Apesar de desgastada, a Operação Lava-Jato ainda existe oficialmente. À frente dela está o juiz Eduardo Appio, titular da 13ª Vara Federal de Curitiba desde 7 de fevereiro, que, ao assumir, anunciou que adotará um perfil diferente daquele dos tempos de Sergio Moro. Isso, porém, não impede que grupos políticos se digladiem: de um lado, há os que desejam sepultar a operação; de outro, aqueles que pretendem mantê-la viva e, se possível, ressuscitar aquele espírito que colocou vários chefes de empreiteiras atrás das grades e chegou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os lavajatistas estão na iminência de sofrerem mais um sério revés — depois do afastamento, na semana passada, do juiz Marcelo Bretas, do braço carioca da operação, por decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em entrevista à BandNews, que foi ao ar na quinta-feira, Lula sinalizou que pode indicar seu advogado, Cristiano Zanin, para a vaga a ser aberta com a aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal federal (STF), possivelmente em maio. O defensor do presidente foi fundamental para que o STF anulasse as condenações impostas por Moro — a Corte acolheu os argumentos e reconheceu a incompetência e parcialidade do então juiz.
No sentido oposto, há aqueles que trabalham para a volta da "velha" Lava-Jato. O Ministério Público Federal (MPF) do Paraná entrou com uma representação contra Appio e pediu à Justiça sua suspeição. A procuradora Carolina Bonfadini de Sá disse que o magistrado teria adotado a assinatura "LUL22" para acessar o sistema do Judiciário. Além disso, citou uma doação que ele fez à campanha do presidente.
Notícia-crime
Em 28 de fevereiro, deputados de oposição ao governo encaminharam uma notícia-crime contra Eduardo Appio ao diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Passos. O argumento é que o juiz fez doações eleitorais não apenas para a campanha presidencial de Lula (de R$ 13), mas também para a vereadora curitibana Ana Júlia Pires Ribeiro (PT), no valor de R$ 40, que no ano passado tentou uma vaga para a Assembleia Legislativa paranaense — e não se elegeu. O magistrado negou que tenha contribuído com as duas candidaturas.
A representação foi assinada por, entre outros parlamentares, o deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR) — chefe da força-tarefa do MPF na Lava-Jato e responsável pela acusação contra Lula.
Na avaliação do professor de estudos brasileiros da Universidade de Oklahoma (EUA) Fabio de Sá e Silva, o papel do Judiciário e do Ministério Público no combate à corrupção não pode mais ser superestimado, como foi na Lava-Jato. "Não podemos mais ter juiz que vaza áudio com finalidades políticas, nem promotor que faz coletiva vexatória com PowerPoint. A população precisa cobrar em vez de endeusar juiz e promotor", criticou.