nenhuma propositura clara por parte do governo.
Além disso, essas duas propostas não são tão atuais e elas precisariam ser revistas. As próprias roupas que vem da China, por exemplo. As compras online aumentaram muito na pandemia.
Mudou a forma das pessoas viverem, a disciplina que as pessoas tinham. Tudo isso criou um novo ambiente nas redes sociais e essas redes sociais é por onde está passando a economia em boa parte. Precisa ser analisado desse ponto de vista. E outra coisa também que me preocupa é uma punição muito severa em setores sociais, como inovação e como pesquisa, que não podem ser punidos, né? Dentro dessa atualização também eu acho que ele tem que diferenciar o que é evasão, o que é o comércio que está se deixando de contribuir, pagar impostos e o que é aquilo que também precisa ser priorizado do ponto de vista do estímulo do país. Porque se não houver inovação, o Brasil para no tempo. Nós já estamos com uma economia muito fragilizada. Os nossos principais produtos ainda são produtos primários da época do Brasil Colônia, é a exportação do agro, de minério. Nós temos um viés muito grande pra isso, porque hoje nós produzimos a energia mais barata do mundo e a energia mais limpa do mundo. O Brasil que hoje é o país que mais produz energia limpa no mundo, 92% da nossa matriz energética em janeiro foi de energia limpa, renovável, poderia também ser o maior produtor de produtos verdes do mundo.
Nessa linha, pensando nos biocombustíveis também, temos um governo que teoricamente defende, mas não vimos nenhuma movimentação em torno disso. Algumas empresas emitiram uma nota criticando o biodiesel.
O problema dos biocombustíveis tem duas naturezas: uma tem um avanço na diminuição da emissão de carbono, o que é positivo, né? Mas também tem a questão da produtividade, que ela é insegura ainda diante do volume do consumo de combustíveis. Então, por exemplo, você aumentar o biodiesel, de 10, para 15 ou para 20 na participação do diesel, você tem que ter a garantia da produção. Essa garantia não temos. Tem que ter uma compatibilidade entre o que se produz e o que se deve consumir. Tem que compatibilizar essa equação preço, para que também não onere demais o combustível pelo volume do consumo. É uma equação que ainda precisa ser melhor elaborada. Lógico que é um avanço e defendo ele. O mesmo acontece com a energia. Hoje o Brasil tem excelente energia. Dois anos atrás a gente estava na crise hídrica e estava faltando energia. Houve um crescimento muito grande na produção. Só a energia solar já tem de potência gerada 26 gigas, coisa que há três anos não tinha 2. A eólica hoje tem 18 gigas, coisa que há dez anos não tinha 5. Tem um mundo incalculável para avançar, só que a gente precisa saber onde vai botar essa energia. Tem que ter política de atração do mercado livre e desfazer esses últimos entendimentos da Aneel, que gerou insegurança jurídica quando ela muda a cobrança da tarifa de transmissão. Tem que fazer uma racionalização para conseguir inclusive fortalecer o segmento no Brasil. Até para diminuir o desequilíbrio regional, que é tão falado, o caminho é energia do sol e do vento.
Voltando a falar de combustíveis, muitos postos subiram o valor acima da reoneração…
Por causa do reflexo inflacionário que eu lhe falei. Cria aquela mentalidade. Na prática o governo falava que ia subir R$ 0,47 da gasolina. É difícil você encontrar um estado do Brasil que tenha subido menos de R$ 1. Porque uma coisa é na Petrobras. Aí chega na distribuidora, e depois vai pro posto. Tudo isso você vai onerando, refletindo, e tem a incidência do imposto, dos custos de operação dos postos e da distribuidora, e tudo isso vai num somatório.
E isso reflete nos outros produtos.
Inclusive diminui a atividade econômica. É uma medida não só inflacionária, como é recessiva. Os motoristas de aplicativo e táxi estavam ganhando mais.
O senhor avalia que foi um retrocesso em relação às propostas que foram aprovadas com sua ajuda no Congresso, como a PECs dos benefícios e a que limitou o ICMS dos combustíveis?
Foi um retrocesso porque no ano passado o que segurou a inflação e que garantiu o desenvolvimento econômico do país, foi a gente ter avançado na redução dos impostos, tanto na gasolina quanto da energia. E tem esse problema da bitributação, que o Supremo analisou que pode cobrar ICMS na transmissão e na distribuição da energia, que é um fato explícito de bitributação. A energia é um bem único. O produto que você recebe na sua casa, na sua empresa é energia e você não pode tributar duas vezes no mesmo produto, né? Essa ânsia arrecadatória dos governadores, que por sinal nenhum Estado do Brasil teve queda absoluta de arrecadação no ano passado, muito pelo contrário: quando você soma a arrecadação dos estados com as transferências do governo federal muitos tiveram foi crescimento além da inflação. Você cria um ambiente também desfavorável pro crescimento econômico.
O mesmo acontece no ICMS?
Sim. Eles não fizeram a inconstitucionalidade e aí os governadores aumentaram o modal, e aumenta o modal da cesta básica porque a gasolina está na cesta básica. Então isso pode inclusive gerar o processo inflacionário até nos produtos essenciais, como arroz, feijão, farinha. Por enquanto não está aumentando a alíquota nos outros produtos, aumentaram só nos combustíveis e na energia, mas abre precedente jurídico para isso, né? E era o que exatamente a gente não queria fazer na lei, porque na lei inclusive a vitória foi tamanha e que estado que cobrava 34% do ICMS e passou a cobrar 17%, e quem ganhou com isso foi a população. Eu descobri, com essa luta nossa para rebaixar os impostos e para arrefecer o ambiente econômico, a dificuldade que é você fazer esse enfrentamento, porque os governos, em nenhum momento falam em cortar gastos. Se cria mais despesas. Os estados são muito bons em aumentar a despesa e não são tão competentes em corresponder a eficiência do gasto público. Isso também passa por essa equação da eficiência dos estados, é o bolso do consumidor que paga.
Houve muitas críticas sobre sua sugestão de que consumidores participem do conselho fiscal das agências reguladoras. Até mesmo foi dito que era um jabuti na proposta…
Na Europa, a grande maioria dos países criaram seus conselhos fiscais com a sociedade. Os Estados Unidos delegaram ao Congresso Nacional o poder de fiscalizar as agências. Imagine você se eu tivesse delegando ao Congresso Nacional essa missão. Eu não estou, eu estou querendo que as comissões temáticas do Congresso Nacional aprovem uma comissão de fiscalização tripartite, com representante das empresas, com representantes dos consumidores e com o representantes das universidades, dentro das comissões temáticas do congresso, aprovando esses nomes, para criar um conselho fiscal para analisar a tomada de decisão das agências, no que diz respeito a execução do mérito da regulação que elas são obrigadas a fazer. Não estou aqui querendo que esse conselho fiscal vá definir mérito, nem vá normatizar o que as agências têm que fazer. Quero que eles fiscalizem as ações desses diretores com relação aos seus comportamentos. E fica uma ânsia muito grande na defesa dos interesses das empresas em detrimento dos interesses do consumidor. E no serviço público, onde tem serviço público, tem que ter transparência e fiscalização. Ninguém quer usurpar o poder das agências, elas têm um papel importante. Mas elas não podem fiscalizar só para proteger as empresas.
Em que pé anda essa discussão no Congresso?
Estou esperando a medida provisória chegar na Câmara para fazer o debate, para ir para aprovação. A expectativa então é que em breve isso ande. Tem que andar o mais rápido possível. O congresso está muito paralisado. Essa paralisia se deu exatamente dessa falta de iniciativa, de protagonismo do Governo, que tá muito ainda no palanque, tá muito olhando pra trás. Ele precisa entender que tem que gerir o país, né? E não ficar no mesmo comportamento que o Bolsonaro tinha. Tem pessoas do atual governo que repetem esse comportamento.
Qual comportamento seria esse?
De ficar num discurso político, muito no questionamento do comportamento do governo anterior, e menos da proposição de resolver os problemas que o governo anterior deixou. Quem assume o governo sabe que tem que assumir responsabilidade.
Falta pauta então.
Falta esse protagonismo de pauta e celeridade na pauta. Por exemplo, já está passando da hora do presidente chamar o presidente da Câmara, o presidente do Senado, para tomar uma decisão sobre o encaminhamento das medidas provisórias. Não pode ficar do jeito que está, com o presidente do Senado sentado em cima e a sociedade esperando. Isso tem uma conta. Tá aí a conta dos combustíveis. Está aí a conta da promessa da reforma administrativa. E eu acho que a gente está passando, já neste momento, nós estamos no terceiro mês de governo. E o governo até agora ainda não teve uma pauta clara. Cadê a âncora fiscal. Se o governo quiser esperar constituir uma base carimbada para poder dar celeridade aos processos isso ele não vai conseguir. Principalmente no modelo de governo de coalização que ele quer fazer de toma lá dá cá. Esse método já mudou. O congresso aumentou a sua autonomia. O congresso hoje é um congresso mais conservador e mais liberal e ele vai discutir em cima dos projetos. Então tem que construir consenso em cima da medida provisória, em cima dos projetos, em cima das reformas que o governo quer fazer. E não ficar esperando uma base carimbada, com camisa de time que não vai vim.
O presidente Lira chegou a apontar isso em uma fala semana passada, dizendo que não há base para votação do governo.
É uma base que vota em cima das propostas. O Brasil todo clama por uma reforma tributária. O Brasil sabe que precisa de uma reforma administrativa, né? Então o governo tem que dar celeridade a isso, porque senão já já o povo volta pra rua. Ainda tá o trauma do oito de janeiro que foi o pior dia da história republicana do país, porque quem fez oito de janeiro se arrependeu, e a motivação do 8 de janeiro transformou em vítima quem deveria tá sendo inclusive questionado. Essa figura deu uma paz pro novo Governo mas uma parte que se exaure diante dos fatores da economia. A gestão do Governo Federal é fundamentalmente uma gestão econômica. O que derruba o governo é a economia. É o bolso. Então se a gente não se antecipar os quatro nós vamos ter problema muito sério no Brasil, um país riquíssimo, um país continental, mas ninguém quer ser o país do futuro, a gente quer ser o país do presente, e está passando da hora. Nós temos uma oportunidade econômica e geopolítica que nos favorece, daí o mundo todo olhando pra cá, agora precisa nós aqui dentro sendo capaz de sentar e construir o consenso.
E a base do União Brasil como ficou, após as crises com os ministros que vieram do partido. Isso abalou um pouco a confiança internamente?
O União Brasil não foi vocacionado para ser governo. Com toda a segurança, mais de 75% dos deputados do partido não votaram no Lula. Então o povo que votou no Lula não votou para ser assecla, para ser um penduricalho.
Mas o partido está na cara do governo…
O processamento das escolhas foi muito individualizado. De fora pra dentro e de cima pra baixo. Não houve nenhuma deliberação, nem da executiva do partido, nem da bancada da câmara, nem da bancada do Senado que ia participar do governo e que ia indicar A, B ou C. Tanto é que pela primeira vez na história do Brasil eu vi alguém indicar sendo de um partido e nem filiado a ele o é. Como é o caso do Waldez, que diz claramente que nem do PDT vai sair. Isso até um deboche querer usar o nome do União Brasil pra dizer que ele é um ministro do partido, indicação do partido. Não é. Segundo, o União Brasil tem um nível de debate muito bom, é um parceiro que tem muitos ex-ministros, ex-governadores, governadores. O partido tem uma história a partir da vida do DEM, que tem uma história da república brasileira. E que gosta do debate. Se o Governo apresentar uma pauta e dentro dessa pauta conseguir construir um consenso nas reformas, o União Brasil vota. Inclusive vota por unanimidade. Uma reforma tributária que não seja pra aumentar imposto. Que seja pra simplificar e pra dinamizar a atividade econômica. Eu aqui aposto que 100% do partido vota. Agora se for pra em função do toma lá dá cá, entregar os votos pro governo, está equivocado quem pensa assim E equivoca-se o governo pensando que com os ministros que tem lá que são filiados ao Brasil tem a garantia dos votos. Não vai ser a forma incondicional de apoio. Vai ser um apoio em cima das temáticas.
E o União Brasil é uma composição partidária ainda nova…
Dentro dessa conjunção, o União Brasil ainda tem que se firmar com o partido político. Porque no primeiro momento foi um aglomerado. Os que estavam no PSL, os que estavam no DEM e os que estavam, né? Querendo um partido para se viabilizar eleitoralmente que vieram inclusive de outros partidos. Esta harmonização se dá em cima de pauta, em cima de proposta. Ela não vai se dar porque o ligado a não sei quem é ministro ou ligado na Fulana é ministro. Isso aí não pode ter certeza.
Mas a forma como o PT conduziu a crise. Principalmente com Juscelino. Pegou mal do ponto de vista do partido?
O Juscelino é muito querido na bancada, né? Pelo estilo dele, pelo comportamento dele. Agora isso não é nenhuma garantia de voto. É uma garantia de uma simpatia, de uma conversa, do diálogo. As mesmas pessoas que são os mais amigos do Juscelino na bancada, não vão se dobrar para uma matéria do governo porque o Juscelino defendeu.
O senhor avalia que houve atuação ruim do PT diante dessa crise?
Eu acho que foi um erro de formatação desse governo, da coalizão, porque não é só o União Brasil que tá reclamando, o MDB tá reclamando, o PSD tá reclamando, todos os partidos tão reclamando. Porque foi muito na velha política, né? O PT saiu do sindicalismo pro patrimonialismo. Ele está enxergando o governo muito como o dono do governo. E como dono da governabilidade. Atendendo aos coronéis políticos de antigamente. E não é mais assim. Essa formatação tá equivocada. Essa tá coisa pior do que essa indicação da mulher do ministro da casa civil, do Tribunal de Contas da Bahia? Isso é muito triste, né? Um partido que se dizia revolucionário, socialista, como que vai justificar isso? A forma como o PT tá fazendo tá muito distante do diálogo que precisa ser construído, né? Precisa de mais humildade, precisa de proposta, precisa de diálogo, precisa ouvir as bancadas e não ficar na forma no modelo antigo. Hoje a comunicação é muito direta, você conversa com todo mundo ao mesmo tempo pelas redes sociais. Então o chamamento para um debate de uma proposta e o partido sabe fazer isso. Padilha é o cara que vem de uma assembleia aí, vem do ele sabe fazer isso. Como tem muita gente também dentro do próprio governo que tem uma condição de criar uma pauta e de criar um projeto. Agora eu acho que o governo, como está muito cheio de candidato a Presidente da República, tem oito candidatos dentro do PT, cada um quer um protagonismo para si e ninguém tá cuidando do Governo, eu acho que inclusive é uma coisa que eles tem que resolver internamente.
Em relação ao ministério de Minas e Energia, o ministro Alexandre Silveira não conseguiu nomear muitas pessoas para a pasta. Isso está atrasando as pautas?
Isso é um reflexo da formação do Governo. É o mesmo problema, porque o Governo que tá contextualizando tudo no pra cá, tudo no sentimento patrimonial de gestão, é incapaz de entender que tem que levar a sério a meritocracia, não pode ficar só no discurso. As estruturas administrativas têm que ser fundamentais, inclusive, para a própria gestão e assistência das pastas.Um ministério complexo, como é o ministério de Minas e Energia não funciona se não tiver uma equipe muito boa e muito séria.
E tem que ser de confiança dele.
E muito comprometida com o projeto. Porque se você vai colocar uma pessoa lá para fazer lobby, representar interesses escusos lá dentro, qualquer coisinha ali é um prejuízo muito grande pro país. Um país que é o maior produtor de energia limpa e renovável do mundo. Um país que tem ainda um espaço muito grande na mineração. Um país que precisa regulamentar a mineração, inclusive em terra indígena, o que tem muito indígena que quer. Os índios estão empobrecidos, miseráveis. E por outro lado, a gente vê uma exploração predatória da como está sendo feita. Então, você poderia até criar um fundo, fazendo uma coisa bem feita, uma coisa estudada, planejada.
Essa crise interna pode atrapalhar o andamento de um diálogo mais efetivo?
Com certeza, eu acho que até o próprio ministro fica diminuído do tamanho da importância e da capilaridade que tem o ministério dele. Você vai olhar a esplanada, a grande maioria dos ministérios ainda tão sem as suas equipes administrativas de comando. Não estou nem falando da base, que é o reflexo dessas estruturas dos estados. Eu tô falando inclusive da cúpula. Todo mundo tinha uma expectativa que o PT ia chegar bombando. Porque experiência política mais do que o Lula tem é difícil encontrar alguém no Brasil que tenha. Ele é um craque. Agora eu pensava que ele ia chegar já dinamizando uma atividade administrativa e tem gente lá que sabe fazer. Agora eu acho que como ele priorizou a política, isso atrapalha muito.
E a respeito dos acordos dos estados com o Ministério da Fazenda, o senhor tem acompanhado? Em relação a combustíveis e energia?
O foco saiu da Fazenda e foi pro Supremo Tribunal Federal, né? No Supremo Tribunal Federal os estados ganharam espaço para aumentar as alíquotas, e paralelamente com isso aumenta as suas arrecadações e ganha o espaço na questão da bitributação da energia, o que é equivocado. Os governadores estão muito afoitos e muito incisivos nessa questão, mas se ele for levar ao pé da letra e estudar suas planilhas de arrecadação, não houve aquela queda de arrecadação abrupta na arrecadação total dos estados do ano passado. Inclusive na grande maioria deles, foi superior ao ano de 2021. Esse discurso de dizer que a nossa lei quebrou os estados e que houve queda da arrecadação total não, houve queda da arrecadação dos itens que estão na lei. E nós demos inclusive um espaço quando a gente fez a previsão da compensação para eles fazerem uma reengenharia tributária, para que pudessem reacomodar os impostos e rever a questão de corte de custo, mas nenhum fez.Todos eles fizeram foi aumentar o custo. Esse aumento de ministérios no Governo Federal estimula os governos estaduais e também aumentarem o número de secretarias.
A reforma tributária consegue atender algumas questões dos estados nesse sentido?
Eu acho que a firmeza do presidente Lira, ele foi muito claro, que nós vamos fazer a reforma tributária. Eu acho que a reforma nesses seis primeiros meses de governo sai. E acho que o governo é que precisa definir como é que ele vai fazer essa construção. Porque a vontade do Congresso Nacional tanto Câmara como Senado é fazer. Mais de 70% querem a reforma fazer a reforma tributária, porque tá todo mundo vendo que hoje esse modelo tributário foi superado pela pela modernidade.
Muito se fala que a reforma será votada até maio. O senhor acha possível?
Eu acho que sim, até porque o grupo já pegou um debate que já vem de muito tempo. O Aguinaldo, nosso relator, já inclusive teve essa experiência de há dois anos. O que precisa é só atualizar com as questões da tecnologia da informação, para os segmentos que ainda não estavam dentro da base econômica do país. Nós não podemos transformar a esperança num tédio. Eu acho que o Brasil votou na sua maioria, apesar de pequena no Lula, numa expectativa muito grande que ele voltasse dentro da linha do que foi Lula um e Lula dois, né? E não na expectativa que ele voltasse a Dilma dois,. Então ele precisa fazer um freio de arrumação o mais rápido possível para não perder o controle do processo, porque o que ninguém quer nesse momento é uma crise institucional, ou uma recessão capaz de inviabilizar um país com o potencial que o Brasil tem. Focar no desenvolvimento social é importante? É. Mas ter a clareza do desenvolvimento social sustentável só existe com o desenvolvimento econômico.O discurso da pacificação não é só palavra, não são só palavras, ele é a prática. E quando você tá fazendo discurso de pacificação, acirrando e dividindo a sociedade, você não chega a lugar nenhum. O Brasil precisa se encontrar na média do pensamento. A virtude está no meio. O governo precisa entender isso e acho e reafirmo que o presidente Lula tem vivência e experiência, sapiência para conduzir esse processo. Agora não com esse estímulo que ele está fazendo a disputas internas né e esse festival de pré-candidato a sucessor dele. Isso vai com certeza naufragar o governo. Naufragando o PT agora, não é como naufragou com a Dilma, porque o Lula estava no banco de reservas. Agora naufraga com ele, que é o capitão.
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